sexta-feira, 31 de maio de 2013

A inclusão de crianças com deficiência beneficia a sociedade como um todo

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) diz que demasiadas crianças e adolescentes com deficiência ainda encontram diversas formas de discriminação e exclusão, negando-lhes a oportunidade de levarem uma vida cumprindo e contribuindo para o progresso social, cultural e económico das suas comunidades.

No relatório anual Estado de Crianças do Mundo, UNICEF diz que as crianças com deficiência são os menos propensos a receber cuidados de saúde ou ir à escola.

Estão entre os mais vulneráveis ​​à violência, abusos, exploração e negligência, especialmente se estão escondidos ou colocados em instituições.

O relatório diz que as crianças com deficiência não devem ser vistas como meros beneficiários de caridade, mas sim como crianças com igualdade de direitos, incluindo o direito à vida, bons cuidados de saúde, nutrição, educação, expressão e proteção legal.

Abid Aslam, da UNICEF, diz que o relatório deste ano desafia as pessoas a ver a criança antes da deficiência.

"Eles têm sonhos. Eles têm a capacidade para cumprir esses sonhos. E, como temos mostrado no relatório, dando-lhes uma chance, eles contribuem para a vitalidade das suas famílias e das suas comunidades. Isso significa fazer um compromisso sério para encontrar as crianças com deficiência, compreender as suas necessidades, incluí-las na concepção de soluções, bem como no projeto de avaliação de apoios e serviços que se destinam a dar-lhes uma chance de sobreviver, prosperar, ser bem sucedido."

A UNICEF pede a mais governos para ratificar e implementar a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e a Convenção sobre os Direitos da Criança, e para apoiar as famílias para que possam fazer face aos mais elevados custos inerente ao cuidado de crianças com deficiência.

Patrick Maigua
Rádio das Nações Unidas
Genebra

País com a melhor educação do mundo, Finlândia aposta no professor

O país com a melhor educação do mundo é a Finlândia. Por quatro anos consecutivos, o país do norte da Europa ficou entre os primeiros lugares no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), que mede a qualidade de ensino. O segredo deste sucesso, segundo Jaana Palojärvi, diretora do Ministério da Educação e Cultura da Finlândia, não tem nada a ver com métodos pedagógicos revolucionários, uso da tecnologia em sala de aula ou exames gigantescos como Enem ou Enade. Pelo contrário: a Finlândia dispensa as provas nacionais e aposta na valorização do professor e na liberdade para ele poder trabalhar.

Jaana Palojärvi esteve em São Paulo (...) para participar de um seminário sobre o sistema de educação da Finlândia, no Colégio Rio Branco. A diretora do ministério orgulha-se da imagem de seu país “tetracampeão” do Pisa. O ranking é elaborado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), e aplicado a cada três anos com ênfase em uma área do conhecimento. No último, em 2010, o Brasil ficou na 53ª colocação entre 65 países. Uma nova edição do Pisa será lançada em dezembro.

Na Finlândia a educação é gratuita, inclusive no ensino superior. Só 2% das escolas são particulares, mas são subsidiadas por fundos públicos e os estudantes não pagam mensalidade. As crianças só entram na escola a partir dos 7 anos. Não há escolas a tempo integral, pelo contrário, a jornada é curta, de 4 a 7 horas, e os alunos não têm muitos trabalhos de casa. “Também temos menos dias letivos que os demais países, acreditamos que quantidade não é qualidade”, diz Jaana.

A diretora considera que o sistema finlandês de educação passou por duas grandes mudanças, uma na década de 70 e outra em 90. A partir do início da década de 90, a educação foi descentralizada, e os municípios, escolas e, principalmente, os professores passaram a ter mais autonomia.

“Fé e confiança têm papel fundamental no sistema finlandês. Descentralizamos, confiamos e damos apoio, é assim que o sistema funciona. O controlo não motiva o professor a dar o melhor de si. É simples, somos pragmáticos, gostamos de coisas simples.”

O governo também não costuma inspecionar o ensino das 3.000 escolas que atendem 55.000 estudantes na educação básica. O material usado e o currículo são livres, por isso podem variar muito de uma unidade para outra.

“Os professores planeiam as aulas, escolhem os métodos. Não há prova nacional, não acreditamos em testes, estamos mais interessados na aprendizagem. Os professores têm muita autonomia, mas precisam de ser bem qualificados. Esta é uma profissão desejada na Finlândia.”

Os docentes da Finlândia ganham, em média, 3 mil euros por mês (...), considerado um salário “médio” para o país. Para conquistar a vaga é preciso ter mestrado e passar por treinamento. O salário aumenta de acordo com o tempo de casa do professor, mas não há bónus concedidos por mérito. A remuneração não é considerada alta. “Em compensação, oferecemos ao professor um ambiente de trabalho interessante.”

Jaana diz que a educação na Finlândia faz parte de uma cultura, resultado de um trabalho longo, porém, simples, mas evita dar lições ou conselhos a outras nações. “Temos muitas diferenças em relação ao Brasil, que é enorme, somos um país pequeno de 5,5 milhões de habitantes. Na Finlândia não temos a figura do Estado, a relação fica entre governo, município e escola. O sistema é muito diferente. A Finlândia não quer dar conselhos, nós relutamos muito em relação a isso”, afirma.

Mais do que o bom resultado do país no Pisa, Jaana comemora a equidade entre as escolas – também apontada pelo exame. “Para nós, é o mais importante. Queremos que as escolas rurais localizadas nas florestas, ou do Norte que ficam sob a neve com temperaturas negativas de 25 graus, tenham o mesmo desempenho das da capital, das áreas de elite. E (este desempenho) é bem semelhante.”

Entre todos os países testados pelo Pisa, a Finlândia tem a menor disparidade entre as escolas. O resultado tem explicação. Lá, os alunos mais fracos estão sob a mira dos docentes. “Os professores não dedicam muita atenção aos bons alunos, e sim aos fracos, não podemos perdê-los, temos de mantê-los no sistema.”

‘Tecnologia é ferramenta, não conteúdo’

Tecnologia também não é o forte das escolas finlandesas, que preferem investir em gente. “Não gostamos muito de tecnologia, ela é só uma ferramenta, não é o conteúdo em si. Tecnologia pode ser usada ou não, não é um fator chave para a aprendizagem.”

A educação básica dura nove anos. Só 2% dos estudantes repetem o ano, o índice de conclusão é de 99,7%. O segredo do sucesso não está ligado ao investimento, segundo Jaana, que reforça que o país investe apenas 6% de seu PIB no segmento. “O sistema de educação gratuito não sai tão caro assim, é uma questão de organização”, afirma.
Nota: Texto adaptado do original.

Novo programa de Matemática tem influência asiática e americana

Os alunos do 1.º, 3.º, 5.º e 7.º anos serão os primeiros a experimentar, em setembro, um novo programa de Matemática, com influência no ensino asiático e norte-americano, revelou um dos autores do projeto.
Hoje é o último dia para apresentar sugestões ao novo Programa de Matemática do Ensino Básico. Depois, a equipa de especialistas tem duas semanas para analisar as propostas e fazer alterações.
"Já recebemos bastantes propostas, mas ainda não nos debruçamos a analisar, porque queremos que feche para depois nos dedicarmos a cotejar todos os contributos que nos vão chegar", contou à Lusa o professor Carlos Grosso, garantindo que a equipa "vai ter de trabalhar a sério" até 17 de junho, dia em que o documento será homologado.
A coordenadora de matemática da Escola Básica Integrada Mouzinho da Silveira, na Baixa da Banheira, Paula Pires, questiona o pouco tempo definido para analisar as sugestões apresentadas: "A proposta do novo programa ainda está em discussão mas já fomos informados que entra em vigor no dia 17, portanto independentemente da discussão, do que as pessoas pensam, dos contributos das pessoas, ele vai entrar em vigor. Isto parece muito ditatorial".
O especialista rebate as críticas recordando o que aconteceu com as metas da matemática: "Tiveram dezenas e dezenas de contributos e muitos descritores foram alterados e muitos desapareceram, outros corrigidos. Os contributos serviram para melhorar o documento".
A meio da tarde de quinta-feira, não chegavam a três dezenas o número de contributos ao polémico programa de matemática, que foi inspirado no ensino dos países que ficam bem classificados nas provas internacionais de matemática, nomeadamente Singapura e os Estados Unidos.
"Singapura é dos países melhor colocados no ranking internacional e tivemos o cuidado de estudar o que é tratado lá", contou em entrevista à agência Lusa o professor, acrescentando que a equipa de trabalho também avaliou as melhorias registadas nos últimos anos na América.
Fernando Pena, o coordenador de matemática do Colégio Planalto, uma das escolas que no ano passado ficou mais bem classificada nas provas do 9.º ano a matemática, saudou a decisão: "Identificaram-se boas experiências com resultados provados e agora tentamos seguir isso. Nesse aspeto acho que é um excelente desafio para professores e alunos. É fazer algo que sabemos que está em linha com o que de melhor se faz mundialmente".
No entanto, os professores de Matemática criticaram o Ministério da Educação e Ciência por ter optado por criar um novo programa em vez de avaliar e melhorar o existente, que começou apenas em 2007 e só este ano estava a ser aplicado aos alunos do 9º ano.
"Não estão a aplicar uma coisa muito diferente do que faziam. O programa é, em termos de conteúdos, muito semelhante ao que existia. Pontualmente há um ou outro exemplo, mas os meninos continuam a adicionar e subtrair no 1º ano, a multiplicar e a dividir nos anos seguintes e a aprender conceitos de geometria, tal e qual como era. Vão ensinar matemática", desmistificou o autor do programa.
Por exemplo, as translações e as probabilidades vão deixar de ser dadas no 1º ciclo para passar a ser ensinado apenas no 3º ciclo. "O novo programa não tem estimativas e no anterior programa era referido mais de 40 vezes" foi outro dos exemplos apontados.
Carlos Grosso diz que há muita coisa do programa ainda em vigor que se mantém e garante que, ao contrário do que dizem alguns professores, não serão necessários novos manuais: "Não são manuais novos, são ajustados, readaptados. Já tinham sido certificados e agora foram adaptados, com ligeiras adaptações".
O docente garante que é dada liberdade aos professores para ensinar. No entanto, defende, a "matemática é uma ciência com milhares de anos e se nós nos pusermos a tentar descobrir o que foi descoberto nestes milhares de anos, levamos milhares de anos. Não pode ser, não temos tempo".
In: JN

