Haverá relação mais perigosa do que aquela que pais e professores têm de manter para garantir o sucesso escolar dos alunos? Há certamente, mas os encarregados de educação e os docentes, que se preparam agora para mais um ano letivo, podem vir a ter uma tarefa indigesta. Quando se trata de educação, quase toda a gente está convencida de que é perita no assunto. Pelo menos é isso que ambas as partes provavelmente pensam da outra parte.
A desconfiança e a dificuldade em estabelecer fronteiras entre o que é território de um e de outro são os principais obstáculos que corrompem a comunicação entre escola e família. “A primeira e quase a única barreira a derrubar é a desconfiança”, avisa Manuel Alves Barbosa, professor e dirigente da Escola Nacional de Pais, uma associação vocacionada para a formação parental. Definir limites é, por isso, o primeiro passo para tudo correr bem: “Aos pais compete acompanhar os filhos e manter a escola informada sobre todos os problemas que acontecem com eles.”
Aos docentes, por seu turno, além do evidente, que é ensinar, terão de se esforçar por detetar as dificuldades dos alunos, que passam mais tempo na escola do que em casa, defende Paula Costa, da Associação de Professores de Sintra. A ambos, finalmente, exige-se que tenham flexibilidade para ouvir e aceitar as sugestões de cada um: “A relação entre as duas partes é um vaso capilar com dois sentidos, para encontrar o melhor caminho para o sucesso escolar do aluno”, diz Luís Caetano, presidente da Associação de Pais da Secundária Alves Martins, em Viseu.
Muito antes da fase da conquista será preciso conhecer a escola, saber quem são os professores e os colegas do filho, advertem os dirigentes das associações de pais e de professores. Neste capítulo, há ainda caminho a percorrer. A participação dos encarregados de educação na escola ainda é um hábito de minorias, avisa António Santos, dirigente da Associação de Pais da Escola Básica n.º 1 e Jardim de Infância do Montijo.
Não há desculpa que justifique largar os filhos na escola e deixar tudo por conta dos professores. Por mais que o ritmo do dia-a-dia obrigue os pais a sair de casa de manhã e só regressar à noite. “Lutar pelo sucesso dos nossos filhos implica sacrifícios da nossa parte, não há volta a dar”, defende António Santos.
Ser encarregado de educação é tarefa ingrata. É chegar a casa morto de cansaço e querer ficar no sofá frente à televisão o resto da noite e, em vez disso, procurar saber o que aconteceu com o filho na escola, diz António Santos. Querer saber o que se passa com o filho dá trabalho. Muito. Não basta perguntar ao miúdo como correu o dia nem certificar-se de que fez os TPC.
“O encarregado de educação deve intervir e apoiar os professores e a escola a todos os níveis, dando sugestões e até dinamizando iniciativas”, explica Luís Caetano. Tal como é preciso ensinar aos filhos que o esforço compensa, também os pais poderão aprender que a dedicação produz resultados. “Quanto mais participativos forem os pais, maior peso assumem na escola. É a sua ausência que faz com boa parte das escolas minimizem a sua importância”, conclui António Santos.
In: I online
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