Aprendemos melhor quando nos sentimos bem e recordamos melhor aquilo que tem uma conotação forte (positiva ou negativa, mas mais vale que seja positiva, obviamente).
O que há de comum entre um médico que "receita" livros" e um professor de hidroginástica que "força" sorrisos? Existe a consciência de que o bem-estar é fundamental para a saúde e, principalmente no primeiro caso, o conhecimento profundo e o estabelecimento de empatia com quem se trabalha. E o que tem tudo isto a ver com educação e com a escola? É que, se o bem-estar é fundamental para haver saúde, ele também é muito importante para promover a aprendizagem.
É verdade, num artigo anterior, falei de um médico que me "receitava" livros. Não o fez na primeira consulta. Começou a fazê-lo quando já me conhecia suficientemente bem. Todos se mostraram sempre adequados à situação que me tinha levado à consulta e à minha pessoa. Uma amiga falava-me das suas aulas de hidroginástica. O professor, além de verificar a execução dos exercícios e a sua correcção, mostrava-se atento à forma como cada aluno se sentia. Se a sua postura revelava uma execução com o pensamento noutro sítio, ele chamava a atenção da pessoa, imitando os seus movimentos e repetindo-os, depois, com energia e vontade (técnica do "espelho"). Se ele via um semblante mais carregado, chamava igualmente a atenção da pessoa, mostrando uma cara carregada e, em seguida, um sorriso aberto. Garantia a minha amiga que, com ela, isso surtia um efeito imediato, comentando: "Como se pode manter pensamentos desagradáveis e, simultaneamente, um sorriso, ainda para mais quando ele é induzido por alguém que mostra interessar-se por nós e que sabemos que vai continuar atento ao que se passa connosco?".
Também na escola o bem-estar é importante, como já referi, não só para a saúde mas também para a aprendizagem. Aprendemos melhor quando nos sentimos bem e recordamos melhor aquilo que tem uma conotação forte (positiva ou negativa, mas mais vale que seja positiva, obviamente). O bem-estar implica muitas facetas. Pode alguém sentir-se bem numa sala com temperaturas gélidas no Inverno, que obrigam a usar casacos grossos, prendendo os movimentos, sem afugentarem totalmente o frio? E nas mesmas salas, no Verão, em que, ao mesmo tempo em que se tenta aprender Inglês ou Matemática, se pratica sauna? Escolas assim, mesmo que os alunos sejam interessados e bem comportados, não lhes oferecem as necessárias condições para que possam estar com atenção nas aulas, nos muitos dias do ano em que as temperaturas são mais rigorosas.
O bem-estar implica também o relacionamento interpessoal. Numa escola, muitas são as pessoas implicadas, nomeadamente, os alunos, os professores, os auxiliares de acção educativa e restantes profissionais. Da intervenção e da interacção de todos eles depende muito o ambiente que se vive. O tamanho da escola e o seu número de alunos são factores importantes. Temos ouvido falar muito das escolas com poucos alunos, devido ao seu encerramento. Não se ouve, porém, falar tanto dos problemas acarretados por escolas com um número excessivo de alunos, que ultrapassa o limite comportado pelos estabelecimentos de ensino em causa. Por um lado, torna-se difícil que cada aluno possa ser conhecido pela generalidade dos adultos, para além dos seus próprios professores e um ou outro auxiliar de acção educativa. Por outro lado, a sobrelotação, entre outros problemas, fomenta a agressividade entre os alunos, assumindo formas diversas, tais como bullying, agressões físicas ou verbais de carácter mais pontual e até extorsão de objectos ou dinheiro.
E falando de relacionamento interpessoal e também dos aspectos pedagógicos, como podem os professores dedicar o tempo necessário aos seus alunos e à preparação das aulas, com a crescente burocracia em que se encontram afogados? Quanto tempo conseguirão proporcionar bem-estar, com o mal-estar que os atormenta? O início do ano lectivo aproxima-se e muitos fantasmas (reais) e temores pairam no ar a este respeito.
Regressando ao início do artigo, humanizar a escola é importante para que todos os que a habitam se possam aí sentir bem, para que ela seja promotora de saúde e de aprendizagem. Apenas referi alguns dos muitos aspectos merecedores de reflexão. Muitos outros ficaram por enumerar. Eles não passarão despercebidos a quem conhece por dentro a realidade das escolas.
Armanda Zenhas
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