Lisboa recebe III Feira de Educação Especial

O BIPP – Soluções para a deficiência e a Comissão Social Inter-Freguesias de Santa Maria de Belém e de São Francisco Xavier (CSIF Belém Xavier) organizam a III Feira de Educação Especial, no dia 31 de maio, entre as 10h00 e as 18h30, no Jardim Vasco da Gama (em frente ao Mosteiro dos Jerónimos), em Lisboa. A feira é composta por stands de quase 30 instituições que desenvolvem trabalho e apoiam crianças e jovens com necessidades educativas especiais e visa ser um local de troca de experiências e aquisição de conhecimento na área de educação especial. Pela primeira vez a feira é temática – “Filmes Portugueses” – e terá momentos de animação dedicados a este tema.

Ao longo do dia, técnicos, pais, encarregados de educação, professores, pessoas com necessidades especiais e a população em geral terão acesso rápido a várias instituições, a mais informação e apoios a nível da educação especial que lhes permitirá responder de forma eficaz às suas necessidades e dos seus familiares e amigos com deficiência.

Este ano, a III Feira de Educação Especial, que se realiza na véspera do Dia Mundial da Criança, será também um espaço de convívio entre os visitantes que poderão fazer-se acompanhar de um almoço tipo piquenique e usufruir de desportos vários, música e muita animação que irão decorrer no recinto da feira.

Joana Santiago, Presidente do BIPP, realça a importância da iniciativa e de serem coorganizadores desta Feira: “A III Feira de Educação Especial é, acima de tudo, uma excelente oportunidade para ultrapassar barreiras que tantas vezes parecem inquebráveis. Por isso, o BIPP aceitou prontamente o desafio de coorganizar este evento e de estar mais perto de quem necessita da nossa ajuda e procura para respostas e soluções na área da deficiência”.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Que escola para o futuro?

O império economicista cresce, numa espécie de ilusionismo de quantidades, comparáveis e fáceis de quebrar a coesão social. Agora já não importa saber o que a escola ensina ou se ensina. Importa apenas, a estes demagogos, o estudo comparado das horas e dos horários de trabalho.

Há uma ideia sinistra por detrás de todo esse argumentário idiota. Todos nós deveríamos assegurar o mesmo número de horas, assim se aplacando a fúria dos que só alcançam, por essa via, a paz provisória.

A Europa enlouqueceu de vez, apesar da crença no contrário! 

Deixem-nos ao menos argumentar com o horário dos ideólogos da cruzada, ou melhor, com a inutilidade em que se transformam as horas que apregoam dedicar à causa pública. São ministros de manhã, secretários ou membros do partido da parte da tarde e porta-vozes de pouca ou coisa nenhuma à noite, viajando entre todos os cargos ou deveres, como se fosse coisa nenhuma, tamanha é a ineficácia dos resultados. 

Enchem, pelo menos, os noticiários e alimentam as intrigas palacianas para deleite de alguma opinião pública.

É essa inutilidade que os expõe que motiva a vingança de querer mostrar que os professores nada fazem, porque nada produzem. Eles próprios, vendo bem, embora não o assumam ou digam, são já o produto dessa " nova escola". Uma escola que os dispensou na exigência e no esforço, projetando-os para destaques que nunca mereceram. É essa escola, domesticada e simplória, desprovida de crítica e de crivo que querem inaugurar com mais quantidade.

Pobres inúteis que desprezam a escola do pensamento e do rasgo. Pobres inúteis que parecem inventar uma contabilidade impossível de observar.

Os verdadeiros professores não precisam de alargar horários. Eles fazem da escola a sua vida. Os verdadeiros professores não discutem o tempo que dão à escola, porque lho dão todo. Os professores verdadeiros, nessa medida, têm isenção de horário. A estes, aos verdadeiros professores, se lho quiserem alargar, será para, num dia de manhã, venderem uma qualquer matéria, destilada de forma mecânica e sem alma, repetida numa tarde qualquer, à procura de uma visibilidade que os equipare a qualquer contabilista ou político de corredor. Nessa altura, se esse tempo vier, então a escola será uma mera praça de sombras, coberta pelos silêncios amargos da vergonha.

Se esse tempo chegar só nos resta resistir. Em nome da escola e da decência.
Acúrcio Domingos

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Há uma “bateria” que avalia competências de leitura e escrita

Quando deixam a pré-escola, muitas crianças já reconhecem letras e escrevem o nome. Essas aprendizagens têm de ser encaixadas e geridas pelos professores do 1.º ciclo para que os mais pequenos continuem motivados no início do seu percurso escolar. Os docentes realçam a importância das atividades de desenvolvimento da consciência fonológica, as brincadeiras com sons e palavras. O neuropedagogo e professor Rafael Silva Pereira criou a BACLE - Bateria de Avaliação de Pré-Competências da Leitura e da Escrita para avaliar em que nível de desenvolvimento se encontram os mais pequenos. A utilização desta ferramenta, na sua opinião, pode fazer a diferença entre o fracasso ou o sucesso escolar. 

Isabel Cabral, professora do 1.º ciclo do ensino básico, nota discrepâncias na leitura e na escrita dos meninos e meninas que passam do pré-escolar para a escola primária. Há os que dominam a leitura e há os que não reconhecem as vogais. O cenário muda na escrita. "Muitos alunos apresentam uma motricidade fina pouco desenvolvida, sendo necessário recorrer ao trabalho de grafismo, e mesmo os que dominam a leitura, poucos são os que dominam a escrita", conta. 

A experiência mostra-lhe que as aprendizagens adquiridas no ensino pré-escolar variam muito, os conhecimentos são variados e dispersos e, por isso, a continuidade do trabalho no 1.º ciclo não é assim tão linear. Os professores têm de começar do zero, apresentar letra por letra. "Se a leitura e a escrita é algo que preocupa no início da escolaridade obrigatória, mais preocupante é a não existência ou inconsistência de motricidade fina (que permite usar corretamente material de escrita, tesoura e outros), tornando-se uma barreira urgente a ultrapassar", refere.

Para Isabel Cabral, os conhecimentos prévios da leitura e escrita são importantes, mas de uma forma "simples e nivelada". Até porque, na sua opinião, a entrada no 1.º ciclo é a fase em os processos de escrita e leitura se devem iniciar de forma sistematizada. "A nível do ensino pré-escolar, considero ser mais proveitoso para as crianças um trabalho intenso a nível da fonética do que propriamente a nível da escrita/leitura, assim como um trabalho mais cuidado a nível do desenvolvimento da motricidade". 

Cláudia Caseiro é professora do 1.º ciclo há nove anos, sempre no ensino privado. Em seu entender, o trabalho feito no pré-escolar é útil para as aprendizagens no 1.º ciclo. A realidade que lhe passa à frente dos olhos revela-lhe crianças com contacto com a escrita e conscientes da sua importância para o dia a dia. Crianças que sabem escrever e identificar os seus nomes e bocadinhos de palavras, que reconhecem as letras do abecedário, que gostam que lhe sejam lidas histórias. "Já tive três turmas do 1.º ano e, em todas elas, havia pelo menos uma criança que já lia - tendo aprendido autonomamente". "É notória a diferença no desenvolvimento da consciência fonológica nas crianças nesta idade, sendo que as que a têm mais desenvolvida aprendem a ler e a escrever com mais facilidade." 

