O estudo “Desempenho e Equidade: Uma análise comparada a partir dos estudos internacionais TIMMS e PIRLS”, publicado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), identifica uma série de fatores que poderão explicar o desempenho dos alunos e permite perceber em que medida esses aspetos são promotores de igualdade de oportunidades no acesso à Educação. O capital familiar e a frequência do pré-escolar têm um impacto expressivo no desempenho escolar. Segurança, organização, disciplina e ênfase no sucesso, por parte das escolas, são também aspetos importantes e que assumem até “um papel relevante na atenuação do efeito do estatuto socioeconómico das famílias no acesso à Educação”.
O documento tem por base os resultados dos estudos internacionais TIMSS (Trends in International Mathematic and Science Study) e PIRLS (Progress in International Reading Literacy Study) que avaliam conhecimentos em Leitura, Matemática e Ciências dos alunos do 4.º ano de escolaridade. O estudo do CNE focou-se no TIMSS de 2015 e no PIRLS de 2016 e foram analisados dados de 11 países europeus – Portugal, Finlândia, Noruega, Holanda, Polónia, Alemanha, Eslováquia, Espanha, Itália, França, Irlanda. O capital familiar para a aprendizagem e a composição social das escolas são duas variáveis de peso.
Relativamente aos alunos portugueses, os resultados indicam que a confiança que os estudantes depositam no seu desempenho, os recursos que as suas famílias proporcionam e as competências de literacia e de numeracia que adquirem antes do início da escolaridade, são os aspetos com maior impacto. O sentido de pertença à escola, a frequência de programas de educação e cuidados para a primeira infância tiveram igualmente impacto, mas de uma forma menos relevante. Ao nível da escola, a ênfase no sucesso, a segurança, a organização e a disciplina são as variáveis que se destacam na explicação dos desempenhos em Leitura. Tanto em Matemática como em Ciências, o capital familiar médio é o melhor preditor da variação dos resultados dos alunos.
O estudo revela que alunos com origem em famílias com elevado capital familiar têm melhores desempenhos do que os alunos com origem em famílias com menos recursos económicos e sociais. “O capital familiar é um preditor relevante dos resultados dos alunos nos três domínios para todos os países considerados no estudo”. O nível de escolaridade dos pais e a sua qualificação profissional, assim como os recursos que existem em casa – ter um quarto para estudar, acesso à Internet, livros infantis, por exemplo – têm impacto no desempenho escolar.
Em Portugal, os alunos com mais recursos registam, em média, mais 58 pontos na avaliação em Matemática, 47 em Leitura e 44 em Ciências, comparativamente com os que têm menos recursos. Na Holanda, Finlândia e Noruega, os alunos com mais e com menos recursos apresentam diferenças de pontuação menos acentuadas.
Quanto melhor os alunos dominam ferramentas básicas de literacia e de numeracia antes de iniciarem a escolaridade, maior é a probabilidade de terem bons desempenhos a Leitura, Matemática e Ciências no 4.º ano. Em todos os países, os alunos com elevado domínio destas competências estão mais representados em famílias com mais recursos para a aprendizagem e são também os que apresentam pontuações médias mais elevadas.
A frequência mais prolongada de programas de educação e cuidados na primeira infância, ou o desenvolvimento de atividades de literacia e de numeracia promovidas pelos pais nessa altura da vida dos filhos, também são preditores importantes. Uma frequência mais prolongada tem um impacto positivo e significativo nos resultados alcançados em todos os domínios avaliados. E é mais relevante para os alunos de famílias com menos recursos. As atividades de literacia e de numeracia apresentam igualmente uma relação positiva e significativa com o sucesso escolar alcançado em fases posteriores da escolaridade.
Mais acompanhamento, mais suporte emocional
Os alunos que referem ter mais confiança nas suas competências são os que alcançam, em média, melhores resultados nos três domínios avaliados. Em todos os países, os que garantem ter mais confiança nas suas competências são os que alcançam, em média, melhores resultados. Em Portugal, um aluno “muito confiante” obtém mais 95 pontos em Matemática do que um “não confiante”, sendo o país com o efeito de maior magnitude no conjunto dos países considerados.
