Realizou-se no passado dia 13 de outubro o Encontro: “Práticas de Inclusão” promovido pela Câmara Municipal de Sintra que decorreu na Escola Secundária Padre Alberto Neto em Queluz.
A Pin-ANDEE foi convidada pela divisão de educação da Câmara Municipal de Sintra para participar no evento. É neste âmbito que surge esta reflexão do encontro pois coube-me a mim o comentário final sobre o mesmo.
Não deixa de ser curioso este Encontro ter começado com o PIN – (nome escolhido pela nova equipa do Progresso Infantil) e terminar com a PIN – Pró Inclusão – Associação Nacional dos Docentes de Educação Especial. Tal como o PIN, referido pelo Dr. Nuno Lobo Antunes também a Pin da Pró Inclusão-ANDEE se prende ao peito, um objeto frágil, simbólico, porém, já com mais idade do que o atual PIN.
A Pin da Pró Inclusão foi criada em 2008, após um percurso feito no FEEI (Fórum de Estudos de Educação Inclusiva). Este grupo de trabalho resolveu criar uma associação com o objetivo de por um lado apoiar a profissionalidade dos docentes de educação especial nas práticas, na investigação e politicas e paralelamente promover educação de qualidade para alunos com necessidades educativas especiais no âmbito dos valores da Inclusão.
Foram ainda referidos os eventos e as publicações da nossa associação deixando obviamente o convite para que nela participem de forma a tornar-se cada vez mais um espaço de reflexão e partilha. Não pude deixar de aludir a minha presença como dois em um, tal como se de um shampoo se tratasse…
Por um lado represento a Pin-ANDEE (enquanto elemento da direção) e por outro represento-me a mim própria, enquanto docente de educação especial, pois obviamente uma não vive sem a outra.
A alusão ao shampoo de modo nenhum foi arbitrária. Aquele lava as cabeças e a minha função no comentário final foi de agitar as cabeças dos presentes ou pelo menos a minha. Porque de facto todos os painéis do encontro agitaram cada um de nós com momentos bem merecedores de que isso acontecesse.
A tarefa de um comentário final nunca é tarefa fácil, ainda mais quando se está a absorver tudo o que foi abordado. A ideia não era a de um resumo, portanto optei, de modo sintético, por dar apenas uma piscadela de olho em cada um dos painéis aludindo ao que de mais pertinente salientei como ponto de reflexão:
Impossível ficar-se indiferente à comunicação sobre a tríade: Criança/Escola/Família com palavras conhecedoras, porém recheadas de algum humor discutível com que nos presenteou o Dr. Nuno Lobo Antunes.
A palavra entrelaçar, muito bem escolhida, para partilhar as Práticas das escolas Ferreira de Castro e D. Maria II, como promotoras de inclusão efetiva.
A capacitação das famílias na importância de lhes dar voz, porque são elas de facto quem melhor conhece os seus filhos e só elas mesmo, sem pudermos sequer imaginar, vivem na pele a a experiência.
A importância da música no desenvolvimento do individuo. As oficinas ricas na sua diversidade e partilha. Não esquecendo a visita à exposição Imagina Lá onde foi possível ver os trabalhos realizados e o escolhido para o cartaz de divulgação do evento.
Após um riquíssimo leque de painéis a que tivemos acesso, recordei a citação de Walter Eigner, referida em 1995 na sua obra: “A educação inclusiva é uma questão de bom senso”, em que o autor expressava que não deveria ser necessário lembrar a Declaração de Salamanca para reconhecer que a Educação Inclusiva é ela, fundamentalmente, um direito elementar numa escola de qualidade com reflexo numa sociedade mais humanitária.
Passados alguns anos, daquela citação (mais precisamente dezassete anos – uma citação quase, quase com idade adulta que refere a declaração Salamanca, esta sim de idade adulta), o hiato temporário que nos separa e a maturidade destes conceitos, por incrível que pareça, ainda não fizeram eco em alguns céticos face à inclusão. Existem mesmo alguns indivíduos (vindos não se sabe de que planeta) que consideram não só o termo, em si, utópico, como duvidam do sentido do seu significado.
O que é pena, pois a inclusão nada tem de extraordinário. Luísa Beltrão enfatizou neste encontro a importância da escola: “quanto mais não fosse pelo benefício da socialização…”
É tão simplesmente aceitar que todos têm direitos, pois é de direitos humanos que se fala em primeira instância.
Muitos professores, infelizmente, é verdade, e outras classes profissionais ainda desconhecem o termo e ao que ele se refere na prática.
Talvez a solução passe pela formação dos profissionais e essencialmente motivação da sociedade para a aceitar o outro incondicionalmente. Penso que neste encontro foi visível essa motivação, no modo de compreender e intervir na diferença, refletindo essencialmente o que é em si mesmo a diferença, pressupondo esta uma conceção homogénea do ser humano, bem longe do que é a realidade.
Diferença é o que distingue a exclusividade do individuo, é sinónimo de criatividade. Na sociedade atual conturbada é necessário mesmo alguma dose de criatividade para que nos aproximemos uns dos outros, nos tornemos mais autênticos, necessitando mesmo de ser criativos face aos desafios atuais.
Cabe, a cada um de nós encontrar o sentido desta medida educativa após um percurso educacional de doze anos de escolaridade. Ainda estou a tentar entender esta medida e o seu sentido e creio não estar sozinha na busca do seu entendimento. Foi referido neste encontro que alguns alunos estão atualmente em casa sem resposta face à atual portaria… “Surge um deserto de respostas após doze anos de escolaridade”, referiu Júlia Serpa Pimentel.
Procuremos neste âmbito e em outros, uma reflexão do que melhor se faz para tornar a educação, toda ela, mais justa e equalitária. Porque foi, aliás, de práticas de inclusão que se falou durante todo o encontro.
Sérgio Godinho dizia numa canção“ A liberdade está a passar por aqui”. Sobre esse pensamento com certeza todos teremos também algumas reflexões na conjetura atual, mas foi adaptando aquele pensamento que deixei o repto:
A inclusão está a passar por aqui. Ela acontece de facto nas escolas!
Mas deixa rasto ou não? É temporária? Fictícia?
Não podemos deixar de nos interrogar sobre o modo como está a ser entendida esta e outras medidas educativas.
Mais tempo para que, quer a declaração de Salamanca ou a citação que mencionei, faça eco na sociedade.
Acredito que é possível. Por isso mesmo estive presente neste encontro, agradecendo a todos o que o tornaram possível, deixando aqui o meu testemunho.
Posso ainda acrescentar que, algumas famílias e docentes, após o meu comentário final, referiram que também eles acreditam que a inclusão existe e é irreversível!
Luís Fernandes (psicomotricista) pegando nestas provocações de metáforas à inclusão também ele lembrou a frase de Bernardo Fachada numa canção que refere “que a liberdade já passou por aqui mas estava mal ensinada “
Quanto à inclusão, acreditamos, não está mal ensinada, pelo contrário, ela faz-se em muitas partilhas, como foi este encontro que, ainda nas palavras de Luís Fernandes, constituem uma pedrada no charco.
Pela parte que me toca, atiremos então com mais pedras para o charco!
Elvira Cristina Silva
(Direção da Pin-ANDEE)
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