Reconhecer todas as letras antes de entrar para o 1.º ciclo não é fundamental. Cláudia Caseiro defende que é mais importante que as crianças, no pré-escolar, realizem atividades de desenvolvimento da consciência fonológica, associem oralmente palavras iniciadas ou terminadas pelo mesmo som, dividam palavras em sílabas batendo palmas, que brinquem com sons e com as palavras. Há hábitos, no entanto, que custam a perder. "No pré-escolar são trabalhados grafismos, mas apercebo-me que muitas crianças, quando chegam ao 1.º ano, desenham as letras no sentido inverso. É muito difícil para algumas perderem esse ‘vício' e há as que terminam o 4.º ano escrevendo as letras incorretamente, com caligrafias menos legíveis, apesar de todos os esforços", comenta. 

Rafael Silva Pereira, neuropedagogo e professor - atualmente diretor pedagógico da Associação Ester Janz e professor da cadeira de Dificuldades Específicas de Aprendizagem no Mestrado em Educação Especial na Escola Superior de Educação Almeida Garrett - verificou que os instrumentos validados na literatura portuguesa para avaliar, em conjunto, as pré-competências de leitura e escrita, antes do início da aprendizagem formal, eram escassos. Com vontade de criar um mecanismo inovador que possibilitasse uma avaliação e intervenção eficazes neste âmbito criou, com ajuda de Rita Rocha, aluna de mestrado, a BACLE - Bateria de Avaliação de Pré-Competências da Leitura e da Escrita, que já se encontra na terceira edição. 

A BACLE nasceu com três objetivos essenciais. Avaliar pré-competências de leitura e escrita em crianças do pré-escolar a iniciar o 1.º ano de escolaridade ou com dificuldades de aprendizagem, identificar o estádio de desenvolvimento das crianças ao nível das pré-competências adquiridas para o início da leitura e escrita, e validar um instrumento prático no âmbito da avaliação de pré-competências para início de leitura e escrita. "É uma mais-valia para que educadores e professores percebam em que estádio estão os seus alunos ao longo do ano", adianta ao EDUCARE.PT. Uma mais-valia para que percebam atempadamente qual o caminho a seguir e detetem quais as dificuldades de aprendizagem na leitura e na escrita logo no início do percurso escolar. 

"A BACLE permite assim avaliar a perceção, a produção, a retenção e a simbolização segundo indícios de pré-linguagem, pré-leitura e pré-escrita", sublinha o responsável. "É muito importante numa turma onde se encontram 30 alunos que o professor perceba se pode começar a aplicar determinada aprendizagem", refere. Nesse sentido, a BACLE apresenta um conjunto de exercícios relativos à maturidade percetiva subdividida em perceção auditiva, visual, dominância lateral e reconhecimento dessa dominância, abordando assim o esquema corporal, a orientação espaciotemporal incluindo a identificação em si, a identificação do outro e a posição no espaço gráfico. A "bateria" aborda também o desenvolvimento motor e a motricidade fina, bem como a linguagem oral subdividida em compreensão oral, consciência fonológica e expressão oral. 

A "bateria" afere competências, em que estádio de desenvolvimento o aluno se encontra, mais do que definir percentis. "Apesar de este instrumento ter como finalidade uma avaliação global de pré-competências que se interligam umas com as outras, podemos avaliar apenas as áreas consideradas emergentes ou fracas de acordo com os objetivos da avaliação". "Podemos ainda aplicar a BACLE em outras faixas etárias, desde que se perceba que o aluno, independentemente do seu ano de escolaridade, apresenta dificuldades", acrescenta. 

Rafael Silva Pereira garante que a BACLE está a ter muita procura em Portugal e não só. O Brasil tem também utilizado esta "bateria". E não é apenas a comunidade educativa que a utiliza, mas também terapeutas da fala e psicólogos. O responsável já pediu uma reunião ao Ministério da Educação e Ciência para abordar o assunto, nomeadamente a adoção da BACLE por parte de educadores e professores.
Sara R. Oliveira
In: Educare

"A Inclusão é algo complicado mas, simultaneamente, simples"

Hoje, publico o resumo da Conferência do Prof. Doutor Seamus Hegarty, que decorreu no dia 18 de maio, no Instituto da Educação. Trata-se de uma adaptação do texto do editorial da newsletter da segunda quinzena de maio, da Pró-Inclusão: Associação Nacional de Docentes de Educação Especial,  cuja redação pertence a Ana Rosa Trindade e a Nelson Santos.


O preletor iniciou com a sua exposição com uma provocação: a Inclusão é algo complicado, mas simultaneamente simples. Parece existir um consenso acerca do conceito de educação de qualidade. A investigação já mostrou o que é uma educação de qualidade; porém, porque é que não se faz mais para incluir efetivamente Todos! As mudanças no mundo têm sido extremamente rápidas, mas as mudanças na Educação são pouco evidentes, porquê? A Educação não tem mudado, de forma significativa e as políticas que devem ser impulsionadoras de mudança têm sido favoráveis a essa mudança? Ou, por vezes revelam-se como entraves? 

Em Inglaterra nos anos 70 surge o conceito de NEE, que vem ser reforçado pelo Warnock Report. Tornou-se óbvio que as escolas deveriam/poderiam dar uma boa resposta às crianças com NEE. A questão não é como se deve fazer na atualidade, a questão é como fazer? Em Inglaterra as políticas dos anos 80 centraram-se na melhoria da escola – é então criado um currículo nacional, rankings e a inspeção escolar. Estas políticas funcionaram bem com as crianças da classe média e média alta, mas para as crianças de classes baixas o insucesso aumentou levando as escolas a “filtrar” as entradas baseadas no sucesso escolar, promovendo a exclusão dos alunos baseada na seleção dos melhores. A Inspeção não estava preparada para este novo modelo de Escola. 

Passando para a realidade dos EUA o orador referiu que a educação é da responsabilidade do Estado mas é possível observarmos uma grande diversidade entre os vários Estados. Podemos observar que em determinados estados têm níveis semelhantes à Coreia e Japão. No entanto existem Estados que têm desempenhos inferiores aos de Portugal. 

A legislação “No Child Left Behind” (nenhuma criança deve ser deixada para trás) foi um marco importante e consiste em assegurar que todas as crianças recebem uma educação de qualidade; no entanto, esta situação teve um dano colateral por ser uma lei muito fechada. Foram surgindo várias tensões entre as Escolas e as Famílias, tendo mesmo havido inúmeros processos em tribunais com o consequente dispêndio financeiro e ruptura entre estas duas instituições. 

O orador falou das tensões que se verificam na atualidade: 
As políticas servem para diminuir o fosso entre resultados dos alunos, ou pelo contrário estão a aumentar esse fosso? 
A educação é cara e a educação especial é ainda mais cara, com tantos cortes como continuar a fazer bem com menos dinheiro? 
Qual o limite da responsabilidade local e qual a abrangência da responsabilidade central? 
Os alunos com NEE devem ser educados na Escola Pública ou em Instituições de Educação Especial? 
A avaliação deve continuar a direcionar-se para a área académica ou ser direcionada para uma vertente mais ampla para incluir as crianças com NEE? 
Porque insistir num sistema de avaliação que se tem revelado “produtor” de insucessos? 

Sobre a formação de professores, Seamus Hegarty refere que há bons profissionais que desenvolvem um excelente trabalho mas questiona, tal como em todas as áreas do trabalho, se todos os professores têm competências para trabalhar com as crianças com NEE? É importante termos bons recursos nas escolas, para se criarem bons ambientes, ambientes inclusivos e que promovam a relação escola/ família. 

A formação de professores nos EUA tem-se centrado na formação contínua, em permanência dado que trabalhar com estes alunos revela-se um desafio constante. 

Esta é uma área de investimento muito valorizada – a formação tem incidido no desenvolvimento da capacidade do professor em motivar o aluno para a aprendizagem. 

O preletor referiu ainda, os fatores que segundo a sua perspetiva influenciam as políticas: 
Os meios de comunicação; 
O lobbying, ou seja como podemos influenciar a legislação para defender os nossos interesses; 
A tradição, que se traduz, nos EUA na organização do calendário escolar de acordo com costumes que, atualmente já não existem; 
Os recursos, que cada vez escasseiam mais; 
O processo de decisão política é muito complexo e tem múltiplas variáveis e que muitas vezes as ideias que parecem ser boas podem ter como consequência maus resultados. 

Respondendo a uma questão sobre o que faria se tivesse todo o poder para alterar os rumos da educação, Seamus Hegarty respondeu: “professores, professores, professores! Em todos os sistemas do mundo existe demasiada proteção dos professores. Deveríamos ser mais afirmativos em relação a isso.

Há professores que se mantêm no sistema sem terem qualidade no seu desempenho e esta situação pode gerar situações de destruição de uma vida de uma criança e em última análise do sistema de ensino e continuou afirmando que é fundamental fundamentarmos a nossa prática em investigação e valorizar da mesma forma os pequenos avanços dos alunos NEE como valorizamos os grandes avanços dos alunos sem dificuldades”.

