terça-feira, 6 de outubro de 2009

Há 40 mil crianças Asperger em Portugal mas muitas abandonam escola na adolescência



Quarenta mil crianças e jovens portugueses têm síndrome de Asperger, uma perturbação do desenvolvimento que causa problemas de adaptação social e escolar que na adolescência podem levar ao abandono escolar.
Dar apoio a estes jovens é uma das prioridades da Associação Portuguesa de Síndrome de Asperger que hoje deu o primeiro passo para a construção do projecto “Casa Grande”, uma residência de formação e reinserção para portadores daquela síndrome. A partir dos 16 anos, explicou a presidente da associação, Piedade Líbano Monteiro, muitos destes jovens abandonam a escola, surgindo então os primeiros problemas na inserção na vida activa. As dificuldades de inserção profissional levam estes jovens à frequência de cursos de formação profissional, na expectativa de um emprego estável, mas sem êxito.

A “Casa Grande” é um projecto sonhado pela Associação Portuguesa de Síndrome de Asperger que pretende dar resposta a estas dificuldades e deverá abrir em 2012, com o apoio da Câmara de Lisboa. O sonho, explicou Piedade Líbano Monteiro, começou a realizar-se com a assinatura de um primeiro protocolo em Janeiro que a obrigava a conseguir 350 mil euros até Maio.

“Casa Grande” é o nome da residência de dois pisos que a APSA vai construir numa edificação em ruínas na Quinta da Granja de Baixo, em Benfica (Lisboa), destinada à formação profissional e reinserção social de 53 jovens com mais de 16 anos e portadores da síndrome de Asperger na Área Metropolitana de Lisboa.

A síndrome de Asperger é uma perturbação do desenvolvimento (espectro do autismo) que se manifesta por alterações na interacção social, na comunicação e no comportamento, mais comum nos rapazes do que nas raparigas. Os “aspies” podem ser excelentes na memorização de factos e números, mas têm normalmente dificuldade ao nível do pensamento abstracto.

Funcionamento cerebral diferente

Ao contrário dos autistas “clássicos”, que normalmente estão ausentes e desinteressados do mundo que os rodeia, muitos “aspies” querem ser sociáveis e gostam do contacto humano, mas têm dificuldades em fazê-lo. Com um funcionamento cerebral diferente, têm um gosto marcado por rotinas e um interesse obsessivo por determinados temas.

A “Casa Grande”, explicou Piedade Líbano Monteiro, vai por isso ajudar as empresas que venham a receber estes jovens, mostrando-lhes que podem ser os melhores profissionais da empresa desde que entendam a forma como funcionam. “Se prepararmos as empresas, mostrando que estes jovens e adultos são extremamente perfeccionistas nas áreas que dominam, apesar de socialmente não serem muito comunicativos, todos ficarão a ganhar”, disse.

Garantir a estes jovens maior autonomia com vista a assegurarem um projecto de vida próprio é o objectivo da casa - que também acolherá a sede da associação - e que “não será um local de permanência definitiva, mas um local de passagem no máximo por quatro anos e aberto à comunidade”. Cafetaria, esplanada, espaço de estudo, reprografia, espaço multimédia, lavandaria, engomadoria e arranjos de costura, oficina de recuperação e de encadernação de livros, galeria de arte, salas para artes plásticas contam-se entre as valências que a Casa Grande irá dispor para ensinar e dar formação profissional. Salas para formação musical, informática, estufa, horta e pomar biológico são outras das muitas valências projectadas para a casa.


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