«Agora que o mundo está a ser reconstruído, as mudanças sociais e económicas por si só não são suficientes -embora essas sejam condições indispensáveis para a existência da democracia no futuro. Ao mesmo tempo, devemos também criar o Homem que possa garantir uma sociedade democrática, que esperamos que cresça -para protegê-lo contra a reincidência das barbaridades dos últimos anos. Mesmo em estados democráticos, há um perigo latente de que as pessoas desperdicem a sua liberdade por uma segurança imaginária, que deixem um “führer” tirar delas o pesado fardo de serem elas mesmas a serem responsáveis pelos seus atos. Ou em outras palavras: através de uma educação opressora, as pessoas nunca realmente amadurecem e/ou ficam espiritualmente “crescidas”, mas buscam constantemente uma autoridade paterna.
Por isso, devemos educar os nossos filhos para que eles se tornem imunes a todo o tipo de crença autoritária. Em vez de obediência incondicional e supressão das reações emocionais naturais, que são as razões mais profundas para as pessoas aceitarem teorias autoritárias, devemos colocar uma educação sensível, que desenvolve uma personalidade crítica e independente, que cria indivíduos ativos e livres, para os quais o respeito pelos direitos dos outros parece evidente, quando eles próprios são felizes e harmoniosos.»
Palavras fortes, não são? Quando achas que foram escritas? Parecem bastante atuais. Podiam ter sido retiradas de um livro atual sobre parentalidade consciente e fariam total sentido.
Estas palavras são de um dos meus livros preferidos sobre parentalidade. Encontram-se no final do livro sueco: Det finns inga elaka barn (Não existem crianças más), do casal Mirjam Valentin-Israel e Joachim Israel, ela psicóloga e ele sociólogo.
O mais incrível deste livro talvez seja o facto de ter sido publicado em 1949. Sim, 1949. Começou a ser escrito durante a Segunda Guerra Mundial. É uma consequência de uma série de encontros de um grupo de psicólogos e sociólogos em Estocolmo durante o conflito. Encontros em que se discutia os acontecimentos durante a guerra e, principalmente, como era possível bons jovens alemães, bem-educados e exemplares, tratarem outros seres humanos como trataram, sem protestarem.
A resposta, resumidamente, foi esta: obedecer não é sinónimo de responsabilidade.
Apeteceu-me, tantas vezes, que os meus filhos simplesmente me obedecessem… Mas eu não quero filhos que obedeçam incondicionalmente. Quero contribuir para que eles se responsabilizem por todos os seus atos. Que façam cada uma das suas escolhas em consciência. Que questionem aquilo que sentem estar errado. Que protestem quando alguém desrespeita a sua integridade ou a dos outros.
Muitos acham que parentalidade consciente é uma modernice, mas não é! As ideias da parentalidade consciente existem há muito.
Não existem crianças más fala sobre valores, educação emocional, comunicação consciente, o perigo dos castigos e das palmadas e muito mais. Precisamente aquilo que abordo no meu livro Educar com Mindfulness, com quase 70 anos de diferença.
A busca de total obediência não desenvolve uma personalidade crítica, independente e responsável. É pena que ainda se procure defender as mesmas coisas.
MIKAELA ÖVÉN
Fonte: Educare
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