quinta-feira, 10 de março de 2016

Participações disciplinares são mais no 3.º ciclo, durante 1.º período e à tarde

Um estudo em 38 agrupamentos escolares em Portugal, envolvendo 50 mil estudantes, conclui que há um "número elevado" de participações disciplinares e que incidem mais no 3.º ciclo de ensino, durante o 1.º período e à tarde. "O número de participações disciplinares (ordem de saída de sala de aula) é claramente elevada, são mais de nove mil participações em apenas 4,4% dos agrupamentos/escolas em Portugal, um universo de 50 mil alunos, o que extrapolando para uma amostragem a 100%, levaria a um número superior a 200 mil participações disciplinares num só ano", disse Alexandre Henrique, autor do estudo do blogue ComRegras, com o apoio da Associação Nacional de Diretores de Agrupamento e Escolas Públicas (ANDAEP).

No estudo lê-se que é no 3.º ciclo (7.º. 8.º e 9.º anos) que ocorrem mais participações disciplinares (63%), seguido do 2.º ciclo (5.º e 6.º anos) com 34,2% e o secundário com 2,6%. "É uma situação facilmente justificável [o 3.º ciclo com mais participações], porque é quando os alunos entram naquela idade da adolescência, têm uma necessidade muito grande de afirmação, em que já não basta dizer não, chega e eles calam-se (...), surgem outros interesses divergentes a nível escolar, como os amigos, fumar, as bebidas (...) e há sempre mais dificuldades até para os pais e os professores não são excepção", explica o autor principal do estudo

O 1.º período escolar (entre setembro e dezembro) é o que apresenta mais participações disciplinares: 43%. "É no 1.º período que existe uma adaptação dos alunos aos métodos do professor e também do professor que se ajusta a uma nova turma, a uma nova realidade (...), os alunos por vezes ficam numa nova turma e têm de se ajustar, bem como o novo ano lectivo e é sempre um período de adaptação", explica Alexandre Henriques. 

A altura do dia em que ocorrem mais participações disciplinares é no período da tarde (38%), o que se pode explicar com a "carga lectiva elevada dos alunos", argumenta Alexandre Henriques. "Da parte da tarde, os miúdos já tiveram uma série de aulas da parte da manhã, logo, é natural que surja algum cansaço e, se as escolas não têm o cuidado de colocar as disciplinas mais práticas da parte da tarde, o que acontece é que os alunos já saturados (...) de disciplinas muito teóricas, é normal que comecem a fartar-se e a tentar conversar ou comecem a fazer algo mais 'cativante'".

As participações disciplinares surgem na sequência de "conversas paralelas entre alunos", "utilização de telemóvel", "injúrias a colegas ou a professores" ou "ameaças a professores".

As medidas aplicadas variam entre as corretivas (menos graves) e as sancionatórias (mais gravosas e conhecidas pela suspensão da escola). No ano letivo passado, e apenas na amostra do estudo, houve 4554 medidas corretivas e só um terço dos estudantes (1597) é que as cumpriram. Sobre as medidas sancionatórias foram realizadas 1333 e os alunos a cumprir foram 847.

Entre os agrupamentos estudados, 14 pertencem a Lisboa, cinco ao Porto, cinco a Viseu, quatro a Faro, dois a Beja, dois Leiria, e um agrupamento/escola de Aveiro, um de Castelo Branco, outro de Coimbra, Madeira, Portalegre, Setúbal.

O estudo propõe a criação de um sistema de monitorização informática, que recolha os dados disciplinares de todas as escolas portuguesas, assim como orientar as escolas de forma a existir uma maior uniformidade na aplicação de medidas disciplinares. "Atribuir um crédito horário às escolas, especificamente para a abertura de Gabinetes Disciplinares, fundamentais para uma política disciplinar de proximidade" ou "incluir na formação de base de futuros docentes e não docentes uma componente teórico-prática de gestão e mediação de conflitos" são outras propostas.

Fonte: Público

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