quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Amor e deficiência: o direito a amar e a ser amado

Perto de Los Angeles, existe um centro residencial (Los Angeles Residential Community, LARC) que alberga estritamente adultos com deficiência — intelectual apenas ou associada a dificuldades motoras. À semelhança do que acontece dentro de qualquer comunidade, "não é um desafio para os residentes estabelecerem relações de natureza romântica", disse em entrevista a jovem fotógrafa californiana Isadora Kosofsky. "Estes indivíduos são encorajados a desenvolver o mesmo tipo de laços que se observam em sociedade, em geral. Alguns já perderam amantes e têm de suportar vê-los desfrutar da companhia de uma nova pessoa. Alguns têm dificuldade em aceitar que a relação terminou e aguardam, na esperança de uma reconciliação. Outros simplesmente avançam e encontram novos parceiros." Em nada o comportamento difere do que é observável noutro tipo de comunidade. 
Isadora visitou o centro, pela primeira vez, em 2011. Cinco anos depois, regressou e desenvolveu o projeto "Love The One You Are With", centrado nos relacionamento de Debbie (51) Barry (59) e de Krista (24) e Nethaniel (28). Cada um dos casais vive num quarto privativo e assim tem a possibilidade de partilhar o quotidiano — que é preenchido por atividades promovidas pelo LARC com o objetivo de os manter "ativos mentalmente". Cortam papéis coloridos, criam pulseiras de missangas, colam objetos em quadros, pintam molduras ou gaiolas para pássaros. Também saem com frequência das imediações do centro, visitam restaurantes, lojas e parques. "Muitos dos cem residentes do 'LARC' têm relacionamentos amorosos e passam o dia na companhia do parceiro." "Alguns são casados, outros têm relacionamentos de longa data" — como é o caso de Debbie e Barry. "Por vezes entram em conflito devido a mal-entendidos ou distrações. A Debbie tem, por vezes, dificuldade em expressar-se verbalmente e é tomada pela frustração quando sente que o Barry não está a conseguir concentrar-se e que não a está a ouvir. O Barry sente-se impotente quando Debbie se emociona e é incapaz de dar resposta à situação. Ele descreve 'quero fazer algo por ela quando está zangada, mas não consigo'. Por vezes, um quer estar sozinho quando o outro precisa de atenção." Os conflitos rapidamente se esquecem, diz a fotógrafa, e o dia termina sempre com um toque e uma frase reconciliadora. Debbie diz "amo-te"; Barry responde "és a única mulher da sua vida". O seu relacionamento teve início há 29 anos num centro de dia para adultos com deficiência, em San Fernando Valley, a norte de Los Angeles. Quando eram jovens, trocavam bilhetes durante as atividades. "Eu não tinha ninguém", disse Debbie à fotógrafa, "e ele também não." O seu antigo namorado, o Donald, abraçava-a com demasiada força, o Barry era mais cuidadoso e atencioso. Barry interessou-se por Debbie por outros motivos. "Ela passou por momentos muito difíceis quando era criança e isso atraíu-me." "Queria ajudá-la", disse a Kosofsky. 
A história do jovem casal Krysta e Nethaniel começou já no centro onde residem, há cerca de dois anos e meio. Nethaniel tinha outro relacionamento, na altura. Quando esse terminou, os dois apaixonaram-se e mantiveram-se juntos até ao presente. As histórias de amor repetem-se por todo o mundo, mudam apenas os seus protagonistas. Para muitos dos residentes do LARC, ter uma relação de natureza amorosa ou sexual faz parte do quotidiano, mas essa não é uma realidade extensível a todos os portadores de deficiência física ou intelectual. O tabu associado ao amor e à sexualidade na deficiência impede, muitas vezes, que os relacionamentos entre portadores de deficiência se desenvolvam. Impede, com maior frequência e intensidade, que os relacionamentos se desenvolvam entre portadores e não-portadores de deficiência, resultando num processo evidente de marginalização de um grupo minoritário. 
Enquanto fotógrafa, Isadora Kosofsky sente-se atraída pelo tema dos relacionamentos amorosos que são "fora da norma", especialmente "aqueles que se desenvolvem em espaços de assistência confinados". Em 2015, o P3 publicou o projecto "Vinny and David: Life and Incarceration of a Family", que enfoca no laço afetivo existente entre um recluso adolescente e a sua família.

Fonte: Público

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