Junto à fronteira espanhola, no distrito de Portalegre, continuam a estar três das dez escolas com média mais baixa a nível de exames nacionais. A Secundária EB2,3 de Alter do Chão (606.ª posição, com 7,18 valores), a EBI Frei Manuel Cardoso (584.ª, com 8,51 valores) e a Secundária Professor Mendes Remédios (605.ª, com 7,63 valores), visitada pelo DN, que até tem um pavilhão desportivo novo, aulas de equitação e um site . E estes resultados acabam por colocar o distrito alentejano no final da lista, com uma média de 9,65 valores. No extremo oposto ficou o de Lisboa, com 11,38 valores.
As notícias dos maus resultados da escola não parecem, no entanto, afectar a maioria dos alunos. "Porque não havíamos de estar bem-dispostos? Sim, tive umas notas mais baixas, mas também não quero ser cientista nem matemático. Quero ser agricultor, como o meu pai... ou polícia!" O retrato traçado pelo José Miguel, de 14 anos, é multiplicado pelos vários colegas que, à saída da cantina, se preparam para ir jogar à bola no novo pavilhão desportivo.
"Temos óptimas instalações, um bom ambiente escolar, sem violência e essas coisas de que se ouve falar nas notícias", confirma José Bruno, presidente do Conselho Directivo da Escola Secundária Professor Mendes Remédios.
Os porquês da má classificação, numa escola que até apresenta infra--estruturas e organização de fazer inveja à maioria das mais de seiscentas que lhe ficaram à frente no ranking, encontra-os, em razões maiores que a vontade de fazer melhor todos os dias. "Vivemos num dos distritos mais pobres do País, isto é o ensino público, não temos cá as elites que pagam por mês o que a maioria dos pais destes miúdos não ganha em três meses...", explica.
"Se numa privada em Lisboa, por exemplo, todos os miúdos querem estudar, aqui temos de lutar com o abandono todos os dias, falar com os pais, sensibilizá-los para a importância de continuar na escola", assinala.
Apesar do esforço dos professores, as expectativas dos cerca de 700 alunos que frequentam a Secundária de Nisa, divididos entre os vários ciclos de ensino, do pré-escolar ao secundário, é muito baixa: a maioria espera apenas acabar a escolaridade obrigatória. "Infelizmente ainda é isso que se verifica, até porque a maioria destes alunos sabe desde muito cedo que há pouco trabalho na região, e que não terão grandes saídas profissionais, apesar de desta escola já terem saído professores catedráticos, médicos e engenheiros", explica José Bruno. E, por isso, adianta, "fazemos tudo para tentar contrariar essas baixas expectativas, tentamos dar um empurrão". "Mas tenho de dizer que não podemos andar com o Alentejo inteiro para a frente sem a ajuda de mais ninguém", lamenta.
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