Normalmente, os professores de História possuem formação e materiais inadequados, e os alunos não aprendem grande coisa. Há várias iniciativas que procuram resolver este problema, mas apenas uma — o Método das Quatro Perguntas — dá aos professores a estrutura de que precisam.
Na última ronda de exames nacionais de História nos Estados Unidos, apenas 15% dos alunos do oitavo ano tiveram uma nota alta ou muito alta, revelando um ligeiro declínio em relação aos anos anteriores. Até estudantes universitários têm, por vezes, dificuldade em responder a perguntas tão básicas como "Quem ganhou a Guerra Civil?".
Os alunos consideram a disciplina de História maçadora, e o conhecimento e aptidão dos professores podem agravar este problema. Além disso, numa altura em que a leitura e as disciplinas ligadas às áreas da STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) recebem toda a atenção, as escolas tendem a não valorizar a História. Este problema é mais comum nos primeiros ciclos. Mas é difícil compreender o momento presente se não se souber muito sobre o passado. E também é difícil compreender a História se a estudarmos pela primeira vez no nono ano.
Será que conseguimos tornar as aulas de História mais interessantes, até para alunos mais novos? Dois professores de História norte-americanos, Jonathan Bassett e Gary Shiffman, acham que sim. Estes professores defendem a sua teoria e abordagem num livro recente, bastante acessível e esclarecedor, intitulado From Story to Judgment: The Four Question Method for Teaching and Learning Social Studies (Da História ao Julgamento: O Método das Quatro Perguntas para o Ensino e Aprendizagem de Estudos Sociais. (Escrevi uma sinopse desse livro.)
As quatro perguntas são simples mas poderosas, e aplicam-se a qualquer tema da História. Tal como Shiffman me disse, «a única regra fundamental é “não sejas maçadora”. Não há razão para isso.»
As quatro perguntas são:
1. O que aconteceu? Nem sempre é fácil fazer um relato coerente sobre uma série de acontecimentos, mas este é um passo fundamental. Os professores falham aqui muitas vezes, dando origem a erros básicos. Tal como Bassett afirma no livro, passados dois terços das aulas dedicadas à Revolução Americana, muitos dos seus alunos ficaram surpreendidos ao perceber que a guerra havia sido travada contra os britânicos.
2. O que é que as pessoas pensavam? A tendência mais recente para captar o interesse dos alunos pela História é a leitura de fontes primárias. Estes documentos têm o seu valor, mas também podem ser difíceis de interpretar e ocupar mais tempo de aula do que merecem. Esta segunda questão dá carta branca aos professores para utilizarem, de forma criteriosa, fontes primárias para ajudar os alunos a pôr-se na pele dos intervenientes na história.
3. Porquê naquele momento e naquele local? Esta pode ser a questão mais complexa, uma vez que exige uma comparação com outros períodos e lugares. Talvez não seja apropriada para alunos mais pequenos, mas ensina os alunos dos ciclos superiores a analisarem e a tirarem conclusões a partir da História.
4. O que pensamos sobre isto? Esta é uma excelente pergunta, à qual só conseguimos responder com propriedade depois de explorarmos bem as três primeiras.
O livro contém muito mais informação sobre este método, por isso, recomendo a qualquer pessoa interessada no ensino de História que o leia. No entanto, para muitos professores sobrecarregados e talvez mal preparados, aplicá-lo seu próprio programa é uma tarefa demasiado pesada. É por isso que Bassett e Shiffman, que também prestam assistência prática às escolas, têm vindo a criar algumas unidades curriculares completas, com materiais e planos de aula diários.
Melhor ainda, uma das unidades — criada e testada em parceria com uma escola básica nos EUA — destina-se a alunos do quarto ano do ensino primário, com cerca de 9 anos. Esta unidade é sobre o Renascimento e, para a desenvolver, Bassett e Shiffman começaram por simplificar um programa do ensino básico muito rico em conteúdo, mas demasiado extenso, chamado Core Knowledge History and Geography (Conhecimentos Básicos de História e Geografia). Por exemplo, em vez de incluir três cidades italianas — Florença, Roma e Veneza —, a dupla optou por se debruçar apenas sobre Florença, e acrescentar que o Renascimento aconteceu também nessas outras cidades. Concentraram-se sobretudo na transição da arte medieval — que se cingia a temas religiosos e ainda não era assinada — para a do Renascimento, altura em que os artistas começaram a assinar as suas obras. Nesta unidade, a Pergunta Quatro é: "Quando é que nos podemos gabar?".
Bassett e Shiffman esperam que esta unidade possa inspirar outras e procuram obter financiamento para desenvolver um programa K-8 (dirigido a alunos entre a pré-primária e o oitavo ano) com base no seu método, que também inclui exercícios de redação concebidos para desenvolver capacidades de escrita e aprofundar o conhecimento de conteúdos. [A sua abordagem à escrita deriva de The Writing Revolution (A Revolução da Escrita), de que fui co-autora.]
É claro que ainda não conseguimos confirmar que o Método das Quatro Perguntas funciona melhor do que outros. Mas se eu fosse uma filantropa interessada no ensino de História, apostaria que sim.
Fonte: Iniciativa Educação
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