A menos que se queira negar a amplitude das provas e a teimosia dos pesquisadores em encontrar a maneira mais válida de apreender os efeitos da repetência, alguém de bom senso deve admitir que os dados de pesquisa não pleiteiam a manutenção dessa prática. Parece aceito hoje que o fato de repetir um ano e de recomeçar toda a programação de um curso não ajuda os alunos em dificuldade a superar os obstáculos que os impedem de ser honrosamente bem-sucedidos na escola. Considerando-se que as pesquisas ditas quase-experimentais raramente focalizam o curso médio, pode-se compreender que alguns resistem a estender aos adolescentes aquilo que foi observado em relação às crianças do ensino fundamental.
Do ponto de vista do pesquisador, parece urgente ultrapassar a polêmica sobre os efeitos da repetência no ensino fundamental para privilegiar outros questionamentos. Se a repetência não constitui um meio de ajuda para os alunos em dificuldade, parece necessário procurar outros meios para resolver esse importante problema. Ou seja, em vez de solicitar novas provas quanto aos efeitos da repetência, talvez seja mais profícuo pedir aos pesquisadores que se debrucem sobre outros objetos de investigação, uma vez que, em vista da qualidade dos esforços mobilizados para conjurar os vieses de amostragem e de medida nos estudos sobre a repetência, parece difícil melhorar ainda mais a validade das demonstrações e bastante improvável alterar a tendência das conclusões. Somente a questão dos efeitos socioafetivos da repetência poderia ainda valer alguns esforços de pesquisa. Nesse domínio, trabalhos de tipo qualitativo tendem a aportar algo mais (Crahay, 2003), o que, de qualquer modo, resulta em mais argumentos contrários à repetência.
Resta saber se, em matéria de educação, os profissionais da área e os gestores políticos estão dispostos a se deixar convencer por um conjunto de pesquisas que, tendo melhorado significativamente o controle dos vieses de medida, chega a resultados convergentes.
Marcel Crahay
In: Terrear
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