Associados a elevadas taxas de empregabilidade, o ensino e a formação profissional são uma prioridade a nível europeu. Em alguns países a opção por esta via de estudos chega aos 70%, contudo, noutros, o ensino profissional continua a ser ignorado por boa parte dos jovens. Este foi o tema em debate esta semana no Educar tem Ciência, um projeto da Iniciativa Educação em parceria com a TSF e o Dinheiro Vivo, que contou com a presença de Nuno Crato, presidente da Iniciativa Educação, e João Santos, durante mais de 30 anos especialista da Comissão Europeia para assuntos relacionados com o emprego, questões sociais e inclusão e, mais recentemente, os programas de ensino vocacional.
"As instituições europeias e os Estados-membros concordaram em assignar à formação profissional importantes recursos financeiros", garante João Santos, que dá como exemplo o programa Erasmus +, que inclui cinco mil milhões de euros destinados a formação profissional. Ainda assim, cabe a cada Estado definir as suas regras para o ensino profissional, o que faz com que esta seja uma realidade vivida de forma diferente um pouco por toda a Europa.
As estatísticas divulgadas pelo Eurostat mostram que, em média, cerca de 48% dos alunos no ensino secundário optam pela via do ensino profissional. No entanto, há países onde esta percentagem ronda os 70% e outros onde não ultrapassa os 15%. Mais transversal é o bom nível de empregabilidade associado a esta via de ensino: na Alemanha é de 93% (na via tradicional é de 64%) e, em Portugal, onde 38% dos alunos do ensino secundário seguem a via profissional, 83% destes encontram emprego pouco tempo depois. "Quem escolhe o ensino geral e depois não vai para as universidades tem uma taxa de emprego de cerca de 73%, cerca de dez pontos percentuais inferior a alguém que vá para o ensino profissional", afirma João Santos.
Na Europa, muitos dos centros de formação profissional europeus têm parcerias com ONG, empresas e centros de emprego, como forma de dar resposta às necessidades de desenvolvimento local e regional. O grande desafio, defende João Santos, é dar aos jovens as competências necessárias para lidar com um futuro de mudanças constantes. "Um jovem que termine hoje a sua formação (profissional ou o ensino superior) pode esperar ter até 12 transições profissionais durante a sua vida ativa", refere.
Nuno Crato sublinha a necessidade de estas competências serem desenvolvidas em torno de questões concretas. João Santos concorda e dá como exemplo o empreendedorismo. "Pode ser aprendido como uma disciplina à parte, mas aprende-se mesmo aplicando-o em concreto. E empreendedorismo é mais do que criar uma empresa, também é a vontade de dar propostas, de resolver, e isso aprende-se a trabalhar".
Para João Santos, o ensino profissional é uma opção de qualidade que deve ser como uma "forma de desenvolver competências e ter uma vida digna e com qualidade de trabalho". Mas, para isso, diz, "há a necessidade de as empresas colaborarem muito mais com as escolas para as ajudar a entender quais as necessidades do mercado de trabalho e ajudar os alunos a facilitar a transição da escola para o emprego".
"Por vezes, a colaboração entre as escolas e as empresas é muito mais difícil do que parece, mas também é muito mais frutuosa do que parece", alerta, por seu turno, Nuno Crato. "Todos sabemos que a nossa sociedade precisa de uma série de profissões que não tem e há muitos jovens que gostariam de ter emprego e não têm. Porque é que as duas coisas não se juntam? Este esforço deveria ser um desígnio nacional", defende o presidente da Iniciativa Educação.
Fonte: Dinheiro Vivo por indicação de Livresco
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