O reitor da Universidade de Lisboa, António da Nóvoa, acusou hoje as elites portuguesas de “enorme insensibilidade social”, alertando para o aumento de “pressões e constrangimentos” e para um espaço público “intoxicado por falsos relatórios técnicos”.
No debate sobre a educação e o futuro do estado social, António Sampaio da Nóvoa defendeu que, perante a atual crise económica, o Estado Social é “ainda mais importante do que no passado”. No entanto, acrescentou, as “elites portuguesas têm, frequentemente, uma enorme insensibilidade social”.
Para o reitor da Universidade de Lisboa (UL), é "fundamental defender e reforçar” a escola pública.
“Hoje, mais do que nunca, é necessário ter uma ética do “bem público”, que não autoriza misturas espúrias entre interesses públicos e interesses privados, que não autoriza promiscuidades, pressões e constrangimentos que se vêm acentuando à medida que a crise se agrava”, denunciou, durante o encontro que decorreu hoje na reitoria da UL.
Na reitoria, (...) uma das entidades organizadoras dos debates, Sampaio da Nóvoa afirmou que, “em Portugal, o espaço público de debate está muito degradado, intoxicado por falsos relatórios técnicos, excessivamente conflituoso e com um grau de azedume e até de má criação como há muito não se via”.
António da Nóvoa lembrou que as políticas de educação não se coadunam com "os calendários trimestrais das avaliações da troika" e que “é preciso cuidado para que as urgências do presente não precipitem decisões erradas e erráticas”.
“Utilizar a crise como pretexto para pôr em causa a escola pública seria um erro de consequências imensas para o futuro de Portugal”, alertou o reitor da universidade.
Recordando o estudo realizado por uma consultora de George Bush, Diane Ravitch, que “durante muito tempo defendeu as políticas de privatização do ensino”, António da Nóvoa sublinhou que não existe “qualquer demonstração de que na área da Educação as lógicas de mercado funcionem melhor do que a escola pública”.
“O que queremos das escolas não é o que queremos de uma empresa comercial. Queremos estabilidade. Queremos proximidade. Queremos cooperação. Queremos que os nossos filhos se sintam bem. Queremos que aprendam. Não queremos as escolas a competirem, a ver quem ganha mais dinheiro, quem é melhor. Queremos os professores a partilharem os seus conhecimentos”, disse Sampaio da Nóvoa, citando o documento da especialista norte-americana, que termina afirmando que “não há qualquer prova de que as escolas privadas, ou as escolas com contrato, tenham melhores resultados do que as escolas públicas”.
Uma escola pública acessível a todos e um maior investimento estatal foram medidas também defendidas pelos restantes oradores convidados: Ana Maria Bettencourt (presidente do Conselho Nacional de Educação), os professores catedráticos Jorge Miranda e João Barroso e o antigo secretário de Estado da Educação Jorge Pedreira.
O facto de Portugal ser dos países que menos gasta percentualmente em Educação foi criticado por todos os restantes oradores presentes. "Posso admitir que haja poupanças transitórias, mas não é isso que se está a tentar dizer. O que se diz é que são cortes definitivos e que vão passar a ser regra", lamentou Jorge Pedreira.
In: Sol online
Notas:
1- Tendências políticas à parte, concordo globalmente com António Nóvoa! Daí o destaque que lhe foi proporcionado hoje nestas páginas!
2- O destacado do texto publicado acima é da nossa responsabilidade!
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