sexta-feira, 27 de novembro de 2020

“É preciso aumentar o acesso a soluções digitais no ensino”

O surto de COVID-19 originou o encerramento quase universal de escolas. Mais de 95 milhões de alunos e oito milhões de professores em toda a União Europeia (UE) foram afetados. Os números não são novos, mas surgem à cabeça no mais recente relatório de monitorização da educação e formação da Comissão Europeia (CE).

Fecharam em março abriram no outono, a esmagadora maioria dos Estados-membros relançou o ensino presencial no início do ano letivo de 2020/2021, com "rigorosos requisitos de segurança e cenários de contingência, o que dificultou o regresso às aulas, tanto em termos pedagógicos como organizacionais", constata a CE.

As primeiras análises sobre o impacto da crise epidémica na educação dão como certa uma variação significativa no acesso ao ensino à distância. Se em alguns países a cobertura foi quase universal, noutros uma parte significativa dos alunos ficou sem aulas. Na Eslovénia, menos de 2% dos alunos não foram abrangidos, 48% dos alunos em Itália. Entre os principais motivos de exclusão, o "Monitor da Educação e Formação 2020" sinaliza a falta de dispositivos, ligações à Internet inadequadas e situações familiares difíceis.

Pontos fracos no ensino digital
Se a crise provocada pelo surto de COVID-19 serviu para algo, foi para demonstrar a importância de aumentar a disponibilidade de soluções digitais para o ensino na Europa, lê-se no relatório. A Comissão Europeia reconhece que os Estados-membros investiram fortemente em infraestruturas digitais na última década mas alerta que persistem grandes disparidades em muitos países. A percentagem de alunos que estudam num estabelecimento de ensino altamente equipado e conectado à Internet varia amplamente na Europa: entre os 35% (1.º e 2.º ciclo) 52% (3.º ciclo) ou 72% (ensino secundário).

No entanto, "o investimento em infraestruturas e ferramentas digitais nem sempre foi devidamente acompanhado de uma boa preparação dos professores". Ora, em média na UE, menos de metade (49%) dos professores referem ter tido formação inicial em TIC. E "embora um número crescente de professores participe em programas de desenvolvimento profissional contínuo relacionados com a utilização de tecnologia digitais, tal nem sempre se reflete nas práticas de ensino", constata a CE.

Analisando as competências digitais dos alunos, a CE admite que estão a melhorar mas descarta a ideia instalada de uma geração de "nativos digitais", citando os resultados do “International Computer and Information Literacy Study” que avalia os conhecimentos sobre tecnologia da informação e comunicação de alunos e professores a nível mundial. "Os jovens não desenvolvem competências digitais sofisticadas apenas por crescerem a utilizar dispositivos digitais." Mais, de modo generalizado, os jovens da UE são incapazes de compreender e realizar até as operações TIC básicas. Em 2018, não conseguiram ultrapassar o limiar do insucesso 51% dos alunos no Luxemburgo, 44% na França , 34% em Portugal, 33% na Alemanha, 27% na Finlândia e 16% na Dinamarca.

Quanto mais avançados estavam os países na educação digital mais fácil foi a adaptação aos desafios suscitados pelo COVID-19. Países como a Finlândia, Dinamarca e Estónia beneficiaram de ter implementado estratégias nacionais abrangentes nos últimos anos. Para a Comissão Europeia, os três países são o exemplo da "importância de incorporar investimentos em políticas de educação digital abrangente que cubram um amplo leque de aspetos tais como os equipamentos digitais, o desenvolvimento de competências e os conteúdos pedagógicos". Neste ponto, a CE sublinha que "a utilização eficaz do financiamento da UE tem sido fundamental". Exemplo de como investir os dinheiros europeus? Na Estónia, entre 2016 e 2020, cerca de 80% dos professores frequentaram formação profissional contínua em competências digitais, grande parte dela financiada pelo Fundo Social Europeu.

Outras consequências
Nem tudo se resolve à distância. Estudos e inquéritos feitos a alunos e professores mostram que o encerramento das escolas levou à perda de tempo letivo e à redução dos conteúdos pedagógicos. Não menos importante, lembra a CE, "a falta de interação social dos alunos com os colegas e os professores e a pressão relacionada com o ensino à distância tiveram um importante impacto negativo no bem-estar dos alunos".

A crise não afetou apenas os grupos vulneráveis já conhecidos, diz também a CE, no "Monitor da Educação e Formação 2020", publicado em meados de novembro. Por fatores motivacionais ou ambientes familiares menos favoráveis, outros alunos tiveram dificuldades em adaptar-se às novas circunstâncias. Em resposta, alguns países implementaram medidas de apoio especial. Irlanda, Croácia e Malta criaram formas de apoiar psicologicamente alunos em risco do afastamento escolar. A comunidade francesa da Bélgica decidiu não ensinar novos conteúdos pedagógicos para evitar o agravar das desigualdades.

Em jeito de balanço, a CE lembra também a atuação dos Estados-membros em matéria de exames finais e acesso ao ensino superior. Foram várias as respostas: a Alemanha manteve a realização dos exames, Áustria e Eslováquia adiaram quer os exames do ensino secundário quer a época de candidatura à universidade. França e Suécia substituíram os exames pela avaliação contínua.

Fonte: Educare

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