A actividade física de crianças entre os seis e os dez anos, se for alargada em duas horas semanais – de forma opcional, lúdica e ao ar livre – abrirá espaço a um maior desenvolvimento das competências na idade certa e a uma melhoria das capacidades motoras futuras.
A mensagem baseia-se num estudo académico realizado por professores da Universidade do Porto, da Faculdade de Motricidade Humana (FMH) da Universidade de Lisboa e da Escola Superior de Desporto de Viana do Castelo, através da Federação Portuguesa de Futebol, e que envolveu 1303 crianças de 44 escolas nos primeiros três meses deste ano num projecto-piloto.
“Não tem sido dada atenção às primeiras idades, e isso tem de ser feito”, resume Carlos Neto, professor catedrático jubilado da FMH e um dos investigadores neste projecto.
O objectivo é propor uma articulação e contratualização com os agrupamentos de escolas de modo a que “as crianças possam ter uma estimulação muito baseada em experiências através de jogos, de brincadeira numa dimensão lúdica” com mais uma ou duas horas de actividades físicas semanais, explica Carlos Neto. “O que se pretende é que estas competências motoras possam ser aperfeiçoadas numa dimensão informal e em complemento àquilo que é a Educação Física curricular” no âmbito, por exemplo, das actividades de enriquecimento escolar gratuitas e opcionais. Não é uma actividade extracurricular, nem uma substituição da Educação Física ou do desporto escolar, elucida.
Resultados distintos
No fim do projecto-piloto, aplicado nos primeiros três meses deste ano em 44 escolas de 24 concelhos, verificou-se uma evolução positiva de 48% no grupo experimental (participantes em três sessões semanais de uma hora, 12 semanas consecutivas), enquanto o grupo de controlo, não-sujeito às sessões de actividade física, diminuiu ligeiramente a competência motora (-2%), segundo as conclusões do estudo. Também é dito que os valores entre estes grupos distintos “eram similares em Janeiro e que no final do projecto, em Março, o grupo experimental demonstrava um valor de competência motora 62% acima do grupo de controlo”.
As conclusões vão ser apresentadas nesta sexta-feira, no primeiro de dois dias do Congresso Internacional do Desporto para Crianças e Jovens, que decorre na Cidade do Futebol, em Oeiras.
A partir dos resultados mais positivos associados ao grupo das crianças envolvidas em mais três horas semanais de actividade física, durante 12 semanas, pretende-se mostrar a relevância dessa intervenção junto das crianças e assim mostrar que se justifica o alargamento da experiência a todas as escolas do país, sintetiza Carlos Neto.
Não se trata da disciplina de Educação Física, já incluída nos currículos escolares, mas de uma actividade cujo objectivo seja “desenvolver competências motoras gerais e específicas com e sem manipulação da bola de forma”. A par disso, a FPF apresenta como meta deste programa “facilitar as aquisições futuras mais complexas exigidas na prática dos jogos pré-desportivos (que ensinam habilidades gerais das modalidades desportivas) e jogos desportivos colectivos”.
Embora ao projecto se dê o nome de Bola Mágica, “não são escolinhas de futebol”, esclarece. “São momentos de vivência de jogos e actividades motoras, com bolas, diversificadas num ambiente lúdico de exploração livre”, insiste. A ideia é dar a oportunidade às crianças, que passam o dia inteiro na escola, muitas vezes porque os pais trabalham muitas horas, de ter “actividades prazerosas e não-escolarizadas”.
Ter 400 mil federados
Tal não invalida que, no âmbito deste estudo, a própria FPF apresente, entre os objectivos do plano estratégico, “ter 400 mil jogadores federados e 500 mil jogadores informais de futebol e futsal em 2030”.
Isso corresponderia a mais do que duplicar os números actuais, havendo à data de hoje 178.076 praticantes federados de futebol e 36.994 praticantes federados de futsal, de acordo com os dados fornecidos ao PÚBLICO. São 215.070 no total, com a estimativa de virem a ser 220 mil no final do ano.
Tendo em conta os referidos objectivos para 2030, “é imperativa a actuação junto das escolas”, defende a FPF. A federação cita publicações académicas como a Lancet Child Adolescent Health ou o Scandinavian Journal of Medicine and Science of Sports, com dados que mostram que na população mundial com mais de 11 anos, 80% não cumpre as linhas de recomendação para actividade física, 51% demonstra comportamento sedentário, e 40% das crianças entre os seis e os dez anos têm uma competência motora considerada insatisfatória.
As mesmas publicações referem que, em Portugal, 85% da população com mais de 11 anos é fisicamente inactiva e 62% tem um comportamento sedentário.
Fonte: Público
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