Numa sociedade em que a tecnologia ganha cada vez mais destaque, também o mercado de trabalho se transforma. As competências pretendidas já não são as de outrora, e as skills dos candidatos vão além das designadas para a profissão.
Contudo, na escola pública, o método de ensino continua o mesmo desde há largos anos: centrado no professor, conhecimento específico no assunto, passividade e limitação do aluno, muita teoria e memorização. As skills procuradas pelos empregadores nem sempre são as mais trabalhadas na escola.
Numa altura em que as crianças parecem ter nascido a saber mexer num smartphone ou tablet, equipado com ferramentas digitais que tiram partido da Inteligência Artificial que parecem armazenar todo o conhecimento, é preciso inovar na escola. Cativar com novas formas de aprendizagem, novos métodos de ensino que lhe sejam mais estimulantes e que, ao mesmo tempo, desenvolvam capacidades procuradas pelo mercado de trabalho.
Sabia que a aprendizagem de ciências da computação pode potenciar a aprendizagem de matemática?
Novos modelos de ensino
A escola pública portuguesa está ainda muito assente em metodologias “fechadas”, em linha com a educação tradicional. Porém, novos modelos de ensino têm vindo a ganhar terreno em Portugal, em que a par das disciplinas leccionadas, é ainda promovido o pensamento crítico, as capacidades necessárias para a vida, o valor da autonomia e colaboração, capacidades analíticas e tomadas de decisão por parte dos alunos.
É o caso da metodologia STEAM, que se tem destacado nos últimos tempos. Do inglês Science (ciência), Technology (tecnologia), Engineering (engenharia), Arts (artes) e Mathematics (matemáticas), este método traz para a sala de aula todas estas disciplinas, mas de uma forma integrada. Resultado: o desenvolvimento do espírito crítico e da capacidade de resolução de problemas fundamentais para preparar melhor futuros cidadãos é promovido.
Para tal, os projectos são multidisciplinares, e passam por cinco diferentes fases: investigação, descoberta, conexão, criação e reflexão. Ao educador, cabe o papel de condutor na busca das respostas, sem qualquer influência nas conclusões dos alunos. Também o conceito de sala invertida é outro modelo diferente do tradicional. Neste caso, a lógica de sala de aula inverte-se: não é nela que se começa a aprender, mas em casa.
O aluno faz as suas próprias pesquisas na internet e em materiais online sobre temas previamente passados em sala de aula. Quando chega à escola, já tem conhecimento, criando-se o debate entre colegas e com o professor. Desta forma, a flexibilidade da aprendizagem permite que o aluno adquira mais conhecimento, promovendo, ainda, a colaboração e a autonomia.
Outro método de ensino que tem ganhado algum destaque é o do currículo flexível. O objectivo é aumentar a qualificação dos alunos nas áreas que têm maior interesse. Para tal, a estrutura curricular é dividida, havendo disciplinas comuns a todos os alunos, e outras como optativas, para que possam escolher consoante as suas preferências.
Assim, a autonomia dos alunos é trabalhada, tal como o autoconhecimento.
Nestes métodos de ensino, ao mesmo tempo que os alunos ganham conhecimento das temáticas das disciplinas mais “tradicionais”, são também desenvolvidas skills, as quais são cada vez mais valorizadas no mercado de trabalho.
Em 2019, esta era a percentagem de empregos nos Estados Unidos da América que implicavam um formação nas áreas STEM, uma percentagem que se estima continuar a crescer e a ser replicada nos restantes mercados mundiais.
Ensino diferenciado para todos
Por todo o país, têm começado a surgir novas escolas com diferentes métodos de ensino. É o caso da Brave Generation Academy (BGA). Uma escola cujo programa está estruturado de acordo com o currículo britânico, mas assente numa educação personalizada e flexível, que orienta os alunos para as suas paixões.
Para o conseguir, o modelo BGA assenta em cinco características: é autodirigido, na medida em que são os alunos a traçar os seus próprios planos, sendo responsáveis pela sua escolha; personalizado, pois cada aluno tem o seu próprio programa educacional, capacidades, clubes e variedade de assuntos adaptados ao seu ritmo e ciclo de vida; híbrido, na medida em que tem um espaço físico para acolher os formandos e também uma plataforma digital de aprendizagem personalizada e flexível; ágil, dado que os recursos estão disponíveis para que os alunos alcancem todo o seu potencial; e aumentado, por oferecer mais do que a educação tradicional, complementado as disciplinas com habilidades técnicas, comunitárias e interpessoais para a comunidade.
