A ASSOL – Associação de Solidariedade Social de Lafões - é uma Organização Não Governamental sem fins lucrativos (IPSS), fundada em 1987 em Oliveira de Frades com o objectivo de desenvolver uma rede de apoios a pessoas com deficiência na região de Lafões, situada no distrito de Viseu. Até essa altura, as crianças com deficiências eram mais ou menos aceites nas escolas do primeiro ciclo ou ficavam em casa entregues aos seus pais. Os jovens e adultos ficavam ao cuidado das suas famílias, sem mais apoios.
Em 1987 apenas existiam Centros de Educação Especial em Viseu (cidade que fica a cerca de 50 km de distância), frequentados por muito poucas crianças e jovens da nossa região.
A ASSOL, desde o momento da sua fundação, definiu a sua missão como promover a integração social das pessoas com deficiência por oposição à ideia de criar serviços especiais para pessoas especiais. Esta opção procurava dar corpo à inclusão escolar e social das crianças, jovens e adultos numa comunidade que até aí sempre se organizara, com muitas dificuldades e limitações, para responder às necessidades das pessoas com deficiência, onde ainda funcionava uma economia assente na pequena agricultura de subsistência e onde os valores tradicionais diziam que cuidar das pessoas com deficiência é uma cruz a ser carregada por aqueles a quem Deus deu esse destino.
Apesar desta situação, foi decidido que a ASSOL nunca faria escolas especiais que ao tempo eram estruturas muito populares em Portugal. A sua primeira iniciativa, em 1989, porque era para isso que havia financiamento, foi a criação de um curso de formação profissional para adultos e jovens desempregados, o que permitiu dar alguma estrutura à Associação. A segunda, em 1991, foi celebrar um protocolo com o Ministério da Educação que permitiu à ASSOL ter alguns técnicos com a tarefa de colaborar com as escolas e os serviços de educação especial integrada, então a nascer, de modo a conseguir a integração de todas as crianças e jovens com deficiência.
O local para as crianças e jovens crescerem é entre os seus pares, sendo certo que, para que possam fazê-lo, podem precisar de apoios especiais. Este é o conceito que está na base do projecto que temos vindo a desenvolver e que, aos poucos, foi contaminando as escolas e a comunidade. O factor distintivo da ASSOL é esta estratégia, pois os recursos acrescentados às escolas são relativamente reduzidos, atendendo a que, para uma população global de 40.000 habitantes, temos apenas mais uma psicóloga, um terapeuta da fala, 3 auxiliares pedagógicas e uma técnica de serviço social a meio tempo.
Hoje, passados cerca de 17 anos sobre os primeiros passos, está consolidada a ideia da integração escolar e social como um direito básico que, na nossa comunidade, é assegurado a todos, independentemente da sua condição física ou intelectual. Esta orientação é continuada através de experiências dos alunos em processo de transição da escola para o mundo do trabalho, facilitado pela crescente disponibilidade das empresas em aceitar a sua colaboração. Esta mudança e o empenho das escolas permitem que uma criança com deficiência frequente a mesma escola dos seus pares até aos 16 ou 18 anos sem que os seus pais tenham que fazer mais do que matriculá-la na escola, tal como fazem com os outros filhos.
Através de outros programas dirigidos a jovens e adultos, a ASSOL tem conseguido assegurar que, uma vez terminada a escola, exista algum apoio seja em centro de actividades ocupacionais, formação profissional ou emprego, dependendo das capacidades e necessidades de cada jovem.
No sentido de aprofundar o envolvimento dos pais e dos colegas estamos actualmente a utilizar as técnicas do Planeamento Centrado na Pessoa (MAPS e PATH1) , que revelam grande potencial para a clarificação de projectos de vida e para promoverem o envolvimento de toda a comunidade na concretização desses projectos.
Esta é uma técnica que exige um grande envolvimento das pessoas mas que se faz com poucos recursos: papel de cenário ou mesmo um quadro onde escrever.
O objectivo essencial é criar uma visão do futuro, desejado pela pessoa e que o grupo de colegas se compromete a apoiar.
