A ansiedade e a depressão são doenças mentais distintas, mas podem andar “de mãos dadas”. É possível que as doenças se manifestem ao mesmo tempo e que, em alguns casos, os sintomas possam ser confundidos. Quem o diz é Sophie Seromenho, psicóloga clínica e autora do livro “Não é Loucura, é Ansiedade”.
Nos últimos anos, a saúde mental tem sido um tema central: o número de diagnósticos de perturbações mentais tem aumentado, assim como a toma de medicação (antidepressivos e ansiolíticos). Portugal tem-se posicionado como um dos países com maior prevalência de doenças mentais entre países europeus – é o segundo país com maior prevalência da Europa – e entre os Estados-membros da OCDE.
E que impacto têm estes números na vida dos portugueses? “As perturbações mentais são a principal causa de incapacidade e a terceira causa em termos de carga da doença, sendo responsáveis por cerca de um terço de anos de vida saudáveis perdidos”, revela o relatório do Conselho Nacional de Saúde de 2019, publicado ainda antes da pandemia.
QUANDO A TRISTEZA (E NÃO SÓ) DURA DEMASIADO TEMPO
“A depressão é, provavelmente, a mais antiga e mais frequente das perturbações psiquiátricas diagnosticadas”, afirma Sophie Seromenho. De acordo com a psicóloga, os períodos de tristeza ou desânimo são “comuns e naturais” ao longo da vida, uma vez que funcionam como “resposta às desilusões ou frustrações do dia a dia”.
“No caso da tristeza, geralmente é manifestada por episódios de curta duração enquanto dura, por exemplo, o processo de adaptação à perda, alteração de algo na vida da pessoa ou fracasso, rejeição ou crítica (seja real ou percebido) que foi experienciado. A depressão, como quadro patológico, ocorre quando este processo de adaptação e de processamento de informação não é eficaz e nem saudável”, explica.Para além da tristeza, existem outros sinais que caracterizam a depressão: perda de interesse ou prazer nas atividades, raiva persistente, ataques de raiva, constante culpabilização dos outros, fadiga extrema, dores corporais sem causa médica.
Segundo Sophie Seromenho, podem ainda ser experienciados quatro sintomas adicionais: alterações do apetite, do peso, do sono e da atividade psicomotora; diminuição da energia; sentimentos de desvalia ou culpa; dificuldade para pensar, concentrar-se ou tomar decisões ou pensamentos recorrentes sobre morte ou ideação suicida.
“Claro está, devido à incapacidade da pessoa ter uma vida “normal” pode surgir uma grande ansiedade associada pois a pessoa não se consegue desfazer dos pensamentos negativos que tem, mas também não consegue sair do buraco negro onde se encontra”, aponta.
A ANSIEDADE É UMA “REAÇÃO NORMAL”, O QUE DIFERENCIA “É A INTENSIDADE”
A ansiedade é uma “reação normal” e funciona como “um sistema de alarme”, explica a psicóloga, sublinhando que “o que diferencia o estado normal do patológico é a intensidade da ansiedade”.
Apesar de ser uma doença mental, a ansiedade pode manifestar-se através de sintomas físicos – tremores, hipotonia muscular (diminuição da “tensão e firmeza” dos músculos), hiperventilação, sudorese (transpirar de forma excessiva) e palpitações. Sophie Seromenho elenca também sintomas cognitivos provocados pela doença, nomeadamente, apreensão, inquietação, distratibilidade, perda de concentração e insónias.
A ansiedade é um sentimento que se prolonga no tempo e que pode surgir sem o estímulo real, ou seja, pode acontecer “apenas na imaginação”, explica a psicóloga. A doença deixa o indivíduo em alerta e adverte-o para a existência de que há algo a temer.
“As respostas a este sentimento varia de indivíduo para indivíduo: uns tendem a superestimar o nível e a probabilidade do perigo de uma determinada situação; outros, pelo contrário, tendem a substituir a sua capacidade de enfrentamento dessa situação, o que faz com que surjam os sintomas fisiológicos de ansiedade.”
E é quando “acontece esta diminuição do sentimento de autoconfiança” que “podem surgir pensamentos intrusivos e negativos acerca do próprio, culpabilização, acabando por afetar a autoestima da pessoa e abrindo espaço para surgirem pensamentos e quadros depressivos. Portanto sim, a ansiedade pode gerar depressão também e uma pode alimentar a outra ciclicamente“, aponta.
O MAIOR ATO DE AUTOCUIDADO: FAZER ACOMPANHAMENTO PSICOLÓGICO
Cuidarmos de nós próprios é essencial para mantermos uma boa saúde física e mental. Para além da exposição a ambientes tóxicos ou de um historial de doença psiquiátrica na família, existem outros fatores que podem potenciar o desenvolvimento de uma perturbação mental como, por exemplo, o consumo de drogas, álcool, excesso de stress e falta de descanso.
“Torna-se FUNDAMENTAL desenvolvermos o nosso autocuidado, isto é, uma rotina diária onde cuidamos do nosso corpo e mente (…) Fazer acompanhamento psicológico é o maior ato de autocuidado que podemos ter”, defende.
Este é um dos pontos desenvolvidos no livro “Não é Loucura, é Ansiedade”, lançado este mês pela psicóloga. Sophie Seromenho sugere algumas formas de autocuidado que não envolvem gastos, nomeadamente, a aposta em atividades físicas e numa boa alimentação, cortar no álcool, na cafeína e outras drogas, praticar respiração diafragmática e relaxamento muscular, fazer meditações guiadas e afirmações positivas.
“Contudo é sempre indicado nos casos de suspeita de ansiedade ou depressão consultar um médico e um psicólogo para que os profissionais possam guiar o processo”, sublinha. “Procure apoio especializado assim que desconfiar e fique alerta aos sinais físicos e psicológicos de cada uma”.
Fonte: SIC Notícias por indicação de Livresco
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