Ser pai ou mãe causa angústia por ser "muito exigente"

A tarefa de ser pai ou mãe tornou-se "muito exigente", causando angústias que podem levar ao adiamento da parentalidade, defendeu hoje a socióloga e investigadora Vanessa Cunha, responsável por um estudo que será apresentado na quinta-feira.

A decisão de ter filhos "tornou-se qualquer coisa de muito exigente, parece que temos de ser muito qualificados em termos parentais para assumir este compromisso", disse (...) Vanessa Cunha do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa.

Atualmente, "há muitas pessoas que sentem insegurança acerca se vão saber ser pais, se vão conseguir exercer convenientemente este papel", ao contrário do que acontecia na geração anterior em que a parentalidade era "assumida mais naturalmente, sem este tipo de angústias e incertezas", explicou.

Vanessa Cunha é a investigadora responsável pelo estudo "a intenção de ter crianças e o adiamento em tempos de incerteza", realizado em parceria com o centro de investigação da Universidade de Évora e que será apresentado na quinta-feira.

Este projeto pretende ajudar a compreender o adiamento da parentalidade em Portugal, tanto do segundo filho, o que já vinha acontecendo há alguns anos, como do primeiro, o que é uma situação recente.

"O que temos desde os anos 50 é o adiamento da vinda do segundo filho o que faz com que seja tão visível a questão do filho único na sociedade portuguesa", um traço distintivo em relação aos vizinhos culturais da Europa do sul, explicou Vanessa Cunha.

Mas, a geração que nasceu entre 1970 e 1975 "já tem um adiamento intenso do nascimento do primeiro filho" e, num inquérito realizado em 2010, quase 30% dos homens e 20% das mulheres ainda não tinham tido filhos, segundo Vanessa Cunha.

A investigadora referiu que são muitas as razões para o adiamento da decisão de ter filhos, sendo "a insegurança financeira a questão central em jogo".

Sendo uma decisão de longo prazo, a análise não fica pela situação económica e é cada vez mais ponderada não só em termos individuais, mas também de casal e o estudo vai analisar como as divergências são negociadas e como podem levar ao adiamento.

O facto de as conjugalidades "serem hoje consideradas, à partida, qualquer coisa que pode não ser para a vida toda conflitua com a ideia de que a parentalidade é para a vida, acha-se que ter filhos continua a ser um projeto que deve ser vivido a dois", explicou.

A insegurança e incerteza laboral e de políticas públicas na área da família, com perda de direito a benefícios como os abonos, a dificuldade de conciliação entre vida profissional e vida da família e a falta de apoio de familiares, principalmente dos avós, são outras razões para as dúvidas.

"Este adiamento também torna a questão da transição para a parentalidade numa luta contra relógio e muitas vezes já enfrentam outras dificuldades, ao nível da fertilidade. Muitas vezes querem um segundo filho e já não conseguem", alertou ainda Vanessa Cunha.
Por Paula Morato
In: DN

terça-feira, 28 de maio de 2013

OMS quer diminuir casos de deficiências visuais evitáveis

Os países que fazem parte da Organização Mundial de Saúde (OMS) concordaram em lançar um plano de ação para reduzir em 25 por cento os casos de cegueira e outras incapacidades visuais. As últimas estimativas contabilizam, em todo o mundo, 285 milhões de pessoas com deficiências visuais, sendo 39 milhões cegas. Os especialistas admitem até 80 por cento destes casos poderiam evitar-se.
As duas principais causas das incapacidades visuais são os erros de refração não corrigidos e as cataratas, que representam 42 e 33 por cento dos casos, respetivamente, apesar de em todos os países existirem intervenções para reduzir a prevalência de ambos os problemas.
O plano agora aprovado refere que cada país deve melhorar o acesso das pessoas afectadas aos serviços de reabilitação. Além disso, devem ser implementados planos de controlos das doenças oculares como parte dos sistemas de saúde.
O objetivo é que, entre 2014 e 2019, se consiga a redução de pelo menos um quarto das doenças oculares que se podem prevenir. Para isso, os países terão de recolher dados que lhes permitam entender a magnitude do problema e as suas causas, assim como tomar as melhores decisões na atribuição de recursos financeiros e humanos.
Nesta linha, considera-se fundamental determinar o número de oftalmologistas por cada milhão de habitantes. A OMS considera que se o controlo destas doenças for mais desenvolvido, se poderá reduzir significativamente a sua incidência entre as pessoas com mais de 50 anos, categoria que, segundo as projecções atuais, concentrará 84 por cento dos casos em 2019.

INCLUDiT – Conferência Internacional para a Inclusão

Num contributo para a discussão científica de assuntos do domínio da inclusão, e em consonância com os princípios do projeto IPL (+) INCLUSIVO, a Unidade de Investigação Acessibilidade e Inclusão em Ação (iACT), do Instituto Politécnico de Leiria, propõe-se levar a cabo uma reunião científica internacional – INCLUDiT – Conferência Internacional para a Inclusão – a decorrer no Instituto Politécnico de Leiria, nos dias 5 e 6 de julho de 2013.

Este encontro propõe-se estimular o diálogo de investigadores dos mais diversos domínios do saber com vista a uma abordagem multidisciplinar de temáticas tão diversas quanto a deficiência, questões de identidade, multiculturalidade, fatores de discriminação ou questões de saúde física e mental, entre outras. É ainda objetivo criar espaços para a partilha de boas práticas e o estímulo de novos saberes.

Ao longo dos dois dias serão dinamizadas sessões plenárias e paralelas para a apresentação de comunicações livres; e serão mantidos espaços para a exposição de posters e trabalhos, bem como para a troca informal de ideias e criação de parcerias. Haverá igualmente espaço à manifestação artística, sempre subordinada ao grande tema da inclusão.

Esperamos que esta conferência possa enriquecer um debate informado e interdisciplinar, favorecendo o desenvolvimento de olhares críticos e estimulando novos percursos de investigação. Para o efeito, contará com a participação de jovens empreendedores e reputados especialistas, investigadores e artistas de várias áreas e de diversas regiões do globo, envolvidos em projetos relacionados com este tema. Serão particularmente bem-vindos novos talentos e novas ideias com vista a um futuro mais progressivo e inclusivo.

Desta conferência resultará a publicação de um livro com comunicações selecionadas.

Para além do programa científico, esta conferência contará com um diversificado programa cultural e social.

A conferência será gratuita mas carece de inscrição prévia através do preenchimento do formulário de inscrição. Dado às limitações de espaço é fundamental que apenas se inscreva quem tenciona efetivamente participar. Agradece-se que qualquer desistência seja comunicada (includit@ipleiria.pt) para que o lugar possa ser preenchido por outros interessados.

Ficha de inscrição aqui.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

«O ensino diferenciado deve ser visto como um investimento que pode ser transversal à sociedade»

Entrevista com Josep Barnils sobre os desafios do modelo de Educação Diferenciada.

O IV Congresso Internacional de Educação Diferenciada, organizado pela Associação Europeia para a Educação Diferenciada (EASSE, sigla em inglês), realizou-se na Reitoria da Universidade Nova de Lisboa nos passados dias 19 e 20 de abril.
Josep Barnils, um dos oradores da conferência e atual presidente da EASSE, respondeu a algumas perguntas sobre Educação Diferenciada, uma das formas de organização da escola que pretende possibilitar o desenvolvimento, em sala de aula, da educação personalizada recorrendo à divisão entre géneros.

O que é o Modelo de Educação Diferenciada?
A educação diferenciada foca-se nos aspetos distintos da educação de rapazes e raparigas. Estamos a falar em grupos distintos, que têm características distintas, formas de pensar e interesses diferentes, e há que tratá-los e educá-los de formas distintas em casa, na escola e na sociedade. Esta afirmação não pretende referir que uns são melhores do que outros; simplesmente são distintos, não só fisiologicamente, mas em múltiplos aspetos.

Quais são as vantagens deste modelo de educação? E as desvantagens?
Há cerca de três anos a UNESCO publicou um documento onde referiu que devia haver educação personalizada, tratando cada pessoa de acordo com a sua forma de ser, as suas características, as suas necessidades e limitações. A educação diferenciada torna o processo mais fácil. Estando rapazes e raparigas separados é mais fácil tratá-los de formas distintas. Há ritmos de aprendizagem e de maturidade diferentes; crescem, por isso, também com ritmos distintos, caraterísticas que nos permitem compreender que somos iguais, mas, naturalmente, com diferenças.

Em que idades seria adequada a educação diferenciada?
Embora nem todos os especialistas estejam de acordo, na minha opinião, o que coincide com a da maioria dos estudiosos, a melhor idade é 6-18 anos. Ou seja, desde ensino primário até à conclusão do secundário.

