Houve “progressos significativos no comportamento e na assiduidade [às aulas] ”, mas menos nos resultados escolares. Esta é uma das conclusões da avaliação feita pela Inspeção-Geral da Educação e Ciência (IGEC) ao primeiro ano de experiência (2016/2017) do programa lançado pela atual tutela para combater o insucesso e o abandono escolar entre os alunos do 2.º e 3.º ciclos que têm pelo menos duas retenções no seu percurso escolar.
O chamado Apoio Tutorial Específico veio substituir o desvio precoce dos alunos para cursos vocacionais logo aos 13 anos como sucedeu no mandato do ex-ministro da Educação Nuno Crato e que estavam direcionados para o mesmo universo. O relatório da IGEC (...) dá conta de que em 2016/2017 foram abrangidos por este novo programa 24.737 alunos de 526 agrupamentos, que foram acompanhados por 2708 professores-tutores. Não existem dados relativos ao ano seguinte.
Para avaliar os impactos do programa no comportamento, assiduidade e resultados escolares, a IGEC esteve em 40 agrupamentos no 3.º período de 2016/2017 e enviou também um questionário a todos os tutores envolvidos neste processo. Responderam 523.
Relataram que 77,4,% dos alunos abrangidos registaram progressos moderados ou fortes no comportamento, que o mesmo se passou com 67,4% no que respeita à assiduidade às aulas e que 58,2% registaram progressos nos resultados escolares.
“A percentagem de alunos que revelou progressos fracos ou muito fracos é muito significativa (40,7%) ”, frisa a IGEC que no entanto adianta o seguinte: “A investigação demonstra que os impactos do apoio tutorial nos resultados escolares só são visíveis a longo prazo.”
Nos termos do diploma que instituiu este programa, cada tutor tem a seu cargo um grupo de 10 alunos, sendo-lhe atribuídas quatro horas semanais para os acompanhar. Para os alunos, as tutorias não têm carácter obrigatório e dependem da autorização dos pais.
Fraca assiduidade
Nos 40 agrupamentos onde esteve no 3.º período (já tinha estado noutros 60 entre janeiro e março), a IGEC tentou saber qual tinha sido o grau de adesão dos alunos abrangidos pelas tutorias às sessões que foram promovidas para os apoiarem. Concluiu que 32% nunca compareceram ou estiverem presentes em menos de 50% das tutorias. Uma das razões apontadas para esta fraca assiduidade: os horários reservados para estas sessões. Ou porque se sobrepunham a outras atividades letivas ou porque muitas vezes estavam “significativamente desfasados” seja do início como do fim das aulas.
E cerca de 7% dos alunos não tiveram autorização dos pais para frequentarem as sessões de tutoria. Para o secretário de Estado da Educação João Costa, “a dificuldade de envolvimento de algumas famílias, que não aceitarem este apoio, é talvez o aspeto mais negativo” que sobressai da avaliação feita pela IGEC.
Mas a inspeção chama a atenção que esta foi também uma falha das escolas. “Não existiu, em muitos agrupamentos/escolas, um processo de divulgação e sensibilização, abrangente e eficaz, junto dos elementos da comunidade educativa”, constatou.
Quanto ao aspeto mais positivo da aplicação do novo programa, João Costa destaca “a forma como muitos professores abraçaram este desafio de construir um espaço de desenvolvimento de competências sociais e emocionais com estes alunos”. “Temos relatos de alunos que contam que passaram a gostar de ir à escola”, acrescenta.
Um inquérito da IGEC a que responderam 18.676 alunos abrangidos pelas tutorias confirma que os alunos ficaram satisfeitos com a experiência. Alguns exemplos: mais de 80% indicaram que os seus tutores ajudaram-nos a estabelecer objectivos a atingir na escola e mostraram-se interessados pelo seu progresso; 86,9% classificaram o seu relacionamento com os tutores como Muito Bom ou Bom; e mais de 70% % deram conta de que o seu comportamento melhorou e que começaram a participar mais nas aulas.
Formação conta
Quanto aos professores tutores, a IGEC refere que só 41% concluíram os cursos de formação disponibilizados pela Escola de Psicologia da Universidade do Minho, no âmbito de um protocolo assinada com o Ministério da Educação. E que tal teve consequências. Por exemplo, as tutorias foram várias vezes “utilizadas para realizar trabalhos de casa, colmatar dificuldades dos alunos nas matérias escolares e estudar para os testes de avaliação, contrariando os pressupostos do modelo teórico para o desenvolvimento a medida”.
Razões? “O número de tutores abrangidos pelos processos de formação foi reduzido e estas atividades acabam por ser aquelas que os docentes melhor conhecem e com as quais estão mais familiarizados.”
Pelo contrário, a formação ministrada pela Universidade do Minho teve como como palavra-chave a autorregulação. Ou seja, conseguir que sejam os próprios alunos a estabelecer os seus objetivos e as formas de lá chegar.
João Costa resume a aposta nestes termos: “Pretende-se que os alunos encontrem, em pequeno grupo, adultos de referência que com eles construam uma relação diferente consigo próprios e com a escola.” E garante que será acolhida a recomendação feita pela IGEC para se continuar com cursos de formação destinados a professores-tutores. Diz que já existem outras formações em curso e que está a ser planeada uma nova série de instrumentos de formação coordenados pela Direção-Geral da Educação.
Fonte: Público
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