Uma ferramenta de aprendizagem digital mais inclusiva tornou Filipa Rocha uma das finalistas do Prémio Jovens Inventores 2023 (https://eurocid.mne.gov.pt/premios/premio-europeu-do-inventor-2024). A estudante de doutoramento na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e professora assistente no Instituto Superior Técnico, desenvolveu um projecto que junta blocos físicos e um programa de computador para ensinar crianças cegas e com baixa visão a programar.
O trabalho chama-se Sistema de Programação Tangível Acessível Baseado em Blocos (Block-based Accessible Tangible Programming Systems, BATS), e como o nome indica, parte da programação em blocos.
Nas escolas, as aplicações usadas para introduzir programação baseiam-se num sistema de blocos. As crianças encaixam-nos no ecrã e constroem sequências de instruções para criar histórias ou animações. “Os blocos já estão definidos, têm cores diferentes e já são acções” que depois se traduzem no comportamento de uma personagem ou jogo, explica a investigadora de 27 anos.
Tendo como objectivo tornar “tudo acessível”, a equipa de Filipa transformou os blocos em peças físicas. Cada peça tem um ícone para uma acção específica que controla o comportamento de um robô. Estes ícones têm relevo e sobressaem nos blocos, o que permite que crianças com visão baixa consigam identificá-los pelo toque.
Neste sistema é possível definir a movimentação do robô, além de fazê-lo dançar e falar. O modelo criado inclui também o conceito de repetição, ou seja, não se limita a uma acção-reacção ou a uma sequência.
Além de tornar a actividade acessível, a componente física torna-a mais interactiva, comenta. Para fazer a ligação entre os blocos e o robô, a investigadora desenvolveu um software que, através da câmara de um smartphone, lê “os códigos que estão nas peças” e “faz a conexão bluetooth ao robô” que executa o que a criança construiu. Este sistema garante que todas as crianças sejam integradas em actividades de educação digital, incluindo as normovisuais. A ideia é que o sistema se torne “uma ferramenta de inclusão e de aprendizagem que pudessem usar nas salas de aula”.
O programa escolar de 1º ciclo (https://www.erte.dge.mec.pt/iniciacao-programacao-no-1o-ciclo-do-ensino-basico) inclui aulas de programação e “crianças com deficiências visuais, que estão na mesma escola, não estão a tirar proveito dessas aulas e dessa aprendizagem”. A ideia para a adaptação do programa partiu de uma sugestão do orientador de mestrado em engenharia informática.
A cooperação com professores e famílias foi de extrema importância para perceber o que podia ser melhorado nos programas. Filipa Rocha tem colaborado com o agrupamento de escolas das Olais, em Lisboa, e testou o funcionamento do BATS com 4 famílias e 5 crianças. Durante o desenvolvimento do projecto, a pandemia começou e, uma das dificuldades sentidas foi manter a comunicação. “Não queremos arranjar soluções por eles. Queremos trabalhar com eles e arranjar soluções de que gostem, que precisem e façam sentido para eles”, explica Filipa.
O pai também é engenheiro informático e, por isso, o contacto com a área esteve sempre presente na sua vida. “A tecnologia para mim sempre foi muito intuitiva”, conta. “Na realidade, não pensava em continuar para investigação”, admite. Contudo, por sentir que o projecto de mestrado não estava terminado, seguiu para um doutoramento. O objectivo é tornar o projecto de investigação numa “ferramenta de inclusão” para ser “usada nas escolas para todos terem o mesmo tipo de oportunidades”.
O sistema criado é um dos três finalistas do Prémio Jovens Inventores 2023, uma distinção para jovens até aos 30 anos que tenham criado soluções tecnológicas para problemas globais, promovido pelo Instituto Europeu de Patentes (https://www.epo.org/). Para Filipa Rocha, a nomeação “é um privilégio” que pode abrir “imensas oportunidades de colaboração e de financiamento”. O projecto vencedor será conhecido a 4 de Julho em Valência, Espanha.
Actualmente, Filipa Rocha tem colaborado com vários projectos, procurando manter-se na área da acessibilidade, principalmente para crianças. “Ligeiramente activista”, apresenta-se, não gosta de “uma falta de balanço e de equilíbrio nas coisas”.
Fonte: Público
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