Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), 50% das perturbações mentais nos adultos começam a desenvolver-se antes dos 14 anos. De igual forma, a investigação comprova o impacto negativo das perturbações mentais e comportamentais na qualidade de vida das crianças e jovens, tornando urgente a atuação com medidas promotoras do bem-estar e da proteção desta população de modo a aumentar a resiliência e acautelar problemas futuros.
Sendo um aspecto essencial da satisfação geral individual, a saúde mental deve ser olhada ao longo do desenvolvimento e não somente na vida adulta. Ou seja, a saúde mental também pertence às crianças e aos jovens, considerando que, como aponta a psicopatologia do desenvolvimento, em todos os períodos do ciclo de vida existem forças e vulnerabilidades durante os quais poderão ocorrer alterações não adaptativas.
Considerando que a nossa saúde psicológica é influenciada por fatores biológicos, emocionais, físicos, socioeconómicos e pelo ambiente e, perante jovens numa fase desenvolvimental em que o bem-estar está muito ligado às experiências de vida e às relações interpessoais, os pais devem estar atentos aos sinais que indiquem que algo não está bem com os seus filhos para evitar o seu agravamento e para uma intervenção mais eficaz por um técnico especializado.
São exemplos, a irritabilidade constante, o uso excessivo dos jogos, do telemóvel ou do computador, o afastamento dos colegas, a ausência de apetite, a falta de vontade de estar com a família, a agressividade, o isolamento, etc.. Por outro lado, importa fortalecer os fatores protetores que ajudam a gerar saúde psicológica, incluindo a criação de proximidade dos pais com o jovem, o incentivo a relação com os pares e uma boa comunicação familiar.
O que fazer para promover a saúde mental dos adolescentes?
Procure reduzir o preconceito ligado à doença mental e fale sobre a saúde mental envolvendo todas as dimensões da nossa existência, como as relações, a escola, as condições de vida, o sono, etc., e como é importante estar atento ao nosso bem-estar físico e mental e pedir ajuda quando perceber que algo não está bem. Ao explicar a importância da saúde mental, está a ensiná-lo a normalizar, respeitar e aceitar as suas emoções e fragilidades, bem como as dos outros.
Não fique à espera que sejam os outros a falar sobre a saúde e doença mental com os seus filhos.
Explique que todas as emoções são válidas e devem ser vividas sem receio, mesmo a raiva ou a tristeza, que as pessoas erroneamente tentam evitar sentir. Naturalmente, a expressão das emoções negativas deve acautelar o prejuízo do próprio e dos outros.
Transmita e sirva de exemplo ao jovem sobre o equilíbrio entre as tarefas da escola/trabalho e o bem-estar. Um adolescente pode ser muito bom aluno, mas se estiver isolado ou deprimido não está a ter um desenvolvimento pleno.
A nossa saúde psicológica depende também das relações interpessoais e do convívio. Estar com os pares é essencial para o equilíbrio emocional dos adolescentes, por isso, importa haver espaço para possibilidade de expandir competências sociais e emocionais através da interação social, da comunicação, da partilha, das atividades físicas e lúdicas.
Incentive a participação do jovem em atividades artísticas porque revelam um potencial para o seu desenvolvimento cognitivo, emocional e físico.
Estabeleça expectativas e objectivos razoáveis e realistas acerca do desempenho académico da criança/jovem e comunique-os ao seu filho. Além disso, elogie o seu esforço e ajude-o a lidar com as dificuldades de uma forma positiva centrada na resolução e não na repreensão.
Desenvolva a resiliência, orientando-os a prestar atenção aos seus sentimentos e necessidades e também dos outros; fomentando relações positivas com familiares e amigos que os ajudem a pensar e a lidar com os desafios dos dias bons e menos bons; investindo em coisas que dão sentido e propósito à vida; aceitando que nem tudo está sob o nosso controlo e que a incerteza faz parte da vida; cuidando do nosso bem-estar, e recorrendo ao humor sempre que possível.
Envolva o jovem na criação de soluções e na tomada de decisões criando um espaço para que ele sinta que tem voz na família. Por outro lado, ele também deve ser um veículo através do qual possa partilhar boas práticas junto dos seus pares.
Incentive-o a envolver-se em projetos de cidadania ativa, com responsabilidades que promovem a autonomia e dão a possibilidade de organizar e gerir o seu tempo.
Ajude o jovem a manter padrões de sono de qualidade e, se for preciso, não o deixe levar o telemóvel para a cama à noite até que seja capaz de se autorregular. As crianças e os jovens em idade escolar precisam de dormir entre nove a 12 horas à noite. A falta de sono irá prejudicar a atenção às aulas, causar irritabilidade e um comportamento desajustado. Crie uma rotina para a hora do deitar que permita às crianças e aos jovens relaxar o corpo e a mente.
Crie uma rotina familiar com momentos em que estão juntos e momentos em que cada um tem o seu espaço. Os adolescentes precisam e gostam de ter momentos seus e isso contribui para a autonomia.
Finalmente, oriente o jovem para usar os seus esforços para a realização das suas capacidades e necessidades, bem como para as necessidades de crescimento coletivo. Os jovens precisam ser desafiados a olhar mais para o outro desviando-se do seu umbigo para poder viver de forma mais social e interessada na procura de significado para a vida.
Vera Ramalho