sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Já há um jogo para combater o bullying

Chama-se "A Brincar e a Rir o Bullying Vamos Prevenir" e é um jogo educativo-pedagógico que nasceu para prevenir o bullying escolar. É um jogo e um auxílio educativo direcionado para alunos do 1.º e 2.º ciclos e que reúne três conceitos: educação, jogo e novas tecnologias. Cátia Vaz, técnica superior de Educação Social, formadora de profissão, explica como funciona o jogo, que nasceu no âmbito da sua tese de mestrado em Educação Social, no Instituto Politécnico de Bragança. Decidiu dar corpo a um projeto porque acredita que criar algo seria muito mais enriquecedor em termos pessoais e profissionais. Não se enganou. "Como parte integrante de uma sociedade, mais do que indignar-nos devemos implicar-nos", revela ao EDUCARE.PT. 

O jogo é composto por um kit que tem um jogo de tabuleiro e outro digital. No manual, o tabuleiro tem 40 casas que as crianças têm de percorrer até chegar ao parque da prevenção do bullying escolar. Até lá, é preciso respeitar as regras descritas em linguagem adequada às faixas etárias. No trajeto há 52 cartões: 30 com questões sobrebullying, oito com mensagens de texto e desenhos e 14 com as pegadas da prevenção. Os cartões estão organizados em três grupos: o colorido, o das mensagens-bilhetinhos e o das pegadas verdes. E há ainda chaves douradas que permitem, no final, a entrada no parque infantil onde reina a prevenção do bullying. "Nas questões criadas tentei utilizar as palavras que as crianças utilizariam e, neste sentido, pedi a colaboração de crianças para este propósito", explica. Há dados para lançar e o jogo permite a participação de duas até seis crianças. 

O jogo digital rege-se pelos mesmos princípios do de tabuleiro e pode ser utilizado em iPad, Android, Mac, Windows e Linux. Depois de instalado no computador, o parque da prevenção é a porta de entrada do jogo. Depois de entrar, há um parque infantil com baloiços e quatro jogos associados ao bullying. "Após a seleção de um destes jogos, começa a diversão associada à aprendizagem. O primeiro jogo (1) é denominado ‘Jogo das Palavras', o segundo jogo (2) é denominado ‘Jogo de memória', o terceiro jogo (3) ‘Jogo das Perguntas' e o quarto ‘Jogo do Desenho'". A comercialização do jogo é o passo que se segue e Cátia Vaz espera que a sua criação chegue ao maior número de instituições de ensino, tornando-se assim "num guia de ação na prevenção" do bullying. 

Este jogo, único do género em Portugal, destina-se a crianças do 1.º e 2.º ciclos do Ensino Básico e permite aos mais novos, quer tenham ou não conhecimentos sobre bullying, a participação e a perceção de matérias relacionadas com o assunto. Cátia Vaz destaca ainda a envolvência direta dos professores na ajuda e orientação durante o jogo. "No entanto, não espero que com este jogo as crianças saibam tudo sobre bullying. É um auxílio na sua educação, por isso é que os professores terão um papel importante, na medida que desde cedo devem educar para esta problemática", refere. 

O bullying, na sua opinião, deve ser abordado nas escolas a partir dos primeiros níveis de escolaridade. "Considero que é na base da educação das nossas crianças que se devem incutir/ensinar competências pessoais e sociais onde reine a não violência. Assim a primeira abordagem sobre a problemática deve ser feita pelos professores/educadores, e a partir de agora espero que com o auxílio do jogo que é uma boa maneira de abordar o tema do bullying, associando a brincadeira à aprendizagem". Para divulgar o seu projeto, e depois de concluída a tese de mestrado, Cátia Vaz criou o bloguehttp://prevencaobullying.blogs.sapo.pt

O tema não surge por acaso. O bullying é um assunto que não sai da ordem do dia e que a comunicação social tem vindo a destacar nas páginas e reportagens dedicadas à educação. Nas duas investigações empíricas efetuadas, Cátia Vaz constatou que a violência física e psicológica surge nos primeiros anos da escola e que a prevenção é escassa e pouco eficaz. E assim nasceu o jogo como um instrumento de prevenção primária. Antes disso, houve trabalho pela frente e que conduziu ao batismo do projeto de "Bullying escolar: Estudo e projeto de prevenção através do jogo". 

Cátia Vaz quis saber o que se passava e conhecer a realidade junto de alunos do 3.º ciclo e de professores do 1.º e 2.º ciclos - na fase de conclusão do mestrado em Educação Social. Os estudos realizados com o público-alvo escolhido eram escassos e assim o ano letivo de 2010/2011 foi dedicado a perceber o que pensavam os docentes sobre o bullyingem contexto escolar e se consideravam pertinente a criação de um jogo que abordasse o tema. O sim foi unânime na última questão. 

O processo envolveu 33 professores e Cátia Vaz recolheu respostas que sustentaram o caminho que traçou. Constatou que o bullying é, de facto, um problema pertinente, que o recreio é o local onde as agressões ganham maior expressão, e que os professores defendem formação na área, reconhecendo que ainda há muito a fazer no setor da prevenção. Os inquiridos referiram também que as "crianças não procuram ajuda essencialmente por medo, assim como os alunos observadores/testemunhas que normalmente ignoram e ficam indiferentes". 

Informações: 

Sara R. Oliveira

In: Educare

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