quarta-feira, 21 de abril de 2010

Rastreio auditivo neonatal


O rastreio auditivo universal permite detectar eventuais perdas auditivas logo nos primeiros dias de vida do bebé.
Em muitas maternidades do nosso país, antes de terem alta, os recém-nascidos são submetidos a um teste de rastreio que permite detectar se há uma perda auditiva significativa. Porque precisam os recém-nascidos de serem rastreados?
A maioria dos bebés não tem problemas de audição, no entanto, um a três em cada 1000 recém-nascidos apresenta perda auditiva significativa, sendo mesmo a patologia mais comum presente no nascimento. Na ausência de rastreio auditivo neonatal, a maioria das crianças permanece sem diagnóstico até idades mais tardias. A idade média de diagnóstico da perda auditiva significativa por parte do médico assistente é de dois anos. Os pais raramente identificam o problema antes do primeiro aniversário da criança. Existem factores de risco que contribuem para a diminuição da audição, como a existência de infecções congénitas (rubéola ou toxoplasmose) ou um peso no nascimento inferior a 1500 gramas, entre outras. No entanto, se o rastreio fosse aplicado apenas a crianças com factores de risco, apenas seriam detectados 50% dos casos de surdez moderada a profunda, uma vez que 50% dos casos ficariam por detectar.
O rastreio auditivo universal permite detectar eventuais perdas auditivas logo nos primeiros dias de vida do bebé. Porque é que a audição é tão importante?
Ouvir é parte essencial da interacção do bebé com o mundo e com os outros. Se a audição estiver afectada, e se não for recebida intervenção adequada, provocará atrasos na aquisição da linguagem e discurso, bem como dificuldades socioemocionais. Por outro lado, muitos estudos demonstram que bebés com perda auditiva confirmada que recebam, até aos 6 meses, intervenção apropriada de profissionais credenciados e com experiência na área da audiologia pediátrica, obtêm bons resultados na aquisição de linguagem e comunicação. Tipos de surdez
Existem dois tipos de surdez:
- surdez de condução: nos casos em que existe um problema na estrutura do canal auditivo ou ouvido médio que impede a transmissão do som
- surdez neurossensorial: nos casos em que existe uma anomalia no ouvido interno ou no nervo que leva o som do ouvido até ao cérebro
Testes de rastreio
São dois os testes de rastreio que podem ser utilizados, ambos de execução rápida (5 a 10 minutos), não dolorosos e que podem ser efectuados enquanto o bebé dorme.
- Otoemissões acústicas (OEA): no qual é medida a onda de som produzida no ouvido médio. Um pequeno "auricular" é colocado no interior do canal auditivo do bebé, este vai medir a resposta (ecos) provocada por cliques e tons emitidos pelo aparelho.
- Potenciais evocados auditivos (PEA): no qual é avaliada a resposta do cérebro ao som. São colocados auriculares no bebé e emitidos cliques e tons para os seus ouvidos. Três eléctrodos colocados na cabeça do bebé avaliam a resposta do cérebro.
Qualquer um dos testes pode ser utilizado, ou ambos, mas habitualmente são utilizadas as OEA.
O que acontece se for detectada perda auditiva?
Todos os bebés com alterações detectadas no teste de rastreio são orientados para novo teste de rastreio que deve ser efectuado idealmente durante a segunda semana de vida para confirmação do resultado. A confirmação de défice auditivo no novo teste implica a orientação para uma consulta de otorrinolaringologia e também, se for necessário, para uma consulta de genética médica.
É extremamente importante que o processo de confirmação do diagnóstico de surdez esteja completo até aos 3 meses de idade e que a intervenção se inicie até aos seis meses. A avaliação e o seguimento de uma criança com perda auditiva deverá ser realizada por uma equipa multidisciplinar que inclua pediatras, otorrinolaringologistas, audiologistas, enfermeiros, terapeutas da fala, psicólogos e outros. Às crianças com perda auditiva, deverão ser disponibilizados todos os meios de ajuda técnica adequados e necessários à sua reabilitação, nomeadamente próteses auditivas e implantes cocleares.
Por fim, é importante não esquecer que todas as crianças, mesmo as que passam no rastreio auditivo, com ou sem factores de risco devem ser alvo de avaliação periódica da sua audição nas consultas de saúde infantil. Deste modo todos os profissionais de saúde devem estar alerta para sinais de alarme e conhecer as diferentes etapas que devem ser avaliadas a cada idade. Aos pais cabe comunicar qualquer alteração ou dúvida ao médico assistente.
Sempre que exista uma suspeita em relação à audição de uma criança, esta deve ser referenciada para avaliação.
O importante é não esquecer que quanto mais cedo... MELHOR!
Filipa Neiva, com a colaboração de Albina Silva e Almerinda Pereira, pediatras do Serviço de Pediatria do Hospital de Braga

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