segunda-feira, 25 de maio de 2015

“A grande vitória de Paulinho é ser a pessoa que é”

Um dia, perguntaram a Paulinho quantas vezes treinava por semana. “Treino às segundas, terças, quartas, quintas, sextas, sábados e domingos”. É a resposta da simplicidade. A mesma que lhe coloca um sorriso permanente na expressão, mesmo quando chora e diz ao irmão, José, que chora por se feliz.

Tem razões para ser feliz, Paulinho: é campeão do mundo dos 1500 metros entre os atletas com Síndrome de Down. E, desde domingo, é campeão do mundo dos 21 km. Contra todas as evidências científicas, Paulo Henriques correu a Meia Maratona do Douro Vinhateiro, na Régua, em menos de 2.10 horas. Uma prenda de aniversário antecipada para os 34 anos do atleta da Praia da Barra, em Ílhavo, que já se tornou uma estrela do pelotão.

“O Paulo sabe que ganhar não é chegar em primeiro lugar. Sabe que tem uma condição diferente. Ganhar é ser o primeiro dos diferentes”, conta-nos José Henriques, irmão e tutor de Paulinho e, afinal, o homem que fez dele um atleta. Paulo ia treinar com o irmão, que foi atleta, e começou a frequentar treinos informais que José promovia. Valeu-lhe a extraordinária capacidade de concentração para o treino. Que lhe vem de outra característica extraordinária: a motivação. Que, ambos, lhe deram uma evolução que fez Paulinho contornar as determinações da natureza.

“As pessoas com Síndrome de Down têm cardiopatias que desaconselham o exercício físico prolongado. O Paulo veio abalar o preestabelecido: conseguiu reverter a condição e hoje não tem qualquer problema cardíaco”, explica José, que lhe monitoriza as performances. “Uma vez, numa avaliação, o técnico quis repetir o exame porque não acreditava no que estava a ver e só dizia que ou a máquina estava avariada ou estava perante algo de excecional”.

Resultado: Paulo já era o único atleta com Síndrome de Down a ter corrido 10 km seguidos, mas foi um recorde não oficial, porque careceu da autorização especial da Federação Internacional de Desporto para Pessoas com Síndrome de Down. Correu-os em 0:53.53. E oficializar o recorde é a nova meta de Paulinho, no dia 18 de julho, na Corrida Popular da Costa Nova, agora já com autorização. Quanto à Meia Maratona, está registada. O recorde é português. Já a medalha dos 1500, Paulinho foi, em calções e mangas cavas, levá-la à campa da mãe falecida pouco depois de ele a conquistar. Sozinho. Encontrou-a pela fotografia. “A grande vitória não é o Paulo bater recordes do mundo. É ser a pessoa que é”.

Ivete carneiro
 
Fonte: JN

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