domingo, 3 de setembro de 2023

A paixão pela educação vai e vem, o desejável era mesmo um vínculo de amor!

É consensual! A qualidade da educação é indispensável para projetar um país no futuro e nunca houve Governo algum que o negasse. Não existe nenhum agente político que não defenda que os cidadãos devem ter igualdade de oportunidades do ponto de vista educativo e que a educação é um elemento-chave para a competitividade e o bem-estar dos cidadãos. Não existem grandes diferenças discursivas a este nível independentemente da posição no espetro político dos governantes. Ao longos dos anos, no entanto, a discussão tem-se estendido e baralhado no que respeita aos meios para concretizar esses objetivos e também sobre o que se entende por qualidade em educação, conceito este bastante suscetível a ambiguidades. Sem negar a evolução do país após o 25 de Abril do ponto de vista educativo, a turbulência no ano letivo transato e as ameaças de alvoroços futuros indiciam um sistema com notórias marcas de degradação. Há vários dados que evidenciam que a escola já não consegue ser o elevador social que foi noutros tempos. Professores envelhecidos, falta de professores, baixos salários, trabalho precário durante muitos anos, desvalorização social dos docentes, desmotivação, cansaço marcam a vivência quotidiana de muitos estabelecimentos escolares.

Melhorar a qualidade educativa das escolas e promover as aprendizagens nos alunos é algo que toda a gente pretende e neste contexto talvez não fosse má ideia espreitar as práticas de um dos países mais bem-sucedidos neste domínio: a Finlândia. Na Finlândia, são selecionados para a docência os melhores alunos. É mais difícil entrar num curso que prepara para a docência do que num curso de medicina. Os candidatos aos cursos de educação são avaliados em testes de competências académicas e atitudes face à profissão. O objetivo das suas escolas de formação de professores é formar docentes que sejam capazes de integrar dados de investigação mais recentes para sustentar decisões pedagógicas, numa lógica de compreensão dos processos implicados na aprendizagem e de contínua autorreflexão e auto desenvolvimento dos professores. O que significa, por exemplo, que na educação pré-escolar há uma ênfase na promoção da linguagem e da tomada de consciência de dimensões linguísticas por a investigação ter demonstrado como estas competências estão implicadas no sucesso da aprendizagem da leitura. O salário é excelente e a responsabilização dos professores está ao mesmo nível do salário, sendo que o foco do ensino é a aprendizagem e não os exames. E os professores são libertados das tarefas burocráticas e devendo o seu tempo ser orientado para as tarefas de ensino e de colaboração entre docentes. Na Finlândia não há falta de professores e esta política estará na base dos dados do PISA de 2019 que apontam este país como estando entre os cinco melhores nas competências dos seus alunos em leitura, conhecimentos de ciência e de literacia financeira. Um estudo de 2017, por seu lado, considera a Finlândia como o país que tem o melhor primeiro ciclo do mundo e o terceiro país do mundo em inovação -- sendo um país com um pouco mais de metade da nossa população.

O copianço é um termo desonroso em educação, mas não seria mau para Portugal haver algum copianço de certas linhas orientadoras aqui descritas. Já se sabe que somos um país pobre, com crónica falta de dinheiro desde que nos faltou o ouro do Brasil, mas há que fazer escolhas. Queremos ou não ter uma educação de qualidade? Então temos de investir a sério. Além disso, é igualmente importante orientação e competência. Só para dar dois exemplos. Um estudo de Isabel Leite de 2021 na área da aprendizagem da leitura demonstra a existência de várias falhas nas nossas escolas na formação de professores neste domínio, tendo em conta as investigações mais recentes sobre a aprendizagem da leitura. Um dia destes assisti num congresso a uma comunicação sobre um futuro estudo relativo ao impacto da formação contínua dos professores. Parece que não existem dados consistentes. Ou seja, a formação de professores é obrigatória para a progressão na carreira, mas as mudanças promovidas por essa formação estão no segredo dos deuses. Assim, não vamos lá!

Ana Cristina Silva

Fonte: DN por indicação de Livresco

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