A realização do PATH por uma aluna com multideficiência e limitações gravíssimas na comunicação (não fala), na mobilidade (anda em cadeira de rodas) na aprendizagem (não sabe ler nem escrever) com os seus colegas de turma com idades entre os 14 e 16 anos e os seus professores, permitiu perceber que todos tinham o sonho de serem mais amigos uns dos outros. Nesta sessão e para realizar esse sonho, os colegas comprometeram-se a organizar grupos para realizarem actividades com a aluna em questão, em diversos momentos ao longo da semana e, em conjunto com os professores, encontrar formas de aumentar a sua participação nas aulas que frequenta, inserida na turma.
A integração escolar das pessoas com as maiores limitações tem uma enorme implicação no modo como são percebidos pelos outros. A mãe da jovem atrás referida pediu que a sua filha continuasse na escola por mais um ano porque no ano seguinte viria a sua filha mais nova para a mesma escola e o facto da irmã mais velha lá estar daria segurança à irmã mais nova. Esta transformação de uma “deficiente profunda” em “irmã mais velha” só se consegue pela presença e pela participação e nunca haverá passes de mágica, acções de sensibilização ou discurso políticos sobre a inclusão capazes de a operarem.
Esta mudança faz toda a diferença do mundo e é ela que nos dá alento para, embora cometendo erros, persistirmos neste caminho. Esta cooperação com as escolas tem uma enorme repercussão em toda a comunidade, criando um ambiente de naturalidade que facilita o acesso das pessoas com deficiência a outros serviços.
Os recursos são importantes mas mais importante é a estratégia porque se orientam, pois é ela que permite moldar os projectos e estabelecer a direcção a seguir. Os profissionais costumam dizer que trabalham para as pessoas, o que, sem dúvida, é verdade. Mas acontece que em terapias que utilizam animais, por exemplo a hipoterapia com cavalos, estes também trabalham. Portanto, não é o facto de trabalhar que, por si só, distingue o terapeuta do animal. A capacidade de realizar o trabalho em função de uma estratégia, esse sim, é o factor distintivo.
As casas e as prisões são feitas com os mesmos materiais. A diferença está apenas no plano. Também em educação os recursos podem servir para promover a integração e puxar as pessoas para a corrente da vida comunitária ou pelo contrário para as conter nas margens.
1- MAPS – Making Action Plans (Formulação de Planos de Acção)
PATH - Planning Alternative Tomorrows with Hope (Planeamento dum Futuro Alternativo com Esperança)
Mário Pereira é Psicólogo e Director Técnico da ASSOL
Em 1987 apenas existiam Centros de Educação Especial em Viseu (cidade que fica a cerca de 50 km de distância), frequentados por muito poucas crianças e jovens da nossa região.
A ASSOL, desde o momento da sua fundação, definiu a sua missão como promover a integração social das pessoas com deficiência por oposição à ideia de criar serviços especiais para pessoas especiais. Esta opção procurava dar corpo à inclusão escolar e social das crianças, jovens e adultos numa comunidade que até aí sempre se organizara, com muitas dificuldades e limitações, para responder às necessidades das pessoas com deficiência, onde ainda funcionava uma economia assente na pequena agricultura de subsistência e onde os valores tradicionais diziam que cuidar das pessoas com deficiência é uma cruz a ser carregada por aqueles a quem Deus deu esse destino.
Apesar desta situação, foi decidido que a ASSOL nunca faria escolas especiais que ao tempo eram estruturas muito populares em Portugal. A sua primeira iniciativa, em 1989, porque era para isso que havia financiamento, foi a criação de um curso de formação profissional para adultos e jovens desempregados, o que permitiu dar alguma estrutura à Associação. A segunda, em 1991, foi celebrar um protocolo com o Ministério da Educação que permitiu à ASSOL ter alguns técnicos com a tarefa de colaborar com as escolas e os serviços de educação especial integrada, então a nascer, de modo a conseguir a integração de todas as crianças e jovens com deficiência.
O local para as crianças e jovens crescerem é entre os seus pares, sendo certo que, para que possam fazê-lo, podem precisar de apoios especiais. Este é o conceito que está na base do projecto que temos vindo a desenvolver e que, aos poucos, foi contaminando as escolas e a comunidade. O factor distintivo da ASSOL é esta estratégia, pois os recursos acrescentados às escolas são relativamente reduzidos, atendendo a que, para uma população global de 40.000 habitantes, temos apenas mais uma psicóloga, um terapeuta da fala, 3 auxiliares pedagógicas e uma técnica de serviço social a meio tempo.
