O nascimento de um bebê desperta nos pais grandes trocas emocionais, fantasias, expectativas, sonhos. Quando um bebê nasce com algum tipo de deficiência, os pais apresentam imediatamente uma dificuldade de se identificarem com seu bebê, que antes estava idealizado em uma fantasia, estava nos seus pensamentos antes mesmo dele nascer.
Consideramos também que este bebê carrega uma continuidade dos pais, reflete seu futuro, desejos, representa os próprios valores e a maneira pela qual estabelecerão o vinculo afetivo com ele.
A partir da notícia de que o bebê tem uma deficiência como a síndrome de Down, ou qualquer alteração inesperada, os pais se veem profundamente afetados emocionalmente em seu aspecto narcisista. É um momento de luto, do bebê que foi imaginado, para o real.
Esse processo é relativamente longo e variável para cada casal para recuperarem-se, adequando-se às características do recém nascido.
Na realidade, não é somente a questão do diagnóstico que paralisa os pais, mas os sentimentos intensos relacionados ao atual bebê. Produz-se uma ruptura das fantasias sonhadas, com o vínculo que se havia estabelecido previamente, há um conflito entre sentimentos de perda do bebê desejado e a aceitação do bebê real.
A elaboração desse conflito depende da vinculação interna do filho ideal para o filho real, com as características dele enquanto sujeito. É um processo de reconstrução, de um novo lugar interno para esse bebê ser acolhido.
Os pais precisarão pensar em seu bebê que crescerá com uma personalidade própria, com um ritmo de desenvolvimento determinado, com um futuro de possibilidades diversas, com suas singularidades e também parecidas e pertencentes àquela família, mesmo com síndrome de Down.
No momento da noticia é importante que se oriente os pais a não deixarem de ter esperanças e manterem um projeto de vida para seu bebê, talvez um outro projeto de vida, mas que não se perca nunca. Portanto, permitir-se construir novas fantasias e esperar outras gratificações desse bebê que não era o imaginado, desejado e sonhado seria um bom começo.
Quando se trata de um bebê com síndrome de Down, com algum transtorno no desenvolvimento, o conceito de deficiência envolverá diretamente a identidade do recém nascido. Por isso, é necessário que os pais possam ser acolhidos para poderem iniciar um vinculo afetivo como qualquer bebê necessita. Um bebê com qualquer deficiência precisa que os pais, o amem, o toquem, brinquem com ele, falem, estimulem, mas tudo isso, inicialmente, é muito sofrido e difícil para os pais.
O nascimento de um bebê com deficiência gera muita angústia e constitui-se a origem de reações psicológicas complexas que variam, segundo o tipo de déficit da patologia, dos fatores que causaram e da personalidade dos pais.
A partir do comunicado do diagnóstico aos pais, os mesmos atravessam por diferentes etapas emocionais, já descritas na literatura especializada, que poderíamos resumir em: estado de choque, negação da situação, decepção, intensa tristeza e elaboração do luto.
Quando os pais conseguem um equilíbrio dos sentimentos finalmente conseguem organizar-se e ocupar-se dos cuidados necessários com seu bebê. Aparece a esperança, a força em continuar sua vida familiar em função das necessidades reais do novo bebê.
Oferecer aos pais apoio emocional, acolhimento, informações será importante para que os pais possam interagir vincularmente com seu bebê, aprendendo a observá-lo, descobrindo suas reações, necessidades e oferecendo respostas e atitudes adequadas sem superproteger ou rejeitá-lo. Cada bebê tem reações diferentes, capacidades, potencialidades e a evolução de cada um também é única, os pais precisarão ser compreendidos emocionalmente para poderem perceber a evolução de seu bebê e recuperarem seu bem estar.
Marina S. Rodrigues Almeida
Psicóloga, Psicopedagoga e Consultora de Educação Inclusiva
In: Filhos &Cia
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