O ensino diferenciado é adequado a todos? 
Em todo o mundo e em todas as culturas há educação diferenciada. Em todo o mundo os rapazes e raparigas são diferentes, e é igualmente aplicável este tipo de ensino. O ensino diferenciado deve ser visto como um investimento que pode ser transversal à sociedade. Um dos objetivos primordiais do ensino diferenciado é ensinar hoje os jovens e formá-los para serem melhores pessoas sempre, transmitindo valores que vão para além do critério académico.

As taxas de sucesso escolar são diferentes para rapazes e raparigas?
Em geral, o êxito escolar é melhor nos colégios de educação diferenciada do que nos colégios mistos. As raparigas normalmente conseguem melhores resultados face aos rapazes até aos 18 anos. Segundo um estudo da Universidade da Pensilvânia (EUA), as escolas de raparigas em Seul (Coreia do Sul) são as que têm maior sucesso, seguida das de rapazes e, por fim, as escolas mistas.

Num momento em que a educação inclusiva é a norma, fruto de luta de décadas, que sentido faz hoje a educação exclusiva?
A educação mista generalizada foi o resultado de uma luta justa para garantir que as mulheres tivessem a mesma educação e as mesmas oportunidades que os homens, porque durante séculos as mulheres foram criados para serem esposas, mães e donas de casa. As pessoas que lutaram nesses movimentos confiaram que o caminho certo para alcançar essa igualdade era colocar rapazes e raparigas nas mesmas salas de aula. Alcançado esse objetivo, tem sido questionado se essa era a única e melhor solução. Muitos investigadores consideram que existem outras possibilidades e, geralmente, mais fáceis, para proporcionar uma educação de qualidade para ambos os géneros. Um desses caminhos é a educação diferenciada, que afirma que, em aulas mistas ou em classes separadas, a preocupação passa por educar meninos e meninas de acordo com as suas características e, portanto, como resultado da sua condição sexual.

Este modelo de ensino não é um retrocesso em termos sociais?
De todo. O que pretende é dar uma educação personalizada da mais alta qualidade a todas as crianças, tornando menos difícil o trabalho dos professores.

No nosso modelo de sociedade em que se luta todos os dias pela igualdade entre géneros, não será redutor fazer a separação de rapazes e raparigas?
Pelo contrário. Verifica-se que as mulheres que estudaram em colégios de raparigas têm seguido uma carreira científica de sucesso, bastante superior às raparigas provenientes de colégios mistos. Se analisarmos os últimos 25 anos, que mulheres têm chegado ao poder e a ocupar cargos de importância? E podemos constatar que muitas delas estudaram em colégios de raparigas. Por exemplo Margaret Thatcher, Hillary Clinton…

As raparigas e os rapazes são de tal modo diferentes em aspetos relevantes que necessitam de formas diversas de lhes ministrar a educação?
Como somos diferentes temos de ser educados de forma diferente. Os rapazes são mais irrequietos, distraem-se mais e têm mais dificuldade em estar atentos nas aulas. As raparigas leem melhor e controlam melhor as suas emoções. Com esta contextualização conseguimos ver a educação diferenciada como uma solução a partir de uma determinada idade, com um objetivo claro: fazer corresponder a aprendizagem correta à pessoa exata, acompanhar o crescimento, apoiar o estudo, personalizar o ensino, ou seja, adaptamos o ensino à natureza própria de cada aluno.

As diferenças entre sexos são de carácter biológico, e portanto inevitáveis, ou resultam de aspetos culturais, e portanto podem mudar-se?
Praticamente todos os investigadores e especialistas concordam que as diferenças de género são biológicas. Nos últimos anos, todos os cientistas concordam que o cérebro de uma mulher e do cérebro do homem são diferentes, apesar de ainda não se ter verificado todas as consequências que isso pode ter no processo educativo dos alunos.

O próprio facto de se sugerir a possibilidade de haver diferenças inatas equivale a insinuar que há menorização de um sexo face ao outro?
Ser diferente não implica superioridade face ao outro, apenas distinção. Os homens e mulheres são diferentes, o que não significa que as mulheres são superiores aos homens nem que os homens são superiores às mulheres.

Deveria o Estado oferecer aos pais e aos alunos a opção por um ensino diferenciado? Porquê?
Para mim o mais importante para uma pessoa é a liberdade. É um dos principais objetivos permitir que os pais possam escolher o modelo de educação a dar aos seus filhos, tanto na escolaridade pública como na privada, para que seja uma decisão que não seja feita com base no poder económico. Há uns tempo questionaram-me se eu era contra as escolas mistas. Eu respondi que não, sou apenas a favor da liberdade. Hoje estou aqui a defender as escolas single sex, quem sabe se não existissem escolas mistas, eu estaria aqui a promover escolas mistas?

Este modelo de ensino não perpetua a ideia de que os homens e as mulheres serão sempre diferentes?
A educação diferenciada pretende que tanto no seio familiar, como na escola ou na sociedade, se tenha em consideração que homens e mulheres são diferentes e que, por esse motivo, deverão ser tratados justamente e de um modo distinto. E naturalmente homens e mulheres sempre foram diferentes, nenhum é melhor do que o outro, apenas diferentes.

A evolução social tende a situar homens e mulheres lado a lado, com equivalência de direitos e deveres, na família, no trabalho e em geral na vida quotidiana. Em que medida o ensino diferenciado tem em conta esta evolução?
A educação diferenciada não só tem em conta, como potencia que cada aluno conheça, respeite e valorize o outro sexo. Foi traçado um plano de igualdade, de modo transversal, aplicado a todo o processo educativo dos alunos.

Por Maria João Pratt
In: Crescer

Universidade de Coimbra dá passo nas doenças neuropsiquátricas

Um grupo de investigadores da Universidade de Coimbra identificou, pela primeira vez, os perfis de metabolização da população portuguesa, com implicações nas doenças neuropsiquátricas, incluindo as toxicodependências. A descoberta poderá vir a melhorar a prática clínica, bem como a segurança dos fármacos utilizados para tratar aquele tipo de patologias.

De acordo com um comunicado (...), a equipa multidisciplinar liderada por Manuela Grazina, coordenadora do Laboratório de Bioquímica Genética do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC), conseguiu identificar as alterações genéticas, caraterísticas dos perfis de metabolização, do gene CYP2D6. 

Trata-se de um gene com múltiplas formas que codifica uma das principais enzimas envolvidas no metabolismo dos fármacos utilizados para tratar doenças neuropsiquátricas como a Depressão ou as toxicodependências.

Os investigadores da Universidade de Coimbra, que trabalharam em conjunto com especialistas de Badajoz, Espanha, identificaram os quatro principais perfis de metabolização - ultrarrápidos, muito lentos, extensivos e intermédios - sendo os dois primeiros, segundo Manuela Grazina, altamente problemáticos.

Isto porque, como explica a docente da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC), "a eficácia do fármaco administrado depende da forma como o organismo o processa. Se a reação é muito lenta, o medicamento acumula-se no organismo e pode gerar efeitos indesejáveis. Se a reação é muito rápida, o fármaco é degradado, influenciando igualmente a resposta terapêutica". 

Ou seja, "as caraterísticas genéticas de cada indivíduo decidem a eficácia dos fármacos consumidos e o aparecimento de efeitos tóxicos", esclarece a cientista, que assina o estudo que se encontra em fase de publicação na revista científica Personalized Medicine. 

Benefícios para mais de um milhão de portugueses

O estudo, aprovado pela Comissão de Ética, envolveu 300 voluntários adultos portugueses de várias regiões do país e possibilitou concluir que mais de 665 mil portugueses possuem o perfil de metabolizadores lentos e 496.422 ultrarrápidos. Para fazer a extrapolação para a população portuguesa, a equipa utilizou resultados dos Censos 2011 publicados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). 

Manuela Grazina salienta que estes resultados são "muito importantes para melhorar a segurança dos medicamentos" e, além disso, constituem "uma ferramenta essencial para a prática clínica", já que "permitem ao médico prescrever a medicação e a dose mais adequadas, que podem evitar o surgimento de efeitos patológicos". 

A investigadora garante que "mais de um milhão de portugueses poderia beneficiar deste conhecimento" e defende que, dada a importância deste gene (que entra na metabolização de 25% dos fármacos regularmente utilizados na prática clínica) e considerando o impacto social e económico causado por doenças neuropsiquiátricas ou pela dor crónica, "um investimento neste tipo de estudos é crucial para a prevenção a longo prazo". 

A investigação foi desenvolvida no âmbito de um projeto internacional do Consortium of the Ibero-American Network of Pharmacogenomics and Pharmacogentics - RIBEF - onde também foram traçados os perfis das populações do Brasil, de Espanha, de Cuba, entre outras. 

O estudo irá continuar com a investigação deste e de outros genes (como os recetores e transportadores de dopamina, serotonina) em toxicodependentes, em colaboração com a Unidade de Desabituação do Centro, para compreender as diferenças observadas na eficácia da desintoxicação, com base nas variações genéticas e metabólicas.

