A internet veio para ficar. Os jovens são os consumidores diários com mais disponibilidade para estar online e também os mais vulneráveis a riscos e a possíveis danos.
Cumprem online uma das tarefas mais importantes para o seu saudável desenvolvimento: a socialização.
Pertencer a um grupo é imperativo. Estar sempre online é o principal requisito.
E assim vão deambulando entre uma socialização a que chamo de presencial e digital, isto é, uma socialização mista. Esta é a visão otimista e glamorosa do retrato da vida dos jovens.
O problema surge quando só apostam na socialização digital (dependência de estar online) e/ou apostam na socialização digital de forma a causar sofrimento no outro, ter um meio de diversão e tornarem-se populares (isto é, cyberbullying).
Os estudos e a experiência clínica apontam para um cenário terrífico nas teias relacionais entre jovens, que pertencem ou não à mesma escola, à mesma turma, ao mesmo ciclo de amigos.
O cyberbullying é uma realidade inevitável. Não há força física, não há medo da descoberta, não há feedback do sofrimento da vítima, e existem muitos seguidores, uns que estão do lado do agressor, outros que defendem a vítima e, também, os indiferentes. Mais raramente existem os defensores, aqueles que tentam interceder a favor da vítima.
É uma forma de diversão realizada pelos cyberbullies, que se apresentam como frios e poderosos, com uma identidade falsa ou, por vezes, fazendo-se passar por incógnitos, e que assim se tornam muito populares e temidos.
O bullying ganhou uma nova ferramenta de atução, as tecnologias de informação e comunicação, e está só à distância de um click. É mais fácil e rápido de pôr em prática.
Até podem ser desencadeadas situações de bullying face a face, mas rapidamente ganham outra dimensão online.
O cyberbullying surge nas redes sociais, nas mensagens, nos blogues, no e-mail. Pode surgir de várias formas: pela passagem de informação ou imagens privadas (que podem ser de cariz sexual), tornadas acessíveis a todos, pelo envio repetido de mensagens agressivas e de humilhação, revelando ou não a identidade, pela exclusão de um determinado grupo e pelo roubo da identidade, de forma a enviar informação que danifique a reputação.
Tudo fica registado, para sempre. Uma espécie de pegada digital, com contornos muito negativos e nefastos para as vítimas. Este aspeto está longe de ser consciencializado pelos jovens. Não têm noção de que o impato está para além daquele dia, daquele mês, daquele ano.
Um dos fatores que mais contribuem para a existência do cyberbullying são as rápidas competências tecnológicas que os jovens adquirem, e as dificuldades no desenvolvimento de competências sociais e relacionais, exponenciadas pela falta de apoio familiar e da comunidade escolar envolvente.
Há um trabalho importante a fazer com os jovens, os pais e os professores para um rastreio precoce do cyberbullying.
É muito importante que o jovem tenha um espaço para falar do que se está a passar, como se está a sentir, que estratégias já possui e quais deverá desenvolver para enfrentar a situação.
O silêncio é o pior remédio. Mas muitas vezes é aquele que é mais usado. Faz aumentar o cyberbullying para proporções de sofrimento inimagináveis.
As alterações nos resultados escolares, no comportamento em casa e na escola com os amigos e na sala de aula são importantes sinais de alarme.
Às vezes, o cyberbullying é a ponta do icebergue, de outras vulnerabilidades que os jovens apresentam: agressores e vítimas. Todos apresentam características de certa forma semelhantes, relativas à escassez de apoio familiar e nas dificuldades nas relações com os pares, uns por maior isolamento, outros por guerrear o poder.
Todos precisam de ajuda!
Ivone Patrão
Fonte: DN por indicação de Livresco
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