A Perturbação do Espetro do Autismo (PEA) é uma perturbação do neurodesenvolvimento que se manifesta através de dificuldades nas interações sociais e padrões restritos e repetitivos de comportamento. Muitas vezes, as pessoas com PEA têm dificuldades em iniciar e manter relacionamentos, já que é um desafio compreender as pistas de comunicação não verbais: tom de voz, expressão facial, postura corporal, entre outras.
Para fazer face a estas dificuldades, são muitas vezes trabalhadas competências sociais que permitam reconhecer estas pistas e responder adequadamente em situações sociais, mas ainda há um longo caminho a percorrer no domínio das relações amorosas e sexuais dos adultos com PEA.
Estas relações são cruciais no desenvolvimento emocional e social de qualquer pessoa, e para a população com PEA surgem desafios associados à sua dificuldade na compreensão de normas sociais e de interação. No entanto, frequentemente existe medo associado à exploração da sexualidade em pessoas com PEA. São ouvidas preocupações relativamente a comportamentos sexuais desadequados, fala-se de risco e consentimento, mas será que o evitamento é solução? Será que falar sobre o assunto irá aumentar dificuldades?
Começamos a perceber que o caminho é outro, a informação é chave. É urgente olhar para os adultos com PEA como pessoas com autonomia e identidade sexual, intervir e capacitar, usando metodologias apropriadas para o seu perfil.
De facto, o namoro envolve a compreensão de normas sociais complexas, que poderão não ser intuitivas para adultos com PEA. Pode ser uma experiência stressante e desconfortável que leva a um sentimento de fracasso e desistência. Este evitamento tem consequências importantes para a inclusão social e emocional dos adultos com PEA. Desenvolver competências sociais e emocionais relacionadas com o namoro e sexualidade pode ser um aliado na construção de autonomia e autoestima desta população, aumentando as suas experiências de sucesso e permitindo que tomem decisões informadas e façam escolhas conscientes e responsáveis sobre os seus relacionamentos e intimidade.
Trabalhar questões como o consentimento, privacidade e limites pode proteger pessoas com PEA de situações de risco, e capacitá-las para uma maior adequação e sucesso na procura de relações amorosas. Para além disso, a aprendizagem de competências de comunicação assertiva, resolução de conflitos e empatia pode ajudar a estabelecer relacionamentos saudáveis, tanto românticos como de amizade.
Para além do impacto nas relações, a educação sexual pode apoiar os adultos com PEA no desenvolvimento do seu autoconceito e compreensão do seu próprio corpo. Ao aumentar a informação sobre o tema, promove-se também a diminuição do preconceito acerca da sexualidade destas pessoas, criando uma cultura de compreensão e aceitação, essencial para o seu bem-estar.
É necessário capacitar familiares e profissionais de saúde especializados, de modo a providenciar apoio adequado às necessidades de cada pessoa com PEA, adaptando a intervenção de acordo com o grau de dificuldade do indivíduo. É fundamental criar um ambiente de respeito, aberto ao diálogo e livre de julgamentos para que as pessoas com PEA se sintam confortáveis para fazer perguntas e expressar as suas questões acerca de relações amorosas e sexuais.
Beatriz Carvalho
Fonte: Público de acesso livre
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