Cataratas : o tratamento é cirúrgico

É uma doença conhecida há milhares de anos e a sua cirurgia já é realizada há séculos. Nos últimos anos a medicina deu um passo de gigante e já é possível operar a catarata e no mesmo dia ir para casa a ver. O primeiro sinal é um embaciamento do olhos. Esta é uma das patologias que mais frequentemente afeta a população sénior e com tendência para aumentar, acompanhando o aumento da esperança de vida da população.

O que é uma catarata?
A catarata corresponde a uma opacificação do cristalino (lente existente dentro do olho que nos permite focar objetos a diferentes distâncias). As cataratas podem ser ligeiras, afetando sobretudo a qualidade de visão, ou então avançadas, com grande opacificação, originando profunda diminuição da qualidade e quantidade de visão.

A catarata é uma doença oftalmológica comum?
É uma das patologias mais frequentes em oftalmologia tipicamente associada a idade ou a diversas e é a causa mais frequente de cegueira reversível (curável) em países desenvolvidos.
Em Portugal, vários estudos permitem estimar que seis em cada dez pessoas com mais de 60 anos apresentam sinais desta doença. Podemos dizer que de acordo com a fisiopatologia do cristalino se todos vivêssemos até aos 150 anos todos iriamos ter cataratas.

Que tipos de cataratas existem?
Existem diversos tipos. A forma mais frequente é aquela que surge com a idade na ausência de outras doenças. No entanto, as cataratas podem surgir secundariamente a uma doença sistémica como, por exemplo, a diabetes Mellitus, a uma doença ocular como uma alta miopia, a um traumatismo ocular ou até à toma de determinados medicamentos nomeadamente os fármacos à base de cortisona. As suas diferentes causas podem também estar associadas a diferentes tipos morfológicos de catarata, nomeadamente: nucleares, corticais, subcapsulares posteriores..

Quais os sintomas do doente com catarata?
O sintoma mais comum é a diminuição da acuidade visual tipicamente associada a presença de uma visão turva (enevoada). Existem outros sintomas como, por exemplo, alteração da visão das cores, visão dupla de um só olho, diminuição do contraste.

Qual o tratamento das cataratas?
Até à data não existem tratamentos conservadores (médicos) com eficácia comprovada que permitam tratar uma catarata e, portanto, o tratamento é sempre cirúrgico.
Quero salientar, ainda, que é comum pacientes geralmente com mais de 50 anos e que pretendem ser mais independentes dos óculos, recorram a cirurgia refractiva de cristalino para corrigirem erros refractivos elevados, por exemplo miopias ou hipermetropias elevadas. É uma cirurgia em tudo idêntica à cirurgia de catarata, no entanto, aqui ainda não existe catarata.

Quando é que se devem operar as cataratas?
Quando a visão dos pacientes já não é suficiente para permitir realizar a sua atividade diária ou profissional. Geralmente em indivíduos idosos com uma vida mais calma a indicação cirúrgica está situada nos 50 por cento de visão, enquanto, por exemplo, num indivíduo mais jovem, ativo, geralmente opera-se com visões superiores de acordo com as suas necessidades e limitações.
A cirurgia está indicada também quando a catarata interfere com a vigilância ou tratamento de outra doença visual.

Em que consiste a cirurgia de catarata?
Na cirurgia de catarata o que cirurgião oftalmológico faz é substituir o cristalino opacificado por uma lente intraocular de elevada qualidade óptica.

Mais sobre a cirurgia da catarata...
Decorre em ambiente estéril, num bloco operatório adequado para o efeito e com recurso a tecnologia específica que utiliza ultrassons para remover o cristalino opacificado.
É realizada habitualmente em regime de ambulatório (alta no próprio dia da cirurgia), e com anestesia local (gotas), sem dor para o doente e é cirurgia associada a uma elevada satisfação do doente uma vez que na ausência de outras doenças oftalmológicas os doentes recuperam totalmente a sua visão

Após a cirurgia ainda é preciso usar óculos?
Depois da cirurgia é habitual serem receitados óculos, sobretudo para corrigir a visão de perto (a lente intraocular introduzida durante a cirurgia retira qualquer capacidade ainda existente de visão para perto uma vez que, ao contrário do cristalino humano, ela não tem essas propriedades acomodativas).
Algumas lentes intraoculares mais modernas e que já utilizamos na Clinica Europa permitem uma visão para longe e perto, obviando a necessidade de óculos – LIO multifocais.

A catarata não volta a aparecer?
Não. O que por vezes acontece alguns anos após a cirurgia, é uma opacificação secundária da cápsula (estrutura que apoia/sustenta a LIO) podendo ser necessário um tratamento com laser para limpar essa cápsula, o qual é bastante eficaz.

Paulo Guerra

“É importante que os professores sejam responsabilizados pelo desempenho dos alunos”

Eric Hanushek começou por fazer carreira na Força Aérea dos Estados Unidos, onde tirou a licenciatura. Mais tarde, fez o doutoramento em Economia no Instituto de Tecnologia do Massachusetts (MIT, na sigla inglesa). Atualmente é investigador no Instituto Hoover, na Universidade de Stanford e dedica-se a temas da Economia da Educação. Esteve recentemente em Espanha, a convite do ministro da Educação espanhol; e está, esta segunda-feira, em Lisboa, para participar na conferência “Educação, Ciência, Competitividade”, organizada pelo Ministério da Educação e Ciência. A sua intervenção terá como tema “Políticas Educativas para a Qualidade e para o Crescimento Económico”.

Considera que em Portugal estamos a gastar demasiado em educação?
A questão não é se estão a gastar demasiado, mas se os resultados não deveriam ser melhores. Outros países da OCDE que gastam o mesmo que Portugal têm melhores resultados. Portanto, é muito importante para o país melhorar o seu desempenho escolar.

Quanto dinheiro deve um país gastar em educação?
Essa é uma questão política. Convém, no entanto, que o país se esforce para que os seus gastos sejam eficazes.

Mas como é que se pode tornar o sistema eficiente?
A investigação internacional dá algumas pistas: a chave para melhorar o sistema está na melhoria da qualidade dos professores. Para o fazer é necessário dar incentivos às escolas e aos professores. Apesar de ser politicamente difícil é preciso considerar a possibilidade de pagar aos professores pelo seu desempenho. Além disso, é importante que os professores sejam responsabilizados pelo desempenho dos seus alunos. Mais: se os pais tiverem liberdade de escolha da escola, esta vai incentivar as escolas a melhorar a qualidade dos seus professores e a sua eficiência.

É apologista de salas de aula com mais alunos. Em Portugal, o número aumentou para 28. Qual é o número ideal?
A investigação ainda não revelou o número óptimo de alunos por sala. Reduzir o número de alunos por turma é uma das ideias mais caras e que tem revelado ter muito pouco impacto no sucesso dos alunos. O que a investigação sugere é que ter menos alunos por turma, no pré-escolar e no 1.º ciclo, pode ajudar – um pouco – a conquistar melhores resultados. Mas há maneiras melhores de gastar dinheiro em educação do que na redução do número de alunos por turma. A qualidade do professor é muito, muito mais importante que o número de alunos por turma.

Sabemos que a Coreia do Sul ou o Japão, onde as salas de aula podem ter mais de 30 alunos, têm melhores resultados nos testes da OCDE que os EUA ou Portugal. Quando, na sua investigação aponta os casos asiáticos não está a esquecer-se de que por detrás desses números estão factores culturais diferentes?
Um bom professor sabe como gerir uma sala e levar os seus estudantes, mesmo quando eles não estão naturalmente preparados para tal.

Na sua investigação fala de “professores eficientes” e de “professores de qualidade”. São sinónimos?
Para mim, um “professor eficiente” é a mesma coisa que um “professor de enorme qualidade”.

Como é que os define?
A investigação falha na descrição das características ou do comportamento de um “professor eficiente”. Sabemos que há profissionais que, por sistema, são melhores em sala de aula do que outros, mas é difícil descrevê-los. Contudo, é possível identificar quem se está a sair bem e quem não está.

Nas escolas públicas portuguesas, é o ministério que distribui os professores pelas escolas. Portanto, ainda que um director soubesse identificar os “professores eficientes” de nada lhe serviria.
Os directores devem estar envolvidos na administração e gestão do seu pessoal. Deveria ser-lhes permitido escolher quem deve entrar e sair da sua escola. Contudo, isto só faz sentido se o director também for avaliado com base no desempenho dos alunos da sua escola. Os directores devem estar apostados na melhoria dos resultados dos estudantes, mais do que em qualquer outro assunto.

Em que é que um professor “ineficiente” pode prejudicar um aluno?
Um estudante que tem um mau professor pode ficar para trás na sua carreira académica, para sempre. Se não aprender o que está previsto num determinado ano de escolaridade, vai para o ano seguinte com um atraso, o que o pode atrasar cada vez mais. 