Hoje, passados cerca de 17 anos sobre os primeiros passos, está consolidada a ideia da integração escolar e social como um direito básico que, na nossa comunidade, é assegurado a todos, independentemente da sua condição física ou intelectual. Esta orientação é continuada através de experiências dos alunos em processo de transição da escola para o mundo do trabalho, facilitado pela crescente disponibilidade das empresas em aceitar a sua colaboração. Esta mudança e o empenho das escolas permitem que uma criança com deficiência frequente a mesma escola dos seus pares até aos 16 ou 18 anos sem que os seus pais tenham que fazer mais do que matriculá-la na escola, tal como fazem com os outros filhos.
Através de outros programas dirigidos a jovens e adultos, a ASSOL tem conseguido assegurar que, uma vez terminada a escola, exista algum apoio seja em centro de actividades ocupacionais, formação profissional ou emprego, dependendo das capacidades e necessidades de cada jovem.
No sentido de aprofundar o envolvimento dos pais e dos colegas estamos actualmente a utilizar as técnicas do Planeamento Centrado na Pessoa (MAPS e PATH1) , que revelam grande potencial para a clarificação de projectos de vida e para promoverem o envolvimento de toda a comunidade na concretização desses projectos.
Esta é uma técnica que exige um grande envolvimento das pessoas mas que se faz com poucos recursos: papel de cenário ou mesmo um quadro onde escrever.
O objectivo essencial é criar uma visão do futuro, desejado pela pessoa e que o grupo de colegas se compromete a apoiar.
A realização do PATH por uma aluna com multideficiência e limitações gravíssimas na comunicação (não fala), na mobilidade (anda em cadeira de rodas) na aprendizagem (não sabe ler nem escrever) com os seus colegas de turma com idades entre os 14 e 16 anos e os seus professores, permitiu perceber que todos tinham o sonho de serem mais amigos uns dos outros. Nesta sessão e para realizar esse sonho, os colegas comprometeram-se a organizar grupos para realizarem actividades com a aluna em questão, em diversos momentos ao longo da semana e, em conjunto com os professores, encontrar formas de aumentar a sua participação nas aulas que frequenta, inserida na turma.
A integração escolar das pessoas com as maiores limitações tem uma enorme implicação no modo como são percebidos pelos outros. A mãe da jovem atrás referida pediu que a sua filha continuasse na escola por mais um ano porque no ano seguinte viria a sua filha mais nova para a mesma escola e o facto da irmã mais velha lá estar daria segurança à irmã mais nova. Esta transformação de uma “deficiente profunda” em “irmã mais velha” só se consegue pela presença e pela participação e nunca haverá passes de mágica, acções de sensibilização ou discurso políticos sobre a inclusão capazes de a operarem.
Esta mudança faz toda a diferença do mundo e é ela que nos dá alento para, embora cometendo erros, persistirmos neste caminho. Esta cooperação com as escolas tem uma enorme repercussão em toda a comunidade, criando um ambiente de naturalidade que facilita o acesso das pessoas com deficiência a outros serviços.
Os recursos são importantes mas mais importante é a estratégia porque se orientam, pois é ela que permite moldar os projectos e estabelecer a direcção a seguir. Os profissionais costumam dizer que trabalham para as pessoas, o que, sem dúvida, é verdade. Mas acontece que em terapias que utilizam animais, por exemplo a hipoterapia com cavalos, estes também trabalham. Portanto, não é o facto de trabalhar que, por si só, distingue o terapeuta do animal. A capacidade de realizar o trabalho em função de uma estratégia, esse sim, é o factor distintivo.
As casas e as prisões são feitas com os mesmos materiais. A diferença está apenas no plano. Também em educação os recursos podem servir para promover a integração e puxar as pessoas para a corrente da vida comunitária ou pelo contrário para as conter nas margens.
1- MAPS – Making Action Plans (Formulação de Planos de Acção)
PATH - Planning Alternative Tomorrows with Hope (Planeamento dum Futuro Alternativo com Esperança)
Mário Pereira é Psicólogo e Director Técnico da ASSOL
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