À medida que o mundo evolui, as doenças neurodegenerativas tornaram-se uma preocupação constante e a necessidade de as compreender é cada vez mais imprescindível. A esclerose múltipla (EM) é uma dessas doenças, desafiando os médicos e investigadores a descobrir os seus mistérios e sintomas imprevisíveis.
Ao falarmos sobre esclerose múltipla (https://www.publico.pt/2022/04/04/ciencia/noticia/estudo-realizado-coimbra-permite-avanco-diagnostico-esclerose-multipla-2001294) a maioria das pessoas associa-a a sintomas físicos, como a dificuldade de locomoção. Contudo, há um aspeto muitas vezes invisível aos nossos olhos – o défice cognitivo.
Para aqueles que vivem este sintoma, as suas consequências são deveras impactantes. A capacidade de processar informação, a concentração e a memória ficam comprometidas, levando à perda precoce de emprego e afetando a qualidade de vida das pessoas com esclerose múltipla (https://www.publico.pt/2023/05/30/sociedade/noticia/atleta-estudante-enfermagem-diagnosticada-esclerose-multipla-doenca-fezme-vontade-2051382). É aqui que o trabalho liderado pela professora Adelaide Fernandes (https://www.publico.pt/2012/01/25/ciencia/noticia/premiados-projectos-sobre-cancro-da-mama-esclerose-multipla-e-colapso-pulmonar--1530565), da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, onde se insere o meu projeto de doutoramento, ganha relevância e se torna crucial para todos nós. O nosso principal objetivo é desvendar os mecanismos subjacentes a este sintoma impercetível, mas presente em mais de 50% dos doentes com esclerose múltipla.
Sabemos que o aparecimento de défices cognitivos está associado às componentes imunitária e inflamatória que ocorrem no sistema nervoso central. Estudos mostraram que doentes com esclerose múltipla têm redes neuronais danificadas, e que a presença de células imunitárias e da glia contribuem para o agravamento do dano neurológico. Daí a nossa curiosidade em perceber os possíveis mecanismos moleculares da interação entre estas células e a sua relevância na remoção excessiva de sinapses, cruciais para a cognição, num contexto de desmielinização.
Para atingir este objetivo, tivemos acesso a amostras post mortem da região do hipocampo de doentes com esclerose múltipla, com ou sem défice cognitivo, através do biobanco dos Países Baixos. Estes estudos iniciais confirmaram a presença das células da microglia e linfócitos T CD8 em áreas de desmielinização, nomeadamente em doentes que apresentam défice cognitivo.
Em paralelo com estes estudos, e em colaboração com outro instituto, estamos a implementar um modelo tridimensional de mini-esferas cerebrais. Este modelo será criado a partir de células pluripotentes induzidas provenientes de doentes com esclerose múltipla (https://www.publico.pt/2023/08/09/ciencia/noticia/nova-vacina-epsteinbarr-virus-quase-eficaz-ratinhos-2059633) para aproximar à biologia e tipologia de cada doente. Acreditamos que este modelo possa ser uma plataforma inovadora no sentido de uma medicina personalizada, abrindo portas para tratamentos mais direcionados.
Para além da investigação, este trabalho permitiu-me conhecer pessoas que vivem, diariamente, com a realidade da esclerose múltipla. Estas experiências motivaram-me a fazer mais e melhor, enquanto cientista, trabalhando para compreender a patologia da doença, bem como as reais necessidades destes doentes e, assim, transformar a vida das pessoas com esclerose múltipla. É essencial que a sociedade apoie e promova a investigação nesta área, pois só assim poderemos avançar na luta contra as doenças neurodegenerativas. Juntos, podemos fazer a diferença na vida de milhões de pessoas.
Catarina Barros
Fonte: Público
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