quarta-feira, 26 de outubro de 2011

São estórias do nosso mundo

Publico um texto enviado por Manuel Miranda.


São estórias do nosso mundo

Foi notícia que os pais de adolescentes andam muito preocupados com a beleza das suas filhas e filhos, pelo que os consultórios dos cirurgiões da plástica têm clientela.
São sinais dos tempos. São gerações que se deixaram emprenhar por publicidades, por exigências de estética que fenecem depressa.
Mas a moda marca vidas e por essas modas andam por aí muitas frustrações, muitos complexos, muitos desesperos.
Pois é neste mundo submetido a padrões de futilidade que aparece um livro com “estórias” de excluídos, lixos para os padrões da plástica. E são estórias do nosso mundo.
E o livro é “Tiagolas e outras estórias”.
É um livro diferente, porque tem estórias diferentes. Protagonistas sem fama, sem nome, pessoas com deficiência.
Jorge Seabra, médico e escritor, deu ao prefácio o título: “Estórias do Tiagolas e do nosso mundo”. E no desenvolvimento do prefácio afirma que a cultura, mesmo “apregoando valores de um pluralismo humanista, se formata e espartilha num individualismo agressivo e pouco solidário, que digere mal a diferença”.
E os tempos que correm são mesmo de um mundo que, julgando-se sabedor de tudo, recria valores de individualismo egoísta, rejeitando aqueles que se desviam dos padrões cotados pelos gabinetes da imagem.
Um mundo ávido de sucesso imediato que fez dos padrões da beleza valor supremo. Uma beleza submetida aos padrões definidos pela publicidade.
E neste mundo que se submeteu aos padrões definidos pela publicidade para espicaçar o consumo, cruzamo-nos na rua com frustrações de gente com complexos.
E são os pais que levam filhos ainda crianças ao aperfeiçoamento pela plástica.
É neste mundo de insatisfeitos que aparece um livro de “estórias”com  pais que se dedicam sem reservas, que nas palavras de Jorge Seabra, é um “mosaico de afectos e sensibilidades, preenchido de dificuldades quotidianas”.
E esse universo, tão pouco conhecido, preenche-se de um amor a filhos com deficiência, numa dedicação sem limites, que recusa o assistencialismo caritativo e repudia qualquer pedinchar de mão estendida que queira substituir a dignidade e os direitos que um ser humano merece.
“Numa escrita de leitura fácil, talvez literariamente fragmentada e desigual mas sempre cativante e sincera ficamos a compreender melhor a força inquebrantável de pais, que vivem as angústias e as incertezas do futuro que a deficiência profunda de um filho gera”.
Os Tiagolas deste mundo não estão no mundo dos bajuladores de modelos sociais, cada vez mais egoístas e desumanizados.
Jorge Seabra afirma que é “um livro útil para os profissionais ligados à assistência a deficientes, que a todos ensina algo de importante sobre o outro, interrogando-nos sobre o que somos e o que queremos ser, sobre o que construímos e o que queremos construir”.
As “estórias” narradas chamam à dignidade as pessoas com deficiência e os caminhos da dignidade levam à inclusão.
O livro desperta direitos, não valoriza a comiseração, a caridade, a mendicidade.
Sensibiliza, para que os deficientes sejam respeitados como seres humanos.
Apresenta situações das implicações sociais quando a educação das crianças com deficiência não é adequada.
Deve ser lido pelas pessoas com deficiência e pelos pais e familiares.
Nas páginas convivemos com pessoas que têm limitações nas áreas da adaptação, da comunicação, da autonomia, da independência pessoal, incapazes da sua subsistência.
São pessoas com funcionamento intelectual inferior ao da média.
São “estórias” de pais que trabalham e exercem profissões com o pensamento em casa e que lutam com dificuldade para não caírem no desânimo e no desespero.
São vidas que consomem depressa os ordenados que entram em casa.
 “Aos pais dos meninos com deficiência, os verdadeiros especialistas das suas crianças, este é o seu livro de bolso. Na estante ficarão os manuais teóricos e guias de orientação práticos, aqui ventilam-se emoções e procuram-se sucessos”, palavras da Dr.ª Joana Sá Ferreira (Médica, Interna de Psiquiatria do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, Investigadora do Grupo de História e Sociologia da Ciência do Centro de Estudos Interdisciplinares da Universidade de Coimbra, CEIS20), a propósito do livro “Tiagolas e outras estórias”.
Um livro com protagonistas excluídos. E a exclusão chega ao ponto do livro não ter lugar em livrarias que se regem pelo lucro abundante. Aí as publicações de gente com fama, revistas com corpos esculturais têm lugar, não os Tiagolas deste mundo.
Para comprar o livro, procure-se nos contactos indicados no site da AFSD: www.cavaloazul.net, ou por mail: miranda.manel@gmail.com

2 comentários:

Atena disse...

Maravilhoso texto, prof. João. Obrigada pela partilha! Espero que não me leve a mal, mas tenho de o divulgar... Grande abraço!

João Adelino Santos disse...

Olá! O texto não é da minha autoria, mas, estou certo, Manuel Miranda ficará satisfeito com a sua divulgação!
Abraço