Um novo estudo da OCDE sobre a avaliação do ensino volta a apontar a Portugal um défice na avaliação contínua dos alunos e na observação da atividade diária na sala de aula e resistência na apreciação do desempenho de professores.
As conclusões constam do relatório "Sinergias para uma Melhor Aprendizagem: Uma Perspetiva Internacional sobre a Avaliação", divulgado recentemente, e expressam a tónica de um outro estudo, também da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), sobre políticas de avaliação no ensino em Portugal, e que foi publicado no ano passado.
O mais recente estudo aborda as práticas de avaliação do sistema educativo - designadamente de alunos, professores, escolas e diretores de escola - de 28 países, incluindo Portugal, nos últimos quatro a cinco anos.
Apesar de Portugal se distinguir na avaliação das escolas, focando-a na melhoria de resultados, tem défice na avaliação de alunos, professores e diretores de escola, assinalou à agência Lusa o coordenador do estudo, Paulo Santiago.
O relatório revela que os adolescentes portugueses repetem vários anos de escolaridade, uma consequência de a avaliação estar centrada na nota e no exame, e não na aprendizagem regular, visando a melhoria de resultados, adiantou o analista-principal da Direção de Educação da OCDE.
Segundo Paulo Santiago, a reintrodução de certos exames, nos 4º e 6º anos de escolaridade, não vai ajudar a que "se desenvolva uma cultura mais formativa da avaliação dentro das salas de aula".
Uma avaliação qualitativa, "mais contínua, mais de acompanhamento, de participação do aluno", sustentou.
"Há vários países que não dão notas aos alunos até aos 13, 14 anos, por exemplo. Dão uma avaliação qualitativa a cada trimestre, que é muito mais informativa, (...) diagnostica e explica que tipo de coisas é que se podem fazer para ajudar a aprendizagem do aluno", realçou.
Outra das lacunas dirigidas a Portugal é a falta de observação da atividade letiva dentro da sala.
"O que acontece é que se avalia uma escola, mas nem sequer dentro de uma sala de aula", sublinhou Paulo Santiago, acrescentando que o sistema educativo português "permite que o professor possa progredir na carreira sem observação de aulas".
Na avaliação dos docentes, o relatório considera que, além de incipiente, encontra resistência na sua aplicação, com o indicador a ser encarado como uma "consequência para a progressão na carreira", e não como uma ferramenta de "desenvolvimento profissional e formação contínua", assinalou o analista da OCDE.
"Tendo em conta que há um congelamento das carreiras, este momento poderia ser uma oportunidade para desenvolver um acompanhamento mais forte, em termos de ligar a avaliação de professores a planos de desenvolvimento profissional e formação contínua, que seriam obrigatórios", advogou.
Para Paulo Santiago, o modelo de avaliação docente foi lançado "sem o desenvolvimento de competências dos avaliadores e de professores", para que estes pudessem entender "como poderiam utilizar a avaliação" em seu benefício.
De acordo com o relatório, a avaliação dos diretores de escola peca também por ser pouco desenvolvida, incidindo nas funções administrativas que, em Portugal, lhes são atribuídas, e não no seu papel de liderança pedagógica.
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