Contudo, a BGA é uma escola privada, o que faz com que nem todas as crianças possam ter acesso a este método diferente de ensino. Para que os filhos dos seus trabalhadores possam usufruir dele, a Sonae estabeleceu uma parceria com a BGA para abrir um Hub da BGA no Sonae Campus, a sede do grupo na Maia, bem como oferecer condições especiais aos colaboradores que queiram inscrever os seus educandos nesta escola.
Todavia, existem cada vez mais programas para levar diferentes formas de ensino às escolas públicas. A Sonae, conhecendo a importância da formação e das mais-valias destes novos métodos, tem investido na sua democratização, permitindo que cada vez mais crianças possam ter acesso.
É o caso do projecto desenvolvido pela Ensico, uma associação que defende o ensino da computação para todos os estudantes do ensino básico e secundário, mediante a proposta de um programa e metas curriculares que promovem a literacia e ética digital assentes no domínio das ciências da computação. Nele, as crianças e jovens são estimulados para atuarem como criadores e empreendedores, acompanhando as mudanças e as tendências sociais, económicas e tecnológicas.
Para que este tipo de ensino chegasse a mais alunos, a Sonae aliou-se à Ensico, em 2020, e tem contribuído para que já tenha sido possível impactar 1600 alunos do primeiro ao terceiro ciclo, apoiar 31 escolas e 40 professores, realizar 21 workshops e passar mais de 1500 horas com alunos. E os resultados falam por si: nos estudantes envolvidos no projecto da Ensico, verificou-se uma melhoria no ensino do português e da matemática, além do desenvolvimento de competências criativas e promoção de conhecimento.
A probabilidade de um aluno ter sucesso na escola é de apenas 31% se a sua mãe apenas tiver o 9.º ano de escolaridade? Esta percentagem sobe para 70%, se a mãe tiver uma licenciatura.
Portugal é dos principais países da OCDE em que o contexto socioeconómico mais determina o sucesso académico dos alunos. Sabia que os estudantes carenciados reprovam cinco vezes mais do que os alunos mais favorecidos?
Para a Sonae, a educação é o mais poderoso elevador social, que não conhece barreiras ou limites e tem o poder de transformar gerações. Por isso, é parceira da Teach for Portugal, uma organização sem fins lucrativos que defende que o lugar de onde uma criança vem não deve afectar para onde vai. Por isso, atua com o objectivo de diminuir as desigualdades educativas e proporcionar às crianças de meios mais desfavorecidos a oportunidade de atingirem o seu máximo potencial.
Para o conseguir, a Teach for Portugal criou o Programa de Desenvolvimento de Liderança, que aplica em escolas públicas portuguesas de meios carenciados, focando-se sobretudo em turmas de segundo ciclo (5.º e 6.º ano).
Assim, a par do plano curricular, as crianças aprendem com outros métodos de ensino, através de actividades pedagógicas e lúdicas, durante e fora do tempo lectivo.
O intuito é trabalhar quatro dimensões: meta-cognição e resultados académicos, cidadania ativa, gestão emocional e liderança. Áreas importantes não só para o dia-a-dia das crianças, como também do seu futuro enquanto trabalhadores.
Desde a sua criação, em 2019, a colaboração da Teach For Portugal nas escolas mais do que duplicou a subida das médias dos alunos do quinto para o sexto ano, anualmente, acelerando, ainda, a redução das negativas do primeiro para o terceiro período em mais de 30%.
A desigualdade educativa é uma realidade com efeitos devastadores a longo prazo, contribuindo para o desemprego, pobreza e enfraquecimento da economia, e afetando a mobilidade social.
O problema é enraizado, complexo e exige o envolvimento da sociedade. É por isso que a Sonae se junta à Teach For Portugal, para, através de um modelo de ensino colaborativo e com foco no aluno, contribuir para uma sociedade mais justa e equitativa.
A sociedade está a mudar, e com ela a forma como aprendemos, assim como aquilo que as empresas procuram num candidato a determinado cargo.
Porque a educação não é apenas um direito, é um motor de desenvolvimento social e económico. (...)
Fonte: Público por indicação de Livresco
Sem comentários:
Enviar um comentário