terça-feira, 6 de agosto de 2013

Estudo conclui que existem traços ligeiros de autismo em raparigas com anorexia

Um estudo realizado com raparigas anorécticas revelou que estas manifestaram comportamentos com características ligeiras de autismo, o que pode abrir caminho a novos métodos de tratamento de pessoas que sofrem deste distúrbio alimentar. Segundo Simon Baron-Cohen, que liderou a equipa do Centro de Investigação de Autismo da Universidade de Cambridge, que realizou o estudo, “a mente de uma pessoa com anorexia pode partilhar muito com a mente de uma pessoa com autismo”.

Para esta investigação foram analisados dois grupos de adolescentes. Um com 66 raparigas com anorexia confirmada clinicamente, com idades entre os 12 e os 18 anos. Um segundo grupo era formado por 1609 adolescentes sem o distúrbio alimentar, com o mesmo intervalo de idades. Ambos foram submetidos a testes de medição dos quocientes do espectro de autismo, de sistematização e de empatia.

Quando comparadas com raparigas sem qualquer perturbação no quociente do espectro de autismo, as adolescentes anoréticas mostraram um número de traços autistas acima da média. O mesmo se passou ao ser analisado o seu interesse em repetição de padrões e sistemas com regras previsíveis. Ficaram, no entanto, abaixo da média quanto à empatia, uma característica semelhante, ainda que menos pronunciada, ao verificado em pessoas com autismo.

Segundo o estudo, divulgado esta terça-feira, estas conclusões sugerem que as duas disfunções podem ter em comum traços subjacentes.Simon Baron-Cohen, citado no comunicado publicado pela Universidade de Cambridge, sublinha que “tradicionalmente, a anorexia tem sido vista apenas como um distúrbio alimentar”. O especialista em autismo diz tratar-se de uma conclusão “razoável”, uma vez que “o perigo do baixo peso e o risco de malnutrição ou mesmo morte tem que ser a principal prioridade” em casos de anorexia.

Mas Baron-Cohen argumenta que há novos dados que podem mudar a forma como deve ser abordado um determinado caso de anorexia. “Esta nova investigação sugere que subjacente ao comportamento superficial, a mente de uma pessoa com anorexia pode partilhar muito com a mente de uma pessoa com autismo”.

Semelhanças

O investigador realça depois algumas semelhanças encontradas no estudo, nomeadamente o facto de na anorexia e no autismo existir “um forte interesse em sistemas”. No caso das raparigas com anorexia, estas adoptam sistemas rotineiros centrados no peso, alimentos ingeridos e estrutura do corpo. Surgem assim traços semelhantes quanto à existência de comportamentos e atitudes rígidas ou a obsessão com os detalhes.

Bonnie Auyeung, um dos elementos da equipa que realizou o estudo, sublinha outra das conclusões que podem ser retiradas deste trabalho. A especialista, que trabalha no Departamento de Psiquiatria da Universidade de Cambridge, realça que o autismo é “diagnosticado mais frequentemente nos homens” mas que a “proporção de mulheres com autismo pode estar a ser negligenciada ou mal diagnosticada, por serem casos que chegam às clínicas com sendo de anorexia”.

E de que forma o estudo agora apresentado pode ajudar? Tony Jaffa, outro dos responsáveis pela investigação, explica que, por exemplo, nas anorécticas pode tentar alterar-se os seus interesses obsessivos pelo peso e dietas para uma forma equilibrada de trabalhar o modo como veem o corpo. “Reconhecer que alguns doentes com anorexia podem também precisar de ajuda com competências sociais e de comunicação e na adaptação à mudança, também nos dá um novo ângulo de tratamento”, defende.

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