A situação que passarei a relatar é verídica e, ao escolhê-la, tenho um objetivo muito preciso: refletir sobre um equívoco frequente, que ataca de uma forma grave muitos pais!
Os pais de que vos vou falar são genuinamente preocupados e procuraram apoio, porque realmente sentem uma grande necessidade de ajudar o filho, que frequenta o 3.º ciclo e está, segundo eles, verdadeiramente desinteressado da escola. O motivo do desinteresse também está identificado por estes pais: os professores, para penalizarem o comportamento incorreto do filho e as atitudes negativas por ele assumidas na aula, têm vindo a atribuir notas na pauta abaixo do que seria de esperar, atendendo aos resultados obtidos nos testes. No discurso destes pais havia uma crítica implícita dirigida aos professores, porque não eram mais condescendentes com os comportamentos do filho e, ao não lhe atribuírem notas compatíveis com as obtidas nos testes, só contribuíam para a sua desmotivação.
Pelo que entendi e pelo que pude averiguar, esta intolerância dos professores deve-se ao facto de se tratar de um aluno inteligente e com todas as potencialidades para alterar os ditos comportamentos. Há um relatório médico a que os pais se agarram para justificar os comportamentos do filho, desfocando toda a realidade. O que o relatório refere é uma patologia. O comportamento deste jovem ultrapassa a patologia referida e toca frequente e claramente a má educação. O certo é que, em termos práticos, os pais agarram-se ao relatório, como náufragos, em busca de uma explicação, e este jovem vai reforçando a ideia de que o erro é efetivamente dos professores, pois, no fundo, é esta a leitura que as figuras parentais fazem desta situação.
Lá muito no fundo, estes pais até admitem que, efetivamente, a alteração do comportamento deste filho é algo importante. Partindo deste ténue pressuposto, procurei perceber o que é que, em termos práticos, têm feito para promover a mudança do comportamento do filho: ralhar com ele..., ralhar, ralhar, ralhar e nada mais. Esta estratégia, apesar de não ter tido qualquer efeito prático, não foi sujeita a nenhuma alteração, porque estes pais, tal como muitos outros, vivem na esperança de que a mudança ocorrerá com o crescimento! Se soubessem que no ensino secundário e até no ensino superior há alunos a serem expulsos da sala de aula por não se saberem comportar, talvez a sua esperança diminuísse e começassem a pensar que provavelmente a solução implica a alteração do estilo educativo tão permissivo, que hoje, de forma tão inconsciente, é usado!
Recentemente dizia uma professora, que é uma excelente profissional, em tom de desabafo: "Hoje em dia já tolero tudo, só não consigo tolerar a falta de educação". A desmotivação da classe docente passa também muito por aqui, por terem de se confrontar diariamente com a falta de educação dos alunos que, de forma frequente, é legitimada pelos pais. Quando os pais responsabilizam a escola e os professores pelos problemas dos filhos, não procuram uma atuação concertada para encontrar conjuntamente soluções e os resultados estão à vista! Em muitas situações, se os pais se aliassem aos professores, verdadeiros milagres ocorreriam. O problema é que se anda à procura de culpados e não de verdadeiras soluções!
Mas, afinal, qual é o grande equívoco a que faço referência no início? A dádiva que não é acompanhada de exigência. Atualmente, em termos educativos, os pais dão muito, dão mesmo o que não podem dar... o problema é que não exigem o que deveriam exigir e sem exigência não há mudanças!
Adriana Campos
In: Educare
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