Ouvimos muitas vezes relatos sobre a luta e a solidão de pais com filhos “diferentes”. Ouvimos e ficamos comovidos, solidários mas nunca chegamos a perceber. “Autismo”, o novo livro de Valério Romão, é um mergulho nesse universo em queda livre. Um livro que nos pega na mão e nos obriga a sentir, na pele, o que pode significar ter um filho autista.
Uma peça de literatura sobre o autismo
Guilherme é o filho de Valério Romão. Guilherme é autista. E desde o seu nascimento, há oito anos, a vida deste pai - e desta família - foi uma viagem em queda livre e sem paraquedas. Uma corrida sem fôlego onde a meta esteve sempre cada vez mais longe. O novo romance do escritor é a vida ficcionada desta família que mergulhou num abismo chamado autismo.
A mãe, o pai, os avós maternos e, claro, o filho - que no romance dá pelo nome de "Henrique" - são as personagens reais ou ficcionadas deste livro que nos corta a respiração. Mas há também um médico "fabuloso" que promete melhorias irrealistas, uma passagem desesperada pelas urgências de um hospital onde é impossível saber notícias do filho internado, terapeutas e charlatões, amigos que ficam cada vez mais longe.
A ação é marcada, sobretudo, por duas situações que aconteceram, na vida real desta família. Uma delas retrata o momento em que, aos três anos, o filho ingressa na escola perdendo as competências que tinha adquirido. "Houve um trauma suficiente forte que fez com que ele ficasse mais autista. Como ele, eu nunca recuperei dessa perda", confessa Valério Romão.
Mas o cenário predominante nas páginas de "Autismo" é o afastamento dos pais, um amor que se fragmenta culminando na separação do casal: "Não se pode dizer que nos tenhamos separado porque o nosso filho é autista mas,nestas situações, há um grande desgaste especialmente quando uma das partes não consegue aceitar a situação".
"Sermos pai ou mãe sem o sermos"
Apesar do título, este não é um manual nem um guia sobre o autismo. "Não tenho qualquer pretensão de dar um exemplo, uma lição ou uma ajuda. É apenas uma peça de literatura sobre o autismo porque foi a minha experiência", salienta Valério Romão.
"Autismo" faz parte de uma trilogia que se desenrola sob o tema comum das "Paternidades Falhadas", ou seja, "as formas de sermos pai ou mãe sem o sermos inteiramente". "Quando temos um filho autista há uma parte de nós que não cumpre a paternidade em pleno, porque não ouvimos a palavra 'pai' e sentimos que podemos ser substituídos por qualquer outra pessoa", explica o escritor.
Assim nasce o segundo volume da trilogia, que já está escrito, mas não fala sobre autismo. "No segundo volume interessei-me pelo caso de uma mãe cujo filho nasce morto", conta Valério Romão, "outra situação que amputa a nossa identidade de pai ou mãe, outra forma de falhar essa identidade".
Enquanto esperamos pelo segundo romance de "Paternidades Falhadas", ficam-nos estas 353 páginas, editadas pela Abysmo, que Valério Romão, 37 anos, técnico de informática, escreveu de um só fôlego, em apenas dois meses. Fica-nos este amor sem retorno. Um precipício que se perpetua. E um livro que não se esquece.
Clique AQUI para aceder ao site da editora e saber mais sobre este e outros livros da Abysmo. No passatempo desta semana o Boas Notícias oferece dois exemplares de "Autismo", clique AQUI para participar.
In: Boas Notícias
Sem comentários:
Enviar um comentário