segunda-feira, 11 de setembro de 2023

A mais bela profissão do mundo

Reinício do ano lectivo, tempo de examinar as doenças da escola e sondar o mal-estar dos professores. Um jornal, com vocação crítica desde o seu nascimento, fala da “crise dos professores” e analisa as causas do desinteresse pela “mais bela profissão do mundo”. As aspas, não sou eu que as coloco por estar a citar o dito jornal; é o jornal que se encarrega, através das aspas, de dizer que está a citar uma frase que nos foi transmitida pela tradição. Mas neste caso as aspas também significam outra coisa: que a expressão já não pode ser dita sem recuo, e só um ingénuo ousaria repeti-la sem aspas. A “mais bela profissão do mundo”, é dito logo no início do artigo, deixou de ser interessante e, por isso, atrai cada vez menos candidatos e provoca cada vez mais o abandono dos que nela entraram, por causa de condições de trabalho cada vez mais difíceis e uma remuneração pouco atractiva.

O jornal em questão não é português, é francês, chama-se Libération e analisa o estado da “Éducation nationale”, o mito republicano por excelência. Mas também podia ser um jornal português (https://www.publico.pt/2018/10/20/sociedade/entrevista/professores-sao-vitimas-organizacao-trabalho-1848122), espanhol, italiano, alemão (sim, até a escola alemã se debate com uma imensa falta de professores e uma degradação das condições de trabalho que leva muitos a abandoná-la). A escola, a mais bela instituição do mundo (sem aspas), ainda que as suas práticas tenham sido tantas vezes criminosas, perdeu os atractivos da beleza e ganhou a imagem de um cúmulo de deficiências e problemas.

Como toda a gente passou pela escola, toda a gente tem qualquer coisa a dizer sobre ela. Mas em Portugal ninguém sabe muito bem o que se passa no seu interior, é tudo exterior. Há pouco tempo, um estudante italiano, tendo concluído o exame de maturità que dá acesso à Universidade, escreveu um testemunho cruel da sua experiência, publicado num jornal. Por cá, estamos a precisar deste tipo de testemunhos, tal como precisamos de um discurso dos professores mais analítico, não exclusivamente centrado sobre questões sindicais e as condições pragmáticas de trabalho (por mais legítimo que seja este discurso, ele é insuficiente). (...)

António Guerreiro

Fonte: Continuação da notícia em Público

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