Miguel Neiva criou um sistema universal de identificação de cores que permite aos daltónicos superar as dificuldades do dia a dia.
São essencialmente homens. Veem a cores, mas com as suas cores. Têm dificuldades em conjugar roupa e até uma partida de Uno pode ser um problema. A disfunção que têm é conhecida por daltonismo e, apesar de não ter cura, os daltónicos podem agora respirar de alívio. Em causa está uma invenção portuguesa que atribui um símbolo a cada uma das cores primárias, e as restantes são etiquetadas com símbolos que resultam da mistura dos símbolos primários.
A empresa responsável por esta inovação é a Coloradd e os resultados foram já aplicados em alguns dos piores quebra-cabeças para daltónicos. O sistema de triagem do Hospital de São João que é feito por cores, as linhas do metro do Porto ou até mesmo os lápis de cor da Viarco são alguns desses exemplos de aplicação do sistema universal de identificação de cores.
Para Miguel Neiva, designer e criador deste novo código, o sucesso da ideia está para além do esperado. "Como designer, procurei apenas um tema para a tese de mestrado que pudesse contribuir para o conceito de design inclusivo e por isso lembrei-me destas pessoas que são discriminadas diariamente por algo que não é visível a olho nu e de que não têm culpa", adverte.
A ideia é simples: cada uma das cores primárias - amarelo, vermelho e azul - tem um símbolo próprio. As imagens que identificam as restantes cores provêm da junção dos símbolos das cores primárias que lhes dão origem. Na prática, o verde é identificado por uma imagem que corresponde à junção do símbolo do amarelo com o do azul.
Ainda que em muitos casos os daltónicos não sintam grande discriminação, este designer diz ter conhecimento de histórias terríveis a esse nível.
"Não podemos esquecer que este problema, que atinge cerca de 10% da população masculina, significa em alguns casos muita violência psicológica", diz, adiantando que quem vê um cego mal vestido atribui o episódio ao seu problema visual mas quem vê um daltónico mal vestido justifica-o com "o mau gosto daquela pessoa".
"Num dos muitos depoimentos que recebi, um padre contou-me que só passou a ter paz quando começou a usar a batina, porque assim deixou de correr o risco de andar mal vestido e de ser gozado pelos outros", revelou o criador deste código universal.
Esta disfunção, vulgarmente conhecida por daltonismo - alusão a John Dalton, o ciêntista que estudou o porquê de confundir as cores -, por motivos genéticos, raramente atinge mulheres. Estima-se que só 2% do total de daltónicos sejam mulheres.
Apesar da pouca expressão percentual, existem no mundo inteiro milhões de daltónicos que poderão ser beneficiados com este código. Para o autor deste sistema o exemplo mais flagrante é o mercado de roupa no Brasil, onde todos os anos saem dos bolsos de daltónicos cerca de 13 milhares de milhões de reais, mais de cinco mil milhões de euros.
É por isso que Miguel Neiva ganhou o reconhecimento da comunidade científica, que até hoje havia sido incapaz de arranjar uma solução para quem confunde as cores.
O estudo durou cerca de oito anos e houve desde o início uma grande preocupação com a universalidade do código.
Por oposição a sistemas como o braille, este novo código será igual em todos os países. "Há já interesse de alguns grupos em que este código de cores seja utilizado pelos cegos visto que, em braille, as cores se escrevem de forma diferente de país para país. O objetivo do também sócio maioritário da Coloradd é que cada peça de roupa, cada sinal de trânsito, cada lápis de cor seja acompanhado deste código. A partir daí, basta que os daltónicos conheçam os símbolos para que possam começar a ver as tonalidades que deveriam ver no dia a dia, mas que, dado o seu problema, lhes passam ao lado.
In: DN online
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