Então, todos os estudantes são bons se tiverem um “professor eficiente”?
A investigação não é conclusiva em relação a essa questão. Mas parece que um “professor de qualidade” é bom independentemente de ensinar alunos de topo ou de base. O contrário também é verdade: um mau professor prejudica os bons e os maus alunos.

Um professor “ineficiente” pode tornar-se “eficiente”? 
A investigação sugere que é difícil melhorar o desempenho dos maus professores. É um investimento que raramente se paga a si mesmo.

sábado, 25 de maio de 2013

As crianças desaparecidas, algumas estão à vista

O calendário das consciências determina que o dia 25 de Maio como o Dia Internacional da Criança Desaparecida. Assim sendo, algumas notas sobre este inquietante universo.

Segundo o Instituto de Apoio à Criança, em 2012 foram registados 53 casos de crianças desaparecidas que, felizmente, tiveram desfecho positivos, as crianças ou jovens foram encontrados como acontece, aliás, na grande maioria das situações de crianças que desaparecem. Lamentavelmente nem sempre os processo de correm assim, recordemos as tragédias mais mediatizadas que envolveram o Rui Pedro, desaparecido há 15 anos em Lousada, no norte de Portugal; e a Maddie McCann, em 2007 no Algarve, dos quais nada sobre o que lhes terá acontecido.

De há uns anos para cá tem sido feito um esforço nacional e internacional no sentido de aumentar a eficácia na abordagem a situações desta natureza bem como dedicar maior atenção aos factores de risco de que a título de exemplo se citam as redes sociais, que não podendo, obviamente, ser diabolizadas, apresentam alguns riscos que não devem ser negligenciados.

Embora se saiba, como já referi, que muitos dos casos reportados de desaparecimento de crianças e adolescentes acabem por ter, por assim dizer, um final feliz, o desaparecimento é temporário, reactivo a incidentes pessoais ou a resultados escolares, alguns transformam-se em tragédias sem fim como os casos citados do Rui Pedro ou da Maddie McCann. Merece ainda registo o número elevado de crianças desaparecidas através do rapto parental em contexto de separações familiares com algo grau de litígio e que, evidentemente, implicam enorme sofrimento para todos os envolvidos, em particular para os mais vulneráveis, as crianças.

Situações como as do Rui Pedro ou da Maddie McCann são absolutamente devastadoras numa família. Nós pais, não estamos "programados" para sobreviver aos nossos filhos, é quase "contra-natura". Se a este cenário acresce a ausência física de um corpo que, por um lado, testemunhe a tragédia da morte mas, simultaneamente, permita o desenvolvimento de um processo de luto, a elaboração da perda como referem os especialistas, que, tanto quanto possível, sustente alguma reparação e equilíbrio psicológico e afectivo na vida familiar, a situação é de uma violência inimaginável.

No entanto e neste contexto, creio que vale a pena não esquecer a existência de muitas crianças que estão desaparecidas mas que, por estranho que possa parecer, estão à vista, situações que por desatenção e menos carga dramática passam mais despercebidas.

Na verdade, existem muitíssimas crianças e jovens que vivem à beira de pais e professores para os quais passam completamente despercebidas, são as que eu designo por crianças transparentes, olhamos para elas, através delas, como se não existissem. Não estando desaparecidas, estão abandonadas. Algumas delas não possuem ferramentas interiores para lidar com tal abandono e desaparecem, mantendo-se à nossa vista, no primeiro buraco que a vida lhes proporcionar, um ecrã, outros companheiros tão abandonados quanto eles, o consumo de algo que lhes faça companhia ou a adrenalina de quem nada tem para perder.

Em boa parte das situações, por estes ninguém procura. E alguns, por vezes, também se perdem de vez.

José Morgado
Professor universitário no ISPA - Instituto Universitário

sexta-feira, 24 de maio de 2013

O psiquiatra que "descobriu" o TDAH confessou que "é uma doença fictícia"

Hoje em dia, são tantas as doenças e os transtornos que se descrevem nos manuais de psiquiatria que o difícil é não termos nada. Depois de ver incluir as birras no último manual de pediatria da DSM e os EUA afirmarem num relatório que uma em cada cinco crianças tem um distúrbio de saúde mental, números que parecem um insulto ao senso comum das pessoas, porque é impossível que tantas crianças sejam doentes mentais, surgem umas declarações de Leon Eisenberg, o psiquiatra que "descobriu" o transtorno do défice de atenção com hiperatividade (TDAH), que não deixam indiferente ninguém que vive ou trabalha com crianças .
O semanário alemão Der Spiegel, num artigo no qual pôs em relevo o surgimento de doenças mentais na população alemã, referiu que Eisenberg, sete meses antes de sua morte, quando já tinha 87, disse que "o TDAH é um exemplo de doença fictícia ".

Os inícios do TDAH
As primeiras tentativas para explicar que existiam crianças com TDAH aconteceram em 1935. Naquela época, os médicos trataram pela primeira vez crianças de escolas primárias com um caráter inquieto e dificuldade de concentração com o diagnóstico de síndrome pós-encefálico. Foi uma tentativa que não deu certo, porque, é claro, a maioria dessas crianças nunca tive encefalite.
Na década de sessenta apareceu o protagonista da nossa história, Leon Eisenberg, que voltou a falar sobre a doença, mas desta vez com um nome diferente, "reação hipercinética da infância". De acordo com este diagnóstico, poderia tratar os alunos difíceis com recurso a  diferentes drogas psicotrópicas. Tudo começou com a dextroanfetamina e depois o metilfenidato, que alcançou o seu objetivo e que prevalece hoje como um tratamento de escolha: as crianças animadas enérgicas transformam-se em crianças dóceis.
No ano de 1968 incluiu-se a "reação hipercinética da infância" no Manual Diagnóstico e Estatístico (DSM) e, desde então, faz parte do referido manual, só que com o nome de Transtorno de Défice de Atenção familiar e Hiperatividade (TDAH).

O objetivo de Leon Eisenberg e dos seus colaboradores foi conseguir enraizar a crença de que o TDAH tem causas genéticas, que é uma doença com que se nasce. Ele próprio mencionou, junto com as palavras em que disse que era uma doença inventada, que a ideia de que uma criança tem TDAH (ou seja, a ideia de que uma criança é muito agitada e problemática) desde o nascimento foi sobrevalorizada. No entanto, ao chegar a aclarar esta  situação na população e nos pais, o sentimento de culpa desaparece, os pais sentem-se aliviados porque a criança nasce dessa maneira e o tratamento é menos questionável. Em 1993, foram vendidos nas farmácias alemãs 34 kg de metilfenidato. Em 2011, vendeu 1,760 kg.
O conhecido psiquiatra, que veio a assumir a gestão de serviços psiquiátricos no prestigiado Massachusetts General Hospital, em Boston, onde foi reconhecido como um dos mais famosos praticantes de neurologia e psiquiatria do mundo, decidiu confessar a verdade meses antes de sua morte, por motivos de cancro da próstata, acrescentando que um psiquiatra infantil deve tentar determinar as razões psicossociais que podem originar os problemas de comportamento. Ver se há problemas com os pais, se há discussões familiares, se os pais estão juntos ou separados, se há problemas com a escola, se a criança tem dificuldade para se adaptar, porque lhe custa a adpatar, etc. Para tudo isso, ele acrescentou que, logicamente, isso leva tempo, trabalho e, acompanhado de um suspiro, concluiu: "receitar uma pílula para o TDAH é muito mais rápido" (ao qual eu gostaria de acrescentar "e mais vantajoso para os negócios da psiquiatria ").

Nota: O texto foi traduzido livremente do espanhol, mas continua, para os interessados, aqui.

Apoio ao estudo e coadjuvação passam a ser componente lectiva

O apoio aos alunos e a coadjuvação vão passar a ser considerados componente letiva, adiantou (...) o secretário de Estado da Administração Escolar, João Casanova de Almeida, conforme previsto no despacho de organização do ano escolar ainda por divulgar.
"Está concluído o despacho de organização do ano escolar, que tipifica com muita clareza todas as atividades e funções que são exercidas nas escolas e que para completar horário serão componente letiva", disse (...) Casanova de Almeida, precisando ainda que do diploma constam o apoio aos alunos e a coadjuvação como componente letiva. (...)
O alargamento das atividades que passam a ser consideradas componente letiva foi apontado por Casanova de Almeida como um instrumento para combater os professores com 'horário zero'.
Na recentemente anunciada reformulação das Atividades de Enriquecimento Curricular (AEC) do 1º ciclo, o Ministério avançou que vai passar a assumir a primeira das duas horas de atividades, retirando esses 60 minutos da competência das autarquias, como acontecia até agora, com o pressuposto de que essa hora ficará dedicada ao estudo acompanhado e apoio aos alunos.
Quando anunciou esta alteração, o Ministério da Educação e Ciência (MEC), pela voz do secretário de Estado do Ensino Básico e Secundário, adiantou que o acompanhamento seria assegurado por professores.
Estes 60 minutos de apoio ao estudo que vão passar a estar sob a responsabilidade do MEC podem assim vir a absorver alguns docentes sem turmas atribuídas.
A coadjuvação, que é uma ajuda em sala de aula ao professor da turma por parte de outro professor, pode acontecer por exemplo, no 1º ciclo, na área de expressões, por parte de docentes de outros níveis de ensino pertencentes ao agrupamento, ou, nos restantes ciclos do ensino básico e no ensino secundário, em qualquer disciplina desde que com recurso a professores da mesma escola.

