Peças de vestuário mais adaptadas a pessoas com deficiência, livros em braille e com linguagem simplificada, protocolos com municípios e comércio local para eliminação de barreiras físicas no espaço comum da escola. Estas são apenas algumas das ideias que saíram de edições anteriores da iniciativa Escola Alerta, que já vai na 17.ª edição. Os exemplos foram elencados por Ana Sofia Antunes, secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência, no lançamento do concurso. Para a governante, é importante “desconstruir mitos e derrubar barreiras à plena inclusão e aceitação dos alunos que têm algum tipo de deficiência e algum tipo de diferença”. E é por isso que espera que a iniciativa possa crescer “em número e em qualidade dos projetos a receber”.
O Escola Alerta destina-se ao 1.º, 2.º e 3.º ciclos do Ensino Básico, público e privado. Os trabalhos devem ser realizados em grupo, pelas crianças e jovens, orientados por um ou mais docentes. E podem ser apresentados em qualquer formato: texto, desenhos, fotografias, áudio, vídeo, maquetes ou colagens. Independentemente do formato escolhido, é obrigatório que tenham uma versão digital para divulgação online. Os prémios para as ideias vencedoras são de 2000 euros (1.º lugar), 1000 euros (2. º) e 750 euros (3.º).
“Gostava de desafiar todos os professores para incentivarem os seus alunos a porem a sua criatividade ao serviço deste projeto. Os tempos não estão fáceis para toda a gente, mas muito mais difíceis estão para quem tem algum tipo de 'handicap' [desvantagem]”, sublinhou Mário Augusto, jornalista da RTP, que foi escolhido como embaixador da edição deste ano do concurso. Pai de uma jovem de 20 anos, estudante universitária e com paralisia cerebral, Mário Augusto frisou que sabe “bem as dificuldades pelas quais passam os pais e familiares dos jovens com algum tipo de diferença”, pois “todos os dias”, a filha Rita “esbarra com determinado tipo de limitações que a sociedade descuidada, e às vezes egoísta, vai colocando no seu caminho”. “Não se preocupem em fazer arte com a qualidade de grandes artistas. Às vezes, é na simplicidade que estão as grandes mensagens”, apelou o jornalista.
Covid-19 acentuou desvantagens
Segundo Emília Brederode dos Santos, presidente do Conselho Nacional da Educação (CNE), nos últimos anos “constatou-se um aumento global do número de crianças com deficiência que frequentam o ensino regular (…), principalmente no secundário, em que há um aumento muito expressivo”. “É uma constatação muito positiva da escolarização inclusiva. Mas haverá ainda muito a fazer. Não podemos ignorar os impactos que a covid-19, com o encerramento das escolas, terá tido. Ainda que não os conheçamos cabalmente, suspeitamos que tenham sido bastante graves, principalmente para aqueles que já tinham maiores desvantagens prévias”, advertiu a presidente do CNE. Por isso, aproveitou a ocasião para deixar um apelo ao Governo: “Em caso da necessidade de novas medidas pesadas e gravosas, parece-me evidente que se deveria dar prioridades no apoio às crianças e jovens com deficiência e àqueles que estão em risco de exclusão social. E daria prioridade aos anos mais precoces e aos anos de transição”.
Apesar do caminho aparentemente positivo que tem sido traçado na área da educação inclusiva em Portugal, parece ainda haver muitos desafios a ultrapassar. Desde logo, de acordo com João Costa, secretário de Estado Adjunto e da Educação, “garantir que todos os alunos aprendem e que conseguimos levar cada um mais longe”. “Há também um grande desafio, que é o de termos uma cultura partilhada de inclusão. O primeiro passo é querermos. Isso implica sabermos colocar-nos no lugar do outro. Este ano, lançámos um projeto de mentoria, para que os próprios alunos sejam responsáveis por alunos com mais dificuldades”, adiantou o governante. É que assim “crescem todos mais e desmontamos a ideia de que a escola é um lugar com um campeonato individual, onde o que interessa é ser o melhor do quadro de honra, quando pela vida fora ninguém cresce nem vinga sozinho”.
O Escola Alerta aceita trabalhos a concurso até 28 de fevereiro de 2021, sendo que os resultados dos vencedores serão divulgados até 15 de abril. Humberto Santos, presidente do Instituto Nacional para a Reabilitação, apelou a que os agrupamentos de escola se mobilizem para integrar a iniciativa. E deixou um desafio: “Queremos ideias e projetos onde ninguém fica de fora. Pensemos todos o que podemos fazer para mais e melhor escola inclusiva. Esta não é uma responsabilidade apenas do Governo e das organizações, mas sim um grande desafio para o qual todos somos mobilizados e chamados”.
Fonte: Educare
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