Portugal foi, na Europa, o país que “mais investiu no aumento do número de horas do ensino de Matemática” entre 2003 e 2012, tendo passado de cerca de três para cinco horas semanais. Nos outros países europeus, a carga horária nesta disciplina manteve-se em cerca de três horas por semana.
Para os autores do estudo O que faz uma boa escola, do projeto aQeduto, que será apresentado nesta terça-feira, o aumento registado em Portugal “pode estar associado à melhoria de desempenho” dos alunos portugueses de 15 anos a Matemática, registada nos testes internacionais PISA, cujo resultado médio passou de 466 pontos, em 2003, para 487 em 2012, numa escala de 0 a 1000, em que a média geral ronda os 500.
Estes testes são realizados de três em três anos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) com vista a avaliar a literacia dos alunos de 15 anos a Matemática, Ciências e Leitura. É com base nos seus resultados e nos inquéritos promovidos no âmbito do PISA a alunos, professores e diretores de escolas que o projeto aQeduto tem vindo a analisar o que mudou nos alunos, nas escolas e no país. Este projeto é desenvolvido em conjunto pela Fundação Francisco Manuel dos Santos e o Conselho Nacional de Educação (CNE).
O estudo que será apresentado nesta terça-feira constata que “não se verifica qualquer relação entre o número médio de alunos por turma e os resultados obtidos no PISA”. Dois exemplos: a Holanda, com turmas médias de cerca de 25 alunos, obteve 523 pontos nestes testes em 2012, enquanto o Luxemburgo, que tinha turmas de 21 alunos, se ficou pelos 490.
Em geral, o número médio de alunos por turma nos países europeus é de 18 a 27 alunos, estando no primeiro caso a Finlândia e no segundo a França. A média em Portugal é de 22 alunos, embora a legislação permita chegar a um máximo de 30 por turma. Um estudo recente do CNE veio confirmar que esta variável tem um peso significativo no modo como se processam as aulas: quanto maiores as turmas, mais são os registos de indisciplina e menor é, por isso, o tempo consagrado pelos professores ao ensino propriamente dito.
O peso do meio
Mas, apesar desta constatação, também o CNE referiu então que não existe uma relação entre o número de alunos por turma e o seu desempenho. No seu programa, o Governo comprometeu-se a reduzir “gradualmente” o número de alunos por turma. No Parlamento estão atualmente em discussão vários projetos de resolução nesse sentido, apresentados pelo PS, BE, PCP e CDS/PP.
O estudo O que faz uma boa escola vem, por outro lado, confirmar que o estatuto socioeconómico dos alunos continua a influenciar o seu desempenho escolar. No conjunto das escolas com 3.º ciclo e secundário, em 20% a origem socioeconómica dos alunos era superior à média na OCDE, sendo que a maioria obteve resultados no PISA acima dos 500 pontos. Só 3% tiveram um desempenho abaixo do esperado. Já nas escolas com características socioeconómicas abaixo da média da OCDE, que são a maioria (80%), apenas 34% conseguiram resultados acima valor de referência do PISA (500 pontos).
“Dentro deste grupo, há escolas que conseguiram um score médio a Matemática na ordem dos 550 pontos”, destacam os autores do estudo, frisando que “importa compreender quais as estratégias que adotaram para potenciar o sucesso dos seus alunos, enfrentando condições adversas do meio envolvente”.
Já no que respeita às escolas que tiveram fracos resultados (46%), afirma-se que “estes dados sugerem que estas se moldaram à sua envolvente e não estimularam os seus alunos a ser melhores que o esperado”.
O que faz então a diferença entre elas? Segundo as perceções dos seus diretores, recompiladas para este estudo, “as práticas que distinguem as escolas que se classificaram acima de 500, mas que servem populações de recursos abaixo da média, são uma combinação de professores motivados e valorizados pela direção e a oferta de atividades extracurriculares”.
As escolas com resultados abaixo dos 500, e que servem também o mesmo tipo de populações, tendem “a chumbar mais alunos, criar turmas de nível a Matemática” (agrupando os alunos pelos seus desempenhos), embora invistam também na “formação de professores e na divulgação dos objetivos da escola”. Segundo os autores do estudo, esta situação “abre espaço para a discussão sobre a qualidade e formas de implementação” destas últimas estratégias.
Faltam novas tecnologias
Por outro lado, os diretores de cerca de metade das escolas com resultados baixos deram conta da “falta de instalações, de material pedagógico e de salas”, mas não se queixaram da falta de professores. Sobre os recursos existentes nas escolas, existem vários pontos em comum entre as escolas com bons e maus resultados. Uma das carências transversais prende-se com “a falta de computadores, Internet e software nas salas de aula”.
A principal diferença, neste domínio, entre as escolas respeita à falta de instalações: 27% das que têm bons resultados referiram esta carência, contra 59% das que obtêm maus resultados. “As escolas com melhores resultados parecem ter mais equipamento de laboratório e materiais de biblioteca”, adiantam os autores do estudo.
A nível europeu, Portugal estava, em 2012, no grupo dos países “com maior disponibilidade de recursos tecnológicos nas escolas, embora estes não estivessem ainda a ser utilizados da melhor forma”. Constatou-se ainda que “três dos países que melhor utilizavam a tecnologia eram os que tinham menos horas semanais de Matemática: Suécia, Holanda e Finlândia”.
Fonte: Público
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