Devem os professores usar elementos irrelevantes, mas que podem tornar os materiais a aprender mais interessantes? Muitos estudos indicam que estes «pormenores sedutores» tendem a ter efeitos negativos na aprendizagem, sobretudo em alunos com pior desempenho académico. No entanto, talvez haja circunstâncias nas quais a sua inclusão poderá beneficiar a aprendizagem. Este estudo recente vem mostrar que, quando a motivação extrínseca é baixa, incluir detalhes acessórios que tornam as matérias mais interessantes pode não prejudicar a aprendizagem, ou até levar a melhor aprendizagem. Serão necessários mais estudos, especialmente em sala de aula, para clarificar estes efeitos; para já, deve usar-se usar pormenores acessórios com cuidado.
Muitas vezes os professores incluem pormenores relacionados, mas irrelevantes, em materiais de aprendizagem, tais como imagens ou factos curiosos, com a intenção de aumentar o interesse dos alunos e facilitar a aprendizagem. No entanto, o uso destes elementos acessórios está associado a pior aprendizagem, um efeito conhecido como «efeito dos pormenores sedutores» (Garner et al., 1989). Os cientistas têm explicado estes efeitos indesejados da presença de pormenores relacionados, mas irrelevantes e geralmente interessantes, por três processos possíveis: distração da informação a aprender; interferência com a informação a aprender, causando disrupção; e desvio, através da ativação de conhecimentos prévios irrelevantes para a informação a aprender, em vez da ativação de conhecimentos prévios relevantes.
Parece, porém, haver uma situação na qual a presença destes pormenores poderá não prejudicar a aprendizagem, segundo indica um estudo recente de Lukas Wesenberg, Sebastian Jansen, Felix Krieglstein, Sascha Schneider e Günter Daniel Rey, da Universidade de Tecnologia de Chemnitz (Alemanha) e da Universidade de Zurique. Neste estudo de 2025, publicado na revista científica Learning and Instruction, os investigadores testaram se, quando a motivação extrínseca é baixa (por exemplo, quando não há recompensas externas para os alunos ou quando um teste não conta para a nota final), a motivação gerada pela presença de elementos acessórios pode pesar mais na aprendizagem do que as desvantagens cognitivas que esses elementos criam, resultando numa melhor aprendizagem do que a que ocorreria na sua ausência.
Para avaliar como o tipo de motivação dos alunos poderia alterar os efeitos da presença de pormenores acessórios na aprendizagem, os investigadores fizeram duas experiências. Na primeira, os investigadores apresentaram duas unidades de aprendizagem — uma sobre o ciclo do carbono e outra sobre o ciclo do nitrogénio — a 120 estudantes universitários, manipulando as instruções dadas antes de cada unidade: na condição de alta motivação extrínseca, as instruções enfatizavam que a aprendizagem da unidade de aprendizagem era obrigatória e a compensação pela experiência dependia desta aprendizagem; na condição de baixa motivação extrínseca, as instruções indicavam que a aprendizagem era voluntária e não haveria compensação associada. Metade dos participantes estudou unidades de aprendizagem com pormenores acessórios — cinco imagens, cada uma acompanhada de um pequeno texto irrelevante. A outra metade estudou apenas informação relevante para as unidades de aprendizagem, sem a presença de pormenores acessórios. Após o estudo de cada unidade de aprendizagem, todos os participantes autoavaliaram a dificuldade da aprendizagem e o interesse pelo material estudado. Depois de terem estudado as duas unidades, e de modo a medir a aprendizagem, os participantes responderam a 17 perguntas de resposta curta para cada uma das unidades.
Os resultados da primeira experiência indicaram que os pormenores acessórios dificultaram a aprendizagem apenas quando os participantes tinham alta motivação extrínseca para aprender; quando essa motivação era baixa, a presença de detalhes acessórios parece ter facilitado a aprendizagem. Além disso, os participantes tiveram melhor desempenho no teste quando a motivação extrínseca era alta do que quando era baixa. O nível de motivação e a presença de pormenores acessórios não influenciou o grau de dificuldade com que os participantes avaliaram a aprendizagem, mas tanto a presença de elementos acessórios como a alta motivação extrínseca levaram a que os participantes julgassem os materiais como mais interessantes. A motivação extrínseca elevada levou também a que os participantes passassem mais tempo a estudar. Na condição de motivação extrínseca baixa, a presença de pormenores acessórios parece ter melhorado o desempenho no teste final, em comparação com a ausência de pormenores acessórios, em parte porque estes elementos aumentaram o interesse.
Para clarificar os resultados desta experiência, os investigadores fizeram outra experiência semelhante, alterando apenas o número de elementos acessórios, reduzidos de cinco para dois. Nesta experiência, a diferença principal foi que, na condição de baixa motivação extrínseca, a presença de elementos acessórios não teve efeito significativo (i. e., a sua presença não beneficiou a aprendizagem).
Em resumo, os resultados destas duas experiências indicam que a presença de pormenores acessórios nem sempre tem efeitos negativos na aprendizagem e que o tipo de motivação que os alunos têm antes de aprender pode alterar os efeitos da sua presença, podendo até torná-los positivos. Assim, incluir imagens e factos irrelevantes em materiais a aprender pode não ser má prática em si, e a motivação prévia dos alunos pode fazer com que as desvantagens cognitivas geradas pela inclusão de pormenores acessórios se transformem em vantagens motivacionais para a aprendizagem.
No entanto, são necessárias mais experiências em sala de aula, para melhor compreendermos as interações entre motivação e elementos acessórios, sobretudo tendo em conta os diferentes tipos e níveis de motivação na mesma sala de aula — o que pode ser bom para alguns alunos pode ser prejudicial para outros. Apesar de estes resultados parecerem sugerir que os elementos acessórios podem ter alguns efeitos positivos na aprendizagem, é importante não esquecermos os efeitos negativos, especialmente em alunos com pior desempenho académico (Bender et al., 2021).
Referências bibliográficas
Bender, L., Renkl, A., & Eitel, A. (2021). When and how seductive details harm learning. A study using cued retrospective reporting. Applied Cognitive Psychology, 1-12. http://doi.org/10.1002/acp.3822
Garner, R., Gillingham, M. G., & White, C. S. (1989). Effects of “seductive details” on macroprocessing and microprocessing in adults and children. Cognition and Instruction, 6(1), 41—57. https://doi.org/10.1207/s1532690xci0601_2
Wesenberg, L., Jansen, S., Krieglstein, F., Schneider, S., & Rey, G. D. (2025). The influence of seductive details in learning environments with low and high extrinsic motivation. Learning and Instruction, 96(102054). https://doi.org/10.1016/j.learninstruc.2024.102054
Ludmila Nunes
Fonte: Iniciativa Educação
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