Se na sua sala de aula tem um aluno que frequentemente se encoleriza; discute com os adultos; recusa cumprir pedidos ou regras; aborrece deliberadamente as pessoas; culpa os outros dos seus erros ou maus comportamentos; manifesta raiva e ressentimento e é rancoroso ou vingativo, então, provavelmente, tem em mãos uma perturbação disruptiva do comportamento, mais concretamente uma perturbação de oposição. Se não tem nem nunca teve alunos com este perfil, pode desde já considerar-se sortudo, pois estas crianças põem qualquer adulto, mesmo que calmo e equilibrado, à beira de um ataque de nervos. O que distingue uma criança com perturbação de oposição de outra normal é a cronicidade dos comportamentos referidos. Provavelmente já se confrontou com alunos com comportamentos de oposição. Muitos destes, felizmente, quando confrontados e sancionados em resultado de apresentarem um comportamento disfuncional, admitem a inadequação do seu comportamento, tornando-se a probabilidade de este voltar a ocorrer reduzida. No caso da perturbação de oposição, a probabilidade da repetição do comportamento disfuncional é muito elevada e o assumir de responsabilidades por parte da criança é muito limitada. Esta perturbação traduz-se, em termos práticos, numa violação sistemática dos direitos básicos dos outros, bem como das normas e regras sociais esperadas para uma determinada faixa etária.
Segundo os estudos já realizados, este padrão de comportamento desenvolve-se quando o estilo de educação parental é marcado pela permissividade, ou seja, quando os pais não impõem limites, raramente usam a punição, evitam exercer autoridade e impõem poucas regras no que se refere ao cumprimento das rotinas diárias, tais como horas das refeições e hora de ir dormir. Esta falta de autoridade vai tendo reflexos cada vez mais graves à medida que a criança cresce e tem consciência de que, faça o que fizer, as consequências serão sempre diminutas.
A grande questão que necessariamente se coloca face a este tipo de problema é: o que fazer? Estes jovens são realmente muito difíceis, pois, além de nunca assumirem as suas responsabilidades, usam a manipulação como forma de tentar que os outros tenham deles uma imagem positiva. Chamar a família e tentar envolvê-la na resolução do problema traduz-se habitualmente em tempo perdido... A minha experiência, infelizmente, assim o tem demonstrado. Apesar de todas as evidências do insucesso da estratégia anteriormente referida, tenta-se sempre pedir a colaboração das figuras parentais. O que acontece é que estas já há muito tempo perderam o poder, se é que alguma vez o tiveram.
O que às vezes vai surtindo algum efeito é recorrer a entidades que tenham um estatuto marcado por alguma autoridade - estou a pensar concretamente nas Comissões de Protecção de Crianças e Jovens. Quando o jovem e a família são chamados às referidas comissões, em alguns casos a consciência de que algo pode realmente acontecer parece ter efeitos positivos em termos comportamentais. Infelizmente, esses efeitos nem sempre são duradouros. Por isso, a articulação entre as escolas e as Comissões é fundamental, já que de vez em quando estes jovens têm de voltar à Comissão para a memória ser refrescada!
O que realmente incomoda profundamente neste tipo de perturbação é que ela se traduz frequentemente num grande desgaste emocional para os professores e para os pares e nem sempre se conseguem encontrar estratégias eficazes para pôr fim ao problema.
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