Durante três dias, de 19 a 21 de outubro, jovens acolhem outros jovens e põem-nos em contacto com escritores, ilustradores, músicos, autores de BD, profissionais de rádio e contadores de histórias. Sempre com as palavras e os livros em fundo. Estão programadas múltiplas actividades para conquistar para a leitura um grupo etário que dela tende a afastar-se — dos 12 aos 19 anos.
“É um festival feito por jovens e para jovens e que pretende explorar e valorizar a palavra escrita, falada, cantada, dançada”, diz Graça Carvalha, directora do Agrupamento de Escolas Carlos Gargaté, da Charneca de Caparica, e que integra a equipa coordenadora do projecto internacional de leitura Read On (Reading for Enjoyment, Achievement and Development of Young People), que junta sete parceiros europeus.
O encontro no Solar dos Zagallos (Sobreda) é gratuito, começa nesta sexta-feira às 10h, com a apresentação do livro Água Doce, Fluir com o Rio, e encerra no domingo, às 21h, com o concerto do grupo de rock Tontos. Pelo meio, haverá workshops de ilustração, desenho, escrita criativa, música e BD, gaming e multimédia, formação ambiental e clubes de leitura.
“Os miúdos no 1.º ciclo leem bastante, leem muito em casa com os pais; no 2.º ciclo, vão lendo um bocadinho menos e, depois, chega ali uma fase da adolescência em que deixam de ler”, explica João Paulo Proença, coordenador interconcelhio para as bibliotecas escolares dos concelhos de Almada e do Seixal e que participa na organização do festival.
Conta ainda: “Os professores perguntam-se como é que podem pôr os alunos jovens a ler. E foi assim que sete parceiros de seis países resolveram fazer um projeto europeu na área da leitura. Cinco desses países fazem há vários anos festivais de literatura: Itália, Espanha, Noruega, Inglaterra e Irlanda. Os outros dois parceiros são uma escola secundária na Noruega e a Escola Básica Carlos Gargaté, que promovem outras atividades durante todo o ano.”
O professor bibliotecário sente e observa diariamente esse afastamento dos adolescentes da biblioteca. “Nessas idades, a leitura torna-se quase uma obrigação. Os professores de língua, sobretudo, indicam os livros mas não apoiam muito a leitura, que é o que as bibliotecas procuram fazer, proporcionando uma oferta diversificada que apele ao gosto pela leitura e pelos livros.”
Dez minutos de leitura por dia
Graça Carvalha, professora de Físico-Química, espera que o festival “perdure no tempo e atraia muitos jovens de Almada, mas também da área metropolitana de Lisboa”. Entre as iniciativas que fazem parte do projeto que acolheu no seu agrupamento desde o ano letivo passado, destaca a que introduziu a prática de os cerca de mil alunos – do pré-escolar ao 9.º ano de escolaridade – lerem dez minutos por dia durante as aulas.
“Fiz as contas e é o equivalente a ter uma disciplina anual de 50 minutos”, explica a diretora. A leitura faz-se em qualquer disciplina, roda os três turnos da manhã e da tarde e cada aluno escolhe o que lê e o suporte em que lê. Podem trazer livros de casa, requisitar na biblioteca ou recorrer à cabine telefónica desativada que foi transformada em depósito de livros, jornais e revistas.
“Houve alguma resistência sobretudo da parte dos professores de Matemática e de Educação Física. Sentiam que estavam a perder tempo, mas rapidamente perceberam que não era assim”, conta Graça Carvalha e acrescenta: “Os miúdos aderiram de tal maneira que, se um professor se esquece de que é na sua aula que está destinada a leitura, eles lembram-lhe.”
A professora conta ainda que, nas “turmas com tendência para comportamentos desviantes, este momento inicial de leitura ajuda a que os alunos se acalmem”, tornando mais fácil ao professor seguir depois com a lição. Sabe que há alguns alunos “que fingem que leem”, mas a maioria “lê mesmo, até aqueles para quem isso antes era impensável”.
Duas centenas de alunos leram mais de cinco livros
João Paulo Proença dá-nos conta do balanço desta iniciativa, que foi apresentado aos professores do agrupamento em julho deste ano.
Os testemunhos de 580 jovens abrangidos pelos dez minutos de leitura completaram deste modo a frase “com esta iniciativa melhorei”: o gosto pela leitura (50%), a concentração (46%), o vocabulário e a compreensão (42%), a forma como escrevo (33%).
Desde o início da atividade (ano letivo de 2017/2018), uma percentagem de 25,7% (229 alunos) leu mais de cinco livros; 30,5% leram três a cinco obras; 39,5% leram de um a três títulos e apenas 6,2% (36 alunos) não leram qualquer obra.
Os livros que leem são sobretudo os que levam de casa, 18% requisitam na biblioteca e poucos recorrem à “cabine telefónica”, somente 8%. A maioria prefere ler nas aulas da manhã, 8h15 e 10h05.
João Paulo Proença partilha (...) algumas das reações dos alunos: “Eu acho que é uma iniciativa muito boa porque toda a gente deve ler. Os alunos devem ler para melhorar o bem-estar da aula, a concentração, o gosto da leitura, o seu vocabulário... A leitura deveria ser de 20 minutos”; “com os livros, nós aprendemos novo vocabulário e dá-nos imaginação”; “em tempo de aulas, termos mais tempo para ler [é] algo muito importante para o nosso desenvolvimento pessoal e educativo”; “podíamos relaxar um pouco antes de a aula começar, e também ajuda em relação às aulas de Português, porque a cada período tivemos de fazer apresentações orais sobre um livro que tenhamos lido, e assim aproveitámos para apresentar o que lemos nestas atividades”; “incentivar as crianças a experimentar outras formas de passar o tempo”; “[permitir] que a turma se conseguisse acalmar para termos uma aula como deve ser”. (...)
O projecto Read On é co-financiado pelo programa Europa Criativa, da União Europeia.
Fonte: Público
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