A Comissão Internacional da UNESCO produziu um relatório, com o contributo de cerca de um milhão de pessoas de todo o Mundo, em que toma posição contra a progressiva digitalização da escola. A proposta de novo contrato social para a educação, em 2050, será apresentada hoje, a partir das 15 horas, por António Sampaio da Nóvoa, durante um webinar, promovido pela Universidade da Madeira.
Membro da Comissão Internacional da UNESCO e chair da comissão de redação que elaborou o relatório, Sampaio da Nóvoa revela ao JN que o documento defende que se deve proteger as escolas, e não o ensino à distância, a partir de casa, para permitir "viver em comum a experiência educativa". Aponta ainda como ideias centrais, na definição de políticas educativas, o desenvolvimento de pedagogias de colaboração, como atos de encontro, e a transversalidade dos currículos, com base na cooperação como elemento central do conhecimento. O embaixador de Portugal na UNESCO explica que o documento também sublinha a importância de "o professor ser visto como uma profissão colaborativa, não de um modo forçado ou imposto, mas porque faz parte de uma nova realidade". Consciente de que a educação vai muito além da escola, defende ainda a construção de dinâmicas intergeracionais, tendo em conta o aumento da esperança de vida. "É muito importante uma mudança dos sistemas educativos do século XIX, que se mantêm até hoje".
Pobreza não é fatalidade
O relatório aponta para o futuro da educação em 2050, data que, além de representar um "número redondo", ultrapassa os objetivos do desenvolvimento sustentável definidos para 2030. "Queríamos ir além disso e projetar-nos no espaço de uma geração. Cada vez mais as gerações são de 30 anos, porque as pessoas têm os filhos mais tarde", justifica Sampaio da Nóvoa. Convicto de que a pobreza, o analfabetismo e a iliteracia não são fatalidades, acredita que, "no espaço de uma geração, conseguimos mudar a educação no Mundo".
Dirigido a professores, educadores, pais e alunos, o relatório "Reimaginar os nossos futuros juntos: um novo contrato social para a educação" toma posição contra o individualismo e defende a educação como um bem público e as dimensões da solidariedade e da partilha. Sampaio da Nóvoa refere que, ao contrário do que é habitual, o documento não resulta das reflexões de um conjunto de especialistas, mas de ideias e de experiências adotadas pelo Mundo, que podem ser partilhadas ou inspirar outras iniciativas.
"Houve cerca de um milhão de pessoas de todo o Mundo que contribuíram para o relatório, cuja matriz tem como eixo estruturante a cooperação, através de sites, de plataformas, de encontros e de comentários em intervenções", refere o investigador. Desde especialistas a professores, educadores, alunos e pais, que, ao longo de dois anos, contribuíram para que a educação seja encarada como um bem comum global.
Fonte: JN por indicação de Livresco
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