sábado, 17 de outubro de 2009

Quatro rapazes e uma rapariga contam como é sofrer na escola

Quando Manuel Guerra, 18 anos, estudava na Escola Secundária António Arroio tinha como projecto escolar a realização de um filme. Optou por fazer um documentário sobre bullying, onde colegas da mesma escola de Lisboa contavam as suas histórias.
O documentário Alinha ganhou o 1º prémio na competição Primeiro Olhar de Viana do Castelo, onde era o único aluno do secundário a concorrer. O objectivo da obra, explica Manuel Guerra, que agora estuda no 1º ano da escola Superior de Teatro e Cinema, é deixar uma mensagem positiva e, ao mesmo tempo, crítica: "As pessoas acabam por ultrapassar o bullying e têm uma vida normal. Mas os professores e os pais têm de estar atentos". Para dar o alerta, Manuel conta a história de Diogo, Catarina, Francisco e Tiago.
Diogo culpava-se
Diogo foi vítima de bullying ao longo de todo o 2º e 3º ciclo e só quando foi para a Escola Secundária António Arroio deixou de ser o alvo dos colegas. Os episódios são vários, repetidos e prolongados no tempo. Um deles foi no recreio, quando lhe colaram um penso higiénico nas costas e, ao longo de todo o intervalo, foi motivo de gargalhadas dos colegas. Diogo recorreu a ajuda psicológica, mas o bullying deixou marcas e, ainda hoje, tem dificuldade em lidar com os colegas na escola. Tudo porque estava convencido que tinha culpa e desculpava o comportamento dos agressores. Como explica Manuel Guerra, "o Diogo, como tantas outras vítimas, pensava que era a razão de todo o mal, mas ele não tem culpa nenhuma e os agressores deviam ser punidos" .
Mário era gozado
Apesar da ser aparentemente forte, Mário era gozado, de forma continuada, por um grupo de alunos. Mas as agressões não se limitavam às palavras e acabavam, muitas vezes, em violência. Nessas alturas, Mário reagia à violência com violência, como explica Manuel Guerra, autor do documentário Alinha, "Se estão a atacá-lo, ele defende-se, mas o Mário percebe a diferença entre o bem e o mal." garante acrescentando que Mário não recorreria a violência gratuita.
Catarina vítima na net
Catarina tinha uma vida familiar estável e protegida, mas isso não a impediu de ser vítima de cyberbullying. Colegas da escola criaram, na internet, um fórum com boatos e publicaram uma montagem com fotografias da estudante. O bullying aconteceu enquanto andava no secundário, e até essa data nunca tinha sido alvo de qualquer tipo de agressão. Catarina acabou por pôr um processo aos autores do site, mas não resolveu totalmente a questão. "Estes problemas alastram-se muito mais facilmente. Isto passa por mais pessoas e fica a circular na internet muito tempo" explica Manuel Guerra, alertando para os problemas que as redes sociais, como o Hi5 ou o Facebook, podem trazer se não foram usadas com cuidado.
Francisco foi perseguido
Francisco, ao longo do 2º e 3º ciclo foi vítima de perseguição no percurso casa-escola. Durante os cerca de 30 minutos que demorava o caminho, era seguido por um grupo de rapazes que o atormentava e acabou por se isolar de todos os colegas. Quando mudou para a escola secundária e escolheu a António Arroio o bullying terminou e Francisco ultrapassou a situação. Hoje tem amigos, sai à noite e faz a vida normal de qualquer jovem da sua idade.
Tiago nasceu tímido
O Tiago é, ainda hoje, um "rapaz calado e muito inteligente" como descreve Manuel Guerra. Talvez por isso, era um alvo para os colegas que o viam como um aluno tímido, que não responderia às provocações. Acabou por se aplicar à pintura, como escape e forma de expressão. "Ele aprendeu a viver com as diferenças e descobriu que tinha qualidade" explica Manuel Guerra sobre o colega que conseguiu ultrapassar as sequelas deixadas pelo bullying.

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