Uma investigação recente mostra que a configuração da sala de aula influencia o desenvolvimento da leitura no ensino básico. Este estudo explorou os efeitos potenciais do ambiente físico da sala de aula (comparando plano aberto e plano fechado) no progresso académico dos alunos; em concreto, o desenvolvimento da leitura nestas duas configurações. Os resultados obtidos sugerem um efeito negativo das salas de aula abertas nessa progressão.
Para este estudo, os seus autores — Gary Rance, Richard C. Dowell e Dani Tomlin, da Universidade de Melbourne, na Austrália — monitorizaram, ao longo de um ano, um grupo de alunos dos 7 aos 10 anos enquanto alternavam entre os períodos escolares passados em salas de aula abertas (com várias turmas presentes num mesmo espaço físico) e em salas de aula fechadas (com uma turma por espaço). Mantiveram-se durante o estudo todas as condições de aprendizagem (como a turma e os professores), ao passo que o ambiente físico foi alternando, período a período, com uma parede divisória portátil e tratada acusticamente. Cada aluno, matriculado no 3.º ou no 4.º ano de escolaridade, foi considerado pelo respetivo professor como tendo um desenvolvimento típico para a idade. Estes alunos também eram audiometricamente normais e não tinham dificuldades cognitivas. Submeteram-se 196 alunos a uma avaliação inicial com determinadas componentes académicas, cognitivas e auditivas, dos quais 146 completaram o protocolo longitudinal — desenvolvido ao longo de três períodos escolares —, o que lhes permitiu serem sujeitos a uma avaliação repetida, para comparar o desenvolvimento dos alunos nas fases de estudo de plano aberto e de plano fechado. Destes 146, metade estava em turmas de plano aberto/fechado/aberto, a outra metade em turmas de plano fechado/aberto/fechado.
Os resultados mostram que a configuração da sala de aula teve um efeito significativo na taxa de desenvolvimento da fluência de leitura. Dos 146 participantes, 94 (64,4%) apresentaram uma taxa mais alta de desenvolvimento nas fases de estudo em plano fechado. As pontuações de leitura em sala de aula fechada foram significativamente maiores do que em sala de aula aberta, durante todo o estudo. A pontuação média obtida no teste de fluência de leitura foi 6,8 palavras por minuto mais baixa para cada período escolar passado na condição de plano aberto.
Este estudo também sugere que o aumento do ruído, em fases de plano aberto, é uma explicação possível para os resultados obtidos. Este ruído inclui quer o ruído de fundo, quer o ruído das vozes de professores e de alunos de outras turmas, característicos da configuração de sala de aula de plano aberto, porque limitaria quão bem uma criança conseguiria ouvir o professor. Além disso, acredita-se que a distração visual do movimento nas turmas adjacentes, no ambiente de plano aberto, também afetaria a capacidade de perceção da fala pela criança.
À luz destas evidências, a sala de aula é muito mais do que um mero espaço físico. Pode ser um ambiente auditivo desafiador, sobretudo para alunos mais jovens, e com mais dificuldades em distinguir a fala de outros ruídos. Impõe-se assim uma atenção redobrada a esta importante variável para uma aprendizagem da leitura que seja o mais efetiva possível.
Referência bibliográfica
Rance, G., Dowell, R. C., & Tomlin, D. (2023). The effect of classroom environment on literacy development. Npj Science of Learning, 8(1). https://doi.org/10.1038/s41539-023-00157-y
Fonte: Iniciativa Educação
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