Humanos nascem com capacidade para reagir à música

Os bebés quando ouvem música estão muito atentos, mexem-se e palreiam, comportamentos que, segundo a investigadora Helena Rodrigues, revelam que os humanos reagem, desde muito cedo, aos estímulos musicais.
Helena Rodrigues coordena o Laboratório de Música e Comunicação na Infância, que tem trabalhado com pais e bebés em sessões musicais, e é uma das participantes, no sábado, em Lisboa, do simpósio "Música, Poesia e o Cérebro", coorganizado pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa (UNL).
"Nascemos já com uma capacidade para a música, para reagirmos musicalmente", sustentou, em declarações à agência Lusa.
Os bebés, em média até aos 6 meses, reagem de três formas, observáveis, de acordo com a investigadora, na "atenção muito grande" que prestam à música, visível no olhar e na postura corporal, e na "participação ativa motora e vocal", o que, na sua opinião, demonstra "a propensão" dos humanos para a música, em como "o corpo reage à música".
A docente do Departamento de Ciências Musicais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UNL lembrou, até, a situação de bebés com dias de vida que já respondem ao timbre do pai e da mãe.
A investigadora realçou também que, desde idade muito precoce, as pessoas "reagem diferentemente à voz falada e cantada", a "diferentes estímulos musicais", acrescentando que a música "estabelece um elo de ligação" entre elas.
"Tem um efeito sobre o bebé, e esse efeito que é causado na criança tem um efeito sobre a mãe ou sobre o pai" e "espalha-se a todo o grupo" que participa nas sessões musicais, exemplificou, salientando que, consoante o ritmo, a música, nessas sessões, pode provocar reações mais contemplativas e calmas ou mais participativas, em que todos cantam e batem palmas.
Nesse sentido, defendeu Helena Rodrigues, a música promove, além da comunicação, "o sentimento de pertença", podendo ser usada como "ferramenta para o desenvolvimento humano integral" e o "bem-estar social".
A investigadora recordou, a este propósito, o trabalho que fez com mães reclusas, em Portugal, e com mães com depressão pós-parto, na Bélgica. Em ambas as situações, as progenitoras, que, no início do programa das sessões musicais, mostraram alguma desconfiança e indiferença, acabaram, no fim, a cantar para os seus bebés.
Algumas das reclusas, do Estabelecimento Prisional de Santa Cruz do Bispo, em Matosinhos, não sabiam ler nem escrever e aprenderam com outras a letra da canção, enfatizou Helena Rodrigues, adiantando que, na Bélgica, num hospital psiquiátrico, as mães conseguiram mimar os seus bebés através da música, atribuindo-lhes nomes carinhosos na letra de uma canção.
O Laboratório de Música e Comunicação na Infância desenvolve atualmente, em parceria com a Companhia de Música Teatral, um projeto artístico e educativo, o "Opus Tutti", que promove as boas práticas de intervenção na comunidade dirigidas à infância e à primeira infância. Com ele, prepara-se para dar formação a educadoras, depois dos professores. O projeto já pôs crianças mais velhas e mais novas a interagirem através de uma peça musical. (...)
Estudos a cargo do cientista concluíram que a música agradável liberta no cérebro uma molécula, a dopamina, a mesma que está associada às dependências, incluindo das drogas. O que não quer dizer (...) que a música seja viciante como a droga.
In: DN

quinta-feira, 23 de maio de 2013

A actividade motora em alunos com necessidades educativas especiais em debate

As Irmãs Hospitaleiras promovem no sábado de uma conferência sobre Práticas e Contextos no Ensino Especial, subordinada ao tema 'A Actividade Motora em Alunos com Necessidades Educativas Especiais', às 10h30, no Centro de Reabilitação Psicopedagógica da Sagrada Família. Os trabalhos começam com a intervenção de Graça Faria, com a comunicação 'Contextos de Intervenção em Psicomotricidade'. Segue-se Francisco Drumond, com 'A Educação Física e o Desporto em Alunos com Necessidades Educativas Especiais'. A moderação está a cargo de Maria José Camacho.
Um debate antecede o fim do evento, aberto ao público em geral e especialmente vocacionado para os estudantes e profissionais das áreas da Saúde, Educação Física, Ciências Sociais ou que trabalhem directamente com pessoas com necessidades especiais.

Faro ganha dois táxis adaptados a deficientes motores

A Câmara de Faro atribuiu duas licenças para táxis adaptados a pessoas com mobilidade reduzida, fazendo deste concelho o primeiro no Algarve a dispor deste tipo de transporte.
Os táxis começam a circular nesta quinta-feira, segundo uma escala definida pela autarquia, de forma a garantir o serviço permanente na cidade e na ligação ao aeroporto, anunciou a câmara em comunicado.
“Com esta iniciativa da autarquia de Faro torna-se no primeiro concelho do Algarve a ter uma resposta de transporte em táxi para pessoas com mobilidade reduzida”, sublinha o município.
Segundo a mesma nota, as duas licenças atribuídas a dois operadores privados resultam de um concurso público lançado pela autarquia. Antes disso, o município liderado por Macário Correia tinha questionado os titulares de licenças de táxi sobre o interesse em adaptarem os seus veículos a estes clientes. No entanto, ninguém se mostrou interessado.
“As duas licenças atribuídas para táxis adaptados inserem-se fora do contingente fixado para o concelho de Faro, dentro do regime de estacionamento condicionado, e foram concedidas à Auto Faro e à Táxis Pinheiro & Delmira”, informa a câmara.
Esta medida vem “colmatar a carência de transporte público para pessoas com necessidades de mobilidade”, facilitando também a deslocação de turistas a partir do aeroporto internacional de Faro, salienta.

Regime jurídico da disciplina de educação moral e religiosa católicas

O Decreto-Lei n.º 70/2013, de 23 de maio, estabelece o regime jurídico da lecionação e da organização da disciplina de Educação Moral e Religiosa Católicas (EMRC), nos estabelecimentos públicos dos ensinos básico e secundário.
A disciplina de EMRC é uma componente do currículo nacional integrando todas as matrizes curriculares, de oferta obrigatória por parte dos estabelecimentos de ensino e de frequência facultativa. Salvaguardado o seu caráter específico, a disciplina de EMRC está sujeita ao regime aplicável às restantes disciplinas e áreas disciplinares.
Os resultados obtidos na avaliação da disciplina de EMRC não são considerados para efeito de retenção nem para efeito de cálculo de média dos resultados dos alunos.
Não se aplica à disciplina de EMRC a realização de provas e exames de âmbito nacional para efeitos de progressão ou de candidatura ao ensino superior.
Nas certidões de estudos, quando requerido, consta a frequência e os resultados obtidos na avaliação da disciplina de EMRC.



quarta-feira, 22 de maio de 2013

Encontro Local de Educadores para a Cidadania Global na Escola

O projeto Povos, Culturas e Pontes promove no próximo dia 31 de maio, entre as 15.30 e as 19.30 horas, no auditório da Escola Secundária de Amora, o Encontro Local de Educadores para a Cidadania Global na Escola.
A iniciativa pretende reforçar o papel do educador de cidadania global, criar oportunidades para a apresentação das atividades já realizadas, mobilizar os participantes para a implementação de ações em contexto escolar e refletir sobre o papel do cidadão e a sua visão crítica.
O encontro surge no âmbito do subprojeto Reinventar Pontes, uma parceria estabelecida entre a autarquia e a Fundação Gonçalo da Silveira e o CIDAC, através do projeto Reinventar Fronteiras: percurso de proximidade entre atores educativos de Educação para a Cidadania Global.
A participação é livre mas está sujeita a inscrição através do e-mail gab.cooperacao@cm-seixal.pt.
Povos, Culturas e Pontes é um programa de cooperação da autarquia que pretende alargar as relações de colaboração que se têm estabelecido entre as escolas do município e as escolas da Boa Vista, Cabo Verde, a outros municípios geminados com o Seixal. Tem como destinatários todas as escolas públicas do concelho, desde o ensino pré-escolar ao ensino secundário.
A organização é realizada em parceria com o CIDAC – Centro de Intervenção para o Desenvolvimento Amílcar Cabral e FGS – Fundação Gonçalo da Silveira.