José Manuel Bulhões é um lavrador natural e residente na Lomba da Maia, uma freguesia rural da costa Norte de São Miguel, nos Açores. Nascido com problemas acentuados de miopia, caminhou para a cegueira já depois de ter vinte anos devido a um deslocamento de retina. Hoje, o que consegue ver é apenas uma baça claridade no meio da escuridão: o suficiente, todavia, para puxar da coragem e ir todos os dias pela matina ao encontro das suas vacas.
Faça chuva ou faça sol, passem domingos, feriados ou dias de festa, a lida é todos os dias a mesma para si. Na exploração agrícola que possui nas imediações da Lomba da Maia, maneia doze cabeças de gado segundo os métodos tradicionais. Isto é, tudo à mão. "Não posso ter a minha exploração mecanizada devido à minha incapacidade", salienta.
José Manuel é portador de deficiência, mas nem por isso se dá por vencido perante as constantes adversidades que vão surgindo no dia-a-dia. Muito pelo contrário, a sua força de vontade e determinação, mas também afabilidade e humildade, prevalecem. Na verdade, consegue levar a sua vida por diante e minimizar os obstáculos que se lhe vão deparando, "sendo o mais organizado possível". Só na altura da mudança do gado para outra pastagem, aí, sim, pede ajuda. Em casa é ajudado pela irmã, que também está a ficar invisual, e sobretudo pela mãe.
Solteiro e com 52 anos, José Bulhões não cede, por um único momento, aos conselhos daqueles que dizem estar "acabado" para a lavoura e para se deixar ficar em casa. Este tipo de conversa, se bem que não seja proferida por malícia ou crueldade, gera em José Bulhões um misto de tristeza e frustração. "As dificuldades são sempre muitas para um invisual. Às vezes encontro dificuldades mesmo das pessoas. Porque às vezes não encaram um deficiente como alguém normal. Entendem, por vezes, que um deficiente deve ser alguém arrumado e não pensam que um deficiente é alguém igual aos outros. Simplesmente tem uma diferença. Mas deve fazer a sua vida normalmente." A explicação nem sempre passa para os que o rodeiam e quando as pessoas "dizem que devo largar a minha vida e ficar em casa, não aceito e entendo isso como um ataque pessoal. Ofendem-me até".
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