quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O cérebro do adolescente

"Para lá de não ser nenhum poço de virtudes (nem charco, quanto mais poço) tenho de confessar que sou feiota. Para já, sou alta de mais para os meus 14 anos, o que faz, por um lado, que a malta toda lá da escola comece com aquelas graças parvas, "então como está o tempo lá em cima?", "quando chegares cá baixo fecha o para-quedas", coisas assim, vocês sabem; e, por outro lado, faz com que de cada vez que a minha mãe ou o meu pai (que nisto, benza-os Deus!, são iguaizinhos) me apresentam a qualquer desconhecido lá das relações deles, avancem logo com a frase "por este andar não sei onde é que ela vai parar". 
Alice Vieira. Úrsula, a maior. Edições Caminho.

A margem de tolerância dos adultos face ao comportamento dos adolescentes nem sempre é muito ampla. A expressão "és tão grandinho pelo que deverias ter mais juízo" deixa claro que se esperaria mais de quem fisicamente até já parece um adulto. O bom desenvolvimento físico oculta a revolução interna e as limitações que esta de certa forma impõe! Não são só as hormonas que, como frequentemente se diz, "andam aos pulos"; é também o cérebro do adolescente que, estando em desenvolvimento, justifica determinados comportamentos. 

O autodomínio, o planeamento e a resistência às tentações dependem do amadurecimento do córtex frontal, que no adolescente ainda está em franco desenvolvimento. Não será por isso de admirar que os adolescentes apresentem alguns comportamentos marcados por grande impulsividade, dificuldade de planeamento e uma grande tendência para fazerem o que não devem. Sabemos que não são unicamente os adolescentes que apresentam estas fragilidades, pois estas podem ser apontadas a muitos adultos.

As alterações de humor, a agressividade e o comportamento social são também impelidos por outros aspetos do desenvolvimento cerebral, mais concretamente o aumento do tamanho e da atividade da amígdala, parte do cérebro que processa emoções fortes, positivas e negativas. As primeiras alterações no cérebro adolescente levam ao aumento do seu interesse pelos estímulos e contactos sociais, ao passo que os sistemas autorreguladores continuam a amadurecer até ao final da adolescência.

E que dizer do sono do adolescente e da sua teimosia em não querer ir dormir?! Na verdade, também a este nível há um responsável que vem alterar o ritmo circadiano (período de aproximadamente um dia (24 horas) sobre o qual se baseia todo o ciclo biológico do corpo humano e de qualquer outro ser vivo, influenciado pela luz solar), a chamada melatonina. Esta hormona, que ajuda a desencadear a chegada do sono, quando chega a adolescência apresenta níveis decrescentes, prosseguindo a tendência já iniciada na infância. Há países onde o conhecimento deste facto, cientificamente comprovado, levou a que o início do período de aulas, nesta faixa etária, fosse adiado para mais tarde, para que os adolescentes estivessem mais despertos e com uma maior capacidade de atenção/concentração. Não nos podemos esquecer de que a privação de sono tem graves consequências, tais como: reduzido desempenho mental, mau humor, menos saúde e aumento de peso.

Que conclusões tirar de tudo isto? Que teremos de ser mais tolerantes, porque afinal eles até têm desculpa para alguns comportamentos menos ajustados? Tolerantes e compreensivos diria que sim, permissivos, nunca! O nosso afeto, combinado com a nossa firmeza e supervisão constantes, continuam a ser indispensável, pois, apesar de "grandinhos", eles ainda não são adultos!

Bibliografia

Adriana Campos
In: Educare

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