As contas, como tem sido hábito, não batem certo. De acordo com o Ministério da Educação, 61% dos professores participaram no protesto de ontem, parando 30% das escolas. Os sindicatos falam em 94%. Mas a conclusão não muda: a greve de ontem foi mesmo a maior de sempre, geral ou sectorial. Isto porque, se os dados da "plataforma" são recordistas, também não há registo de um governo ter admitido mais de dois terços de adesão a uma greve.(...)
Estas são, no entanto, contas que o secretário de Estado da Educação, Valter Lemos, não terá considerado antes da conferência de imprensa que deu na 5 de Outubro, onde defendeu que apesar da "significativa" mobilização , "os objectivos traçados pelos sindicatos de professores falharam". De resto, a avaliar pelo discurso ministerial, nada do que se passou ontem justifica ponderar novos recuos.
De manhã, o outro secretário de Estado, Jorge Pedreira, tinha manifestado disponibilidade da tutela para prolongar por mais "alguns anos" o modelo simplificado do Governo - o tal que os sindicatos já recusaram. À tarde, Valter Lemos garantiu que, "como sempre", o ministério está "inteiramente disponível" para negociar e que é à posição de "intransigência" da "plataforma" que se deve o actual impasse.
Confrontado com o facto de, pela terceira vez num ano, mais de 60% dos professores se terem associado a essa "posição" sindical e de a suspensão já ter sido exigida em mais de 300 escolas e agrupamentos, o governante não desarmou: a lei "é para cumprir" e o Governo "não cede a ultimatos".
No que cada vez mais se assemelha a uma "conversa de surdos", os argumentos das partes não deixam de revelar uma notável coincidência. Cerca de hora e meia depois, Mário Nogueira considerou que os cerca de 132 mil professores que ontem fizeram greve reforçam a posição da "plataforma" para... negociar. Essa é, aliás, a grande vontade dos sindicatos, acrescentou, um processo de negociação "sério e aberto". "O ministério tem de aceitar negociar sem condições prévias, ao contrário do que tem feito, e ainda por cima colocando o ónus da intransigência nos sindicatos", acusou.
Para as 11 organizações reunidas na "plataforma", o reconhecimento de que esta foi "uma greve significativa" implica que se tirem as devidas consequências. E esperam que isso aconteça nos próximos dias, dado o "nervosismo" que detectaram nas palavras de Valter Lemos.
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