Os 5ª Punkada não são uma banda qualquer. São um maravilhoso feitiço que nos chega de Coimbra. Esta banda é composta por músicos de imenso talento, que formam um só organismo, que comunica através da música, por todos os poros. Dos 5ª Punkada, quatro são utentes da Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra. Eis os blues da sua vida.
É tão simples quanto isto: em palco, a vida é como devia. Não é preto, não é branco, não é verso, não é reverso, não é inverso, não é regra, nem sequer contra-regra, não é parâmetro, nem deixa de ser, não obedece a enquadramentos, classificações, estereótipos, conceitos e preconceitos, nem tem de obedecer. É. O palco, assim como a música, têm uma natureza transpositora, maravilhosamente multidimensional. O ser é a sua estética, a sua linguagem. Se a alma existe, é neste sítio que se encontra.
Sexta-feira 11, Teatro Académico de Gil Vicente, Coimbra, lá para a noitinha. Uma névoa de gelo seco flutuava, com os instrumentos no seu respirar antropomórfico e os microfones a exercer o efeito de sombras chinesas. À distância, pareciam trepadeiras no branco do cenário, que tinha uma mão feita de duas, amarradas pelas artérias de um corpo unificado, como uma tatuagem de henna, com estas palavras de Fausto Sousa, que é o letrista, vocalista, sound beam e, em múltiplos aspectos, a essência dos 5ª Punkada, que não são apenas uma banda, mas um organismo que se expressa das profundezas, exactamente como acontece com as palavras e com o seu portador: “Quem atado/ como eu a ti/ tu és metade de tudo/ que há em mim/ tu és metade de mim/ eu sou metade de ti.”
Não vale a pena extrair às palavras um significado, pois este deixa de ser pessoal sempre que se torna transmissível. Os 5ª Punkada já existem desde 1993, a sua formação já se alterou algumas vezes, por questões que estão guardadas na tristeza. O palco é a sua natureza. Em palco, eles reexistem todas as vezes. Exercem o imenso poder de poder, exercendo-o com a pureza rara que só a liberdade tem. É isso, mas não é só isso que os torna extraordinários. O que os torna extraordinários é o seu talento para serem punks nos blues da sua vida. (Continua)
Fonte: Público por indicação de Livresco
Sem comentários:
Enviar um comentário