É caso único na Europa. Congresso alerta para o desperdício de talento que, sem apoio, será formatado pelas escolas até à normalidade.
Quantos alunos sobredotados estão nas escolas portuguesas é um cálculo que só se faz por aproximação. Os professores não ouvem falar deles durante a sua formação, o ensino não consegue identificá-los e, no plano legal, nem sequer têm direito a existir. “Não há um decreto. Portugal é, aliás, caso único na Europa”, conta Cristina Palhares, da Associação Nacional para o Estudo e Intervenção na Sobredotação (ANEIS), que promove hoje em Braga o segundo dia do congresso internacional “Sobredotação e Talento – Atenção da Escola à Diversidade”.
Ao não haver “suporte legal”, não há também maneira de promover formação, desenvolver currículos adaptados ou direcionar os recursos das escolas para apoiar esta população. Saber quantas crianças sobredotadas vivem em Portugal não tem uma resposta direta. Estima-se que sejam 3% a 5% da população mundial: “Num universo de mil alunos de uma escola, serão 50 crianças, mas não estão minimamente identificadas.”
Lá fora é diferente e o congresso da ANEIS trouxe dois exemplos que poderiam ser adotados nas escolas portuguesas. Brasil e Espanha têm estas crianças inseridas no grupo de alunos com necessidades educativas especiais: “Estes meninos são acompanhados pelos mesmos professores que apoiam as crianças com deficiências.” Isto faz todo o sentido, defende Cristina Palhares. Por serem diferentes da norma, precisam de atendimento especializado.
Falta de legislação e incapacidade das escolas de sinalizar crianças sobredotadas têm consequências, embora seja difícil algum dia virmos a saber quanto talento o país desperdiça. Como tudo na vida, a inclusão tem um reverso, avisa a secretária da direcção da ANEIS. E se, para o caso das crianças deficientes, estar nas mesmas turmas que outros colegas contribui por si só para subir o seu desenvolvimento, o mesmo não acontece com os sobredotados. “Se não existir um atendimento diferenciado, a escola vai formatando a criança até a normalização.”
Sem acompanhamento, a escola não faz mais que normalizar o talento que estas crianças desenvolvem mesmo em meios hostis. “Conheci um menino que sabia ler e escrever muitíssimo bem com cinco anos e não tinha um livro em casa. Há crianças que, mesmo em ambientes adversos, conseguem desenvolver os seus talentos.” Isso só não chega. Sem trabalho, o dom atrofia, como “qualquer músculo que não é exercitado”.
In: I online
3 comentários:
Vamos ser honestos e realistas. A lei apenas prevê para estes alunos os Planos de Desenvolvimento, que na maioria das escolas nem sequer existem em formulário... Depois se pensarmos na utilidade que têm os Planos de Recuperação e de Acompanhamento ficamos logo a perceber para que servem os outros... mais papelada e um monte de cruzes!
Penso que os Planos de Desenvolvimento não são solução para os alunos sobredotados. Considero que estes deveriam ter outras alternativas e, à semelhança do que já foi anteriormente, deveriam ser considerados alunos com necessidades educativas especiais. Desta forma, talvez a respostas fossem mais eficazes e a intervenção mais personalizada, com benefícios para os alunos.
Completamente de acordo, daí a minha crítica ao sistema actual...
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