“Os alunos com mais confiança no seu desempenho pertencem maioritariamente a famílias com mais recursos para a aprendizagem, o que poderá significar não só um apoio dos pais no acompanhamento do estudo, mas também um maior suporte emocional”, lê-se no estudo. No nosso país, os alunos com “muita confiança” no seu desempenho e com acesso a “muitos recursos” obtiveram mais 35 pontos acima da pontuação dos alunos com “muita confiança”, mas com “poucos ou alguns recursos”. Aliás, Portugal apresenta a percentagem mais elevada de alunos provenientes de escolas de meios maioritariamente desfavorecidos que consegue alcançar, em todos os domínios, pontuações acima da média internacional.
“Os resultados alcançados pelos alunos portugueses, quando comparados com os dos outros países, sugerem uma boa capacidade do sistema de ensino para reduzir as diferenças decorrentes de contextos socioeconómicos distintos”. É um dado importante de igualdade de oportunidades no acesso à Educação. Do conjunto de fatores que caracterizam a escola, a ênfase no sucesso, a segurança, a organização e os problemas de disciplina são os que se apresentam como mais relevantes na variação de resultados dos alunos portugueses.
Os alunos que frequentam escolas mais orientadas para o sucesso escolar obtêm melhores desempenhos. Portugal encontra-se entre os países que registam percentagens mais baixas de alunos em escolas orientadas para o sucesso, ou seja, pouco mais de metade frequenta escolas mais direcionadas para este objetivo. Em todos os países, verifica-se que os alunos que frequentam escolas que atribuem maior ênfase ao sucesso escolar estão mais representados em estabelecimentos de ensino com uma população de meios socioeconómicos mais favorecidos. Em Portugal, 79% dos alunos de meios mais favorecidos e apenas 41% de meios mais desfavorecidos frequentam escolas que se encontram nessa categoria.
Segurança, organização, disciplina
O clima escolar é um fator importante. O indicador escola segura e organizada mostra uma associação positiva com o desempenho dos alunos, embora o efeito não seja significativo em todos os domínios e países analisados. Portugal, ao contrário da maioria, apresenta diferenças de pontuação média muito pouco expressivas entre as três categorias que classificam as escolas em termos de segurança e organização.
Os alunos que frequentam escolas “muito seguras e organizadas” estão mais representados em meios socioeconómicos favorecidos. À exceção da Polónia, os que frequentam esse tipo de escolas estão mais representados em meios socioeconómicos favorecidos. Em Portugal, no entanto, os que estão em escolas seguras e organizadas estão representados de forma equilibrada nos dois grupos. No que respeita à disciplina, os resultados mostram, na sua generalidade, um efeito positivo da ocorrência de “quase nenhum problema” de disciplina no desempenho dos alunos, o que quer dizer que se preveem melhores resultados em escolas com reduzidos problemas desta natureza. Em Portugal, o indicador “problemas de disciplina” revela apenas ser bom preditor dos desempenhos em Leitura.
Ainda que a escassez de recursos para o ensino não tenha um efeito relevante na explicação do desempenho escolar, quando se considera exclusivamente os alunos que frequentaram escolas onde o ensino é “afetado ou muito afetado” por essa falta de meios, verifica-se que estas estão mais representadas no grupo das situadas em meios socioeconómicos mais desfavorecidos.
Em Portugal, os alunos de escolas em que o ensino é “afetado ou muito afetado” representaram 82% do conjunto com uma população de meios desfavorecidos e apenas 52% inseria-se no grupo das escolas de meios mais favorecidos. Itália, França e Espanha foram, juntamente com Portugal, os países que registaram percentagens mais elevadas de alunos que frequentaram escolas com escassez de recursos em contextos económicos e sociais mais desfavorecidos.
Na generalidade, os alunos que frequentaram escolas onde os diretores reportaram “problemas moderados a graves” tiveram, tendencialmente, piores desempenhos do que os que frequentaram escolas com “quase nenhum problema” ou com “pequenos problemas” de disciplina. Em Portugal, os alunos que “quase nunca” se confrontaram com este tipo de problemas tiveram, em média, mais 25 pontos em Leitura, 26 em Matemática e 17 em Ciências, do que aqueles que se confrontaram “semanalmente”.
